terça-feira, 24 de março de 2009

Um subcentro para Viçosa

Ítalo Stephan e Paulo Tadeu. L. Arantes – professores do DAU/UFV

Para a visão de arquitetos e urbanistas, Viçosa está crescendo com um vigor econômico poucas vezes antes ocorrido. Podem ser vistas, por todo lado, construções de casas, prédios de apartamentos e lojas. É o reflexo de um crescimento alavancado pelos novos cursos da UFV e das faculdades particulares. Só que tal crescimento traz também aspectos indesejáveis. Um deles é a concentração de atividades na área central. A falta de planejamento traz outros problemas. Poucas cidades em Minas Gerais estão crescendo no ritmo de Viçosa. A população está aumentando, desde o ano 2000, em algo próximo a 3% ao ano. Considerando uma postura conservadora, isso quer dizer que até o ano 2015, cerca de noventa e cinco a cem mil habitantes estarão vivendo nesta cidade. Considerando que são acrescentados na cidade cerca de oitocentos veículos a ano e quase o mesmo número de unidades residenciais, até esta data estarão circulando em suas apertadas ruas mais de trinta mil veículos, situação essa agravada por uma excessiva verticalização na área central. Para resolver isto é preciso, urgentemente, redirecionar o crescimento da cidade, buscando outras áreas que tenham potencial para absorver estas novas demandas de espaço.
A área mais indicada, pelo menos para os próximos dez anos, para o crescimento situa-se na região norte da cidade, mais precisamente nas proximidades do bairro Silvestre. Mais para frente, um próximo vetor importante de crescimento de Viçosa será em direção a São José do Triunfo. Um dos argumentos mais fortes para justificar esta escolha da zona norte é que próximo dali está sendo implantado o Parque Tecnológico, um empreendimento que terá capacidade de receber até oitenta empresas de base tecnológica. O Parque Tecnológico é a grande oportunidade de aproveitar o fato de Viçosa ter a maior relação de doutores por habitante no Brasil. Até hoje, grande parcela do conhecimento aqui gerado vai embora, não fica aqui, não gera emprego ou desenvolvimento. O Parque Tecnológico é a melhor forma de aplicar as pesquisas aqui produzidas e transformá-las em desenvolvimento e empregos.
É nesta porção da cidade onde se instalaram faculdades que vêm crescendo ano a ano em número de alunos. Há, na área, infra-estrutura adequada: uma larga via, condições de suprimento de infra-estrutura de água e esgotos, além de alguns terrenos vazios. Mas o que seria necessário para que se estabeleça um subcentro? Muito pouca coisa: pode ser, por exemplo, a implantação de um supermercado de grande porte, uma agência bancária, um órgão público, ou qualquer outro empreendimento, não importa se público ou privado, que possa induzir o desenvolvimento daquela região da cidade. Para o primeiro item é necessário que se estabeleçam prioridades para que a iniciativa privada sinta motivada a fazer investimentos, o mesmo vale para o segundo ponto, ou seja, a ação do Poder Executivo local junto a um banco é fundamental. Já para o terceiro, é preciso que o Poder Executivo decida pela instalação ali da futura sede da Regional de Educação.
É importante lembrar que outras cidades brasileiras já passaram por esta situação. Foi assim, por exemplo, em Belo Horizonte, que a Savassi, uma simples padaria de bairro até final da década de 1970, tornou-se uma região que concentra hoje atividades comerciais, de serviço, de habitação e até mesmo um Shopping Center. A nossa vizinha desafogou o centro com o crescimento do bairro Palmeiras.
Para que o subcentro de Silvestre se consolide sem maiores problemas, são necessárias duas importantes ações. Primeiramente, que seja retirado o trânsito de veículos que apenas passam por Viçosa, na BR-120. Para tal, é necessário o projeto e a busca de recursos para construir uma estrada que passe por fora da cidade, de forma a ligar a rodovia nas proximidades do trevo para São Miguel do Anta, a algum lugar próximo ao Novo Silvestre, numa extensão não superior a oito quilômetros. Em segundo lugar, deve ser dada atenção ao trecho formado pelas ruas Gumercindo Iglesias, Beira da Linha e Misael Lustosa, que liga o bairro Amoras ao Silvestre. É uma área importante, com potencial para adensamento populacional, evidentemente desde que tenha garantida uma largura compatível com a condição de via coletora, para permitir a circulação de veículos em mão dupla e para garantir calçadas de largura adequada. A localização da sede da Regional de Educação será um pólo indutor de crescimento, por isso não deve ser instalada no centro nem na área do Colégio de Viçosa.
Com um subcentro comercial e de serviços, muitas pessoas terão menos necessidade de se deslocar até o centro, evitando assim congestionamento. Será possível morar um pouco mais longe, mas ter nas proximidades boa parte dos serviços, além de boa qualidade de vida.

2 comentários:

  1. Italo,
    Com a instalação do VLT, os dois centros estariam interligados, sem sobrecarregar ainda mais a Castelo Branco, e a UFV estaria ligada ao CENTEV e a todos os bairros ao longo da linha. Grande parte da população de Viçosa, inclusive os estudantes, se beneficiariam com esta solução.

    ResponderExcluir
  2. Um subcentro de serviçosa não retira o valor do centro real, ainda mais que o centro real, no caso de Viçosa, é uma área ainda de grande valorização pela localização da UFV. Um subcentro é um estímulo à ocupação, uma oportunidade que basta ser fomentada para que aconteça, mas não se pode esquecer das vias de ligação que é o que mantém todo o conjunto da cidade funcionando. O crescimento não deve ser um problema, mas uma oportunidade.

    ResponderExcluir