quarta-feira, 10 de abril de 2013

A FÁBULA DE POLITICAGENÓPOLIS

Texto publicado no jornal Tribuna Livre, em  Viçosa, em 10 de abril de 2013.

Há muito tempo, em um reino distante, havia uma cidade chamada Politicagenópolis, onde quem mandava e desmandava eram os politiqueiros. Eles deitavam e rolavam nos lençóis de seda das mamatas e sabiam como transformar a prefeitura Casa da Mãe Joana em fontes inesgotáveis de vantagens pessoais. Afinal eles precisavam sobreviver às eleições e manter bem cuidados seus sitiozinhos de granito, blindex e churrasqueiras, para cuidar das gordas crias que continuariam a saga familiar para todo o sempre, se Deus quiser!

Para quem era amigo dos que mandavam e desmandavam sobravam muitos agradinhos. Era só deixar a coisa rolar, não prestar atenção aos que tinham fome, aos que eram analfabetos, aos doentinhos, aos viciados e aos chatos que só queriam o bem de Politicagenópolis.  Uma briguinha ou outra acalmava os chatos, mas isso pouco chamava atenção à grande maioria desinteressada em algo além dos seus umbigos.

Em Politicagenópolis havia uma tradicional universidade, mas, segundo quem mandava, ela mais atrapalhava que ajudava, pois trazia estudantes demais para a cidade. Por um lado era bom, pois eles compravam os apartamentos-caixote que os mui amigos dos que mandavam e desmandavam construíam às centenas, nos topos de morros, dentro dos rios, em cada cantinho que desse para enfiar um caixotinho. Mas os estudantes faziam muitas festas barulhentas e espalhavam muita sujeira nas ruas, um coisa terrível.

A universidade também tentava ajudar a cidade. Tentava não, ajudava de verdade, mas os que mandavam e desmandavam diziam que havia muralhas separando os dois e que isso não acontecia. Só que quem erguia os muros feitos com blocos de concreto ideológico eram os que mandavam e desmandavam na cidadezinha. Estes também acusavam a universidade de ditadora e de cobradora pelos serviços que prestava. Mas, na verdade, eles não gostavam de fazer serviços com a universidade, pois sabiam que não havia margem para que eles tivessem a chance de recebern grandes fatias de bolo, para alimentar suas fomes intermináveis causadas pelos intestinais vermes vermelhos e cabeludos da corrupção. Era melhor buscar serviços lá fora, de preferência na capital Pastelândia ou até mesmo em Mar de Rosas, a capital do reino, pois lá havia muitos amigões do peito, com quem podiam contar para o que desse e viesse.

Era cidade prá lá e a universidade prá cá. Assim as coisas andariam em Politicagenópolis, imunes às quebras de paradigmas. Parecia que essa situação nunca ia acabar e que os que mandavam e desmandavam seriam felizes para sempre. Os que mandavam e desmandavam permitiram que a cidade fosse inchando, o mesmo ia acