quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

2010 - Uma odisséia no planeta


Chegamos aos anos que a ficção científica dos meados do século XX tanto se debruçou.
Ainda não pusemos os pés em Marte, nem fomos à Jupiter. Não descobrimos nenhuma inteligência alienígena e ainda não temos robôs domésticos. Mas temos bons indícios de água na Lua e em Marte, sabemos que chove metano em Titã.
O mundo também não acabou, apesar de temos feito muitos abusos e parece que estamos colhendo tempestades, é só assistir aos jornais da TV.
Vivemos em um mundo real e um virtual.
Para os anos vindouros, a começar por 2010, precisamos ignorar as inúmeras previsões dos astrólogos e arregaçar as mangas, planejar muito para que tenhamos muitos momentos de felicidade.
Participemos mais do que se passa ao nosso redor, cuidemos das nossas cidades.
Cresçamos sem deixar injustiças sociais
e contas ambientais caríssimas para que nossos descendentes paguem.
Um excelente 2010!!!

domingo, 13 de dezembro de 2009

Livro recomendado: Cidades invisíveis

Livro de cabeceira para arquitetos e urbanistas.

Em As Cidades Invisíveis (1972), Ítalo Calvino imagina um diálogo fantástico entre "o maior viajante de todos os tempos" e o famoso imperador dos tártaros. Melancólico por não poder ver com os próprios olhos toda a extensão dos seus domínios, Kublai Khan faz de Marco Pólo o seu telescópio, o instrumento que irá franquear-lhe as maravilhas de seu império. Marco Pólo descreve cidades fantásticas, todas com nomes de mulheres. Descreve, sem ter isto como objetivo, características arquitetônicas e de urbanismo de cidades imaginárias como Fedora (cidade dos inúmeros planos não realizados), Zenóbia (trata das cidades que cancelam os desejos de seus moradores) ou de Otávia (cidade suspensa numa teia de aranha, onde seus moradores têm consciência dos riscos de crescer, uma metáfora ao desenvolvimento sustentável).

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

De Marte ou do Haiti?

Texto publicado em junho de 2006 no jornal Tribuna Livre de Viçosa
Tudo continua atual

Na última sessão da Câmara Municipal, realizada em 06 de junho de 2006, foi votada favoravelmente uma alteração da lei de Ocupação do Solo e Zoneamento de Viçosa para extinguir o afastamento de fundos de terrenos para uma grande parte da cidade. Embora o nosso parecer, juntamente com o do IPLAM fossem contrários, a Câmara julgou não haver nenhum perigo em aprovar a modificação. Só o tempo dirá se a decisão foi correta. O projeto foi aprovado por oito votos favoráveis, com apenas um voto em contrário.

Entretanto, nos incomodou profundamente a forma como fomos tratados – tanto o IPLAM como os professores da UFV – em um pronunciamento de um vereador, cujo nome não será citado (não é o primeiro a fazê-lo), bem como a passiva concordância dos demais presentes. O vereador comentou que propomos leis copiadas do primeiro mundo que não servem para Viçosa, que fazemos leis que servem para Marte mas não para nossa realidade. Foram comentários infelizes e agressivos. Há três aspectos que podem ser retirados da essência dessas declarações. O primeiro é que o vereador esqueceu que o PDV foi exaustivamente discutido e feito com ampla participação da população, de setores organizados e da própria Câmara. O segundo ponto é o que faz um vereador assumir publicamente que Viçosa não merece uma legislação de primeiro mundo? Isso nos leva a perguntar de qual mundo Viçosa merece uma legislação? Essa declaração mostra uma visão de inferioridade e reflete uma baixa auto-estima, pelo menos por parte do edil. Que tipo de pessoas este vereador representa com esta posição de inferioridade, esta aceitação passiva? Se merecemos uma legislação de Terceiro Mundo, como explicar os preços e os lucros de Primeiro – ou de fazer inveja aos capitalistas mais selvagens - que o setor imobiliário afere? Um terceiro aspecto é que o vereador parece desconhecer o que é uma legislação de Primeiro Mundo, em que as regras são muitíssimo mais exigentes, onde para se aprovar a construção de um prédio de vários pavimentos deve-se, dentre uma série de requisitos, ouvir a toda a população na vizinhança ou apresentar estudos de projeção de sombra nos arredores durante todas as estações do ano. O vereador parece desconhecer que também temos no Brasil uma legislação do nível do Primeiro Mundo, que é o Estatuto da Cidade, aprovado para corrigir aberrações urbanas como as que ocorrem em Viçosa.

Um último aspecto preocupante desse episódio é que em alguns meses chegará na Câmara um projeto de revisão do Plano Diretor, obrigatório para atender ao Estatuto da Cidade. Estarão presentes no projeto de lei instrumentos muito mais rígidos do que a limitação de uma determinada quantidade de pavimentos numa edificação. Um impasse se aproxima, pois as exigências do Estatuto, lei de Primeiro Mundo, não servem para Viçosa. Os munícipes não a merecem, já que têm de se submeter às leis impostas pela estúpida e suicida ganância do mercado imobiliário; têm de aceitar passivamente a ditadura de um setor que vai levando a cidade ao agravamento de problemas.

A Prefeitura de Viçosa e a UFV prepararão uma revisão obrigatória da legislação, a ser construída em conjunto com a população. Tais propostas de leis provavelmente esbarrarão em setores retrógrados que insistem em manter Viçosa em um processo de deterioração apenas para prevalecer interesses econômicos imediatistas, sem nenhum compromisso com o bem comum e com as futuras gerações. Enquanto isto, usam de artimanhas para colocar a população contra nossa atuação, acusando-nos de promotores do desemprego na área da construção civil. A ideologia daqueles que pagam muito pouco e ganham muito reverte o jogo, espalha um medo infundado e nos coloca como os sonhadores, como vilões a serem combatidos.

Vamos continuar a propor pelo menos algumas leis de “primeiro mundo”, porque acreditamos que assim deve ser a legislação urbanística para Viçosa, como para qualquer outra cidade brasileira. A prefeitura vai cumprir sua obrigação, mas antecipamos que poderá haver muita dificuldade na aprovação de medidas capazes de mudar os rumos desta pobre cidade.

sábado, 5 de dezembro de 2009

Exclusão perversa


Tenho, de minha casa, uma visão ampla e bonita. À noite, é ainda mais bela: vêem-se estrelas. O primeiro plano é de uma pequena vila, com algumas luzes. Mas na paisagem domina o verde. Há algumas casas, as ruas são asfaltadas.

Observa-se uma iluminação das ruas eficiente, que dá uma sensação de segurança. Mais ao longe, lá no alto dos morros que circundam o centro, podem-se observar casas, quase todas ainda com sua alvenaria aparente. Há mais manchas de vegetação, por vezes cobrindo um terreno inclinado demais para abrigar uma construção. Cada casa apresenta um ponto de luz fraco, que se soma aos muitos outros, formando uma silhueta ondulante e trêmula à noite. De lá, seus moradores têm também uma bela vista. Mas têm mais dificuldades e problemas que os moradores mais privilegiados do centro. Não se pode dizer que a qualidade das vias, calçadas, iluminação e de suas próprias residências é tão boa quanto a da área central. Nem sempre é fácil alcançar a parada de ônibus, nem sempre lá chegam com facilidade o caminhão da coleta de lixo, o caminhão de gás, uma viatura policial ou uma ambulância, quando mais se precisa. Nem sempre pode-se ir em busca de atendimento médico, escolas ou a alguma atividade de lazer ou de cultura. As limitações impostas pela idade, pelas necessidades físicas especiais, ou principalmente, pelas financeiras, cerceiam das pessoas os direitos de ir e vir, de viver plenamente a cidadania.

Um vento forte, um temporal, uma seca prolongada, uma chuva de granizo ou um sol a pino têm efeitos muito diferentes nestas partes da cidade. Enquanto uma assiste aos fenômenos meteorológicos de forma segura e confortável, pois sabe que vai passar; a outra se preocupa, fica sem água, sem energia elétrica, sem acesso por vários dias. Seus moradores às vezes adoecem, às vezes entram em pânico, às vezes têm a vida transformada por tragédias que não alcançam os de cá.

Os de cá e os de lá moram na mesma cidade, embora vivam em realidades diferentes. Os de cá, que podem até se importar com o que acontece com os de lá, mas não trocariam de lugar. Nesta cidade, e em milhares de outras nesse país, há esta divisão silenciosa, esta segregação perversa. Às vezes alguns dos cidadãos até escolhem se isolar nestas áreas distantes, fecham-se em muros medievais, levam consigo e seus familiares os gastos públicos da construção de uma infra-estrutura adequada de vias, iluminação pública e saneamento; instalam eficientes sistemas de segurança; chegam e saem de lá com seus automóveis individuais. Para isso, acabam empurrando quem morava onde agora estão, para mais longe, mais longe, longe dos que mandam e dos que consomem, longe ainda mais da cidadania. Desta forma, longe até da nossa vista, esquecemo-nos deles, pelo menos até que alguns de nós, eventualmente, precisemos de seus votos.

Quem pode mudar esta situação? Certamente não serão os do lado de cá, embora haja alguns que podem ajudar. A participação e a cobrança por políticas inclusivas são caminhos a serem tomados por quem quer mudar a cidade, ampliar a cidadania.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Sobre ciência e religião

http://wagbarart.files.wordpress.com/2008/05/universo.jpg

“A fé é poderosa o suficiente para imunizar as pessoas contra todos os apelos de piedade, de perdão, de sentimentos decentes humanos. Ela até as imuniza contra o medo, se elas honestamente acreditarem que a morte de um mártir irá levá-las diretamente ao paraíso. Que arma! A fé religiosa merece um capítulo para si mesma nos anais da tecnologia de guerra em pé de igualdade com o arco-e-flecha, o cavalo de guerra, o tanque, e a bomba de hidrogênio.” Richard Dawkins, O Gene Egoísta.

“A religião é um subproduto do medo. Na maior parte da história humana, ela pode ter sido um mal necessário, mas por que ela foi mais má do que o necessário? Matar pessoas em nome de Deus não é uma boa definição de insanidade?” Arthur C. Clarke, autor de 2001 - uma odisséia no espaço e Canções de uma terra distante.

"Desde que o universo tenha um começo, podemos supor que ele teve um criador. Mas se o universo é completamente auto-contido, não tendo fronteiras ou bordas, ele não seria nem criado nem destruído… Ele simplesmente seria. Que lugar há, então, para um criador?” Stephen W. Hawking, cientista Inglês.

“Existem muitas hipóteses na ciência que são erradas. Isso é perfeitamente correto; elas são a abertura para descobrir o que é certo. A ciência é um processo auto-corretivo. Para serem aceitas, novas idéias devem sobreviver aos mais rigorosos padrões de evidência e escrutínio.” Carl Sagan, autor de Cosmos.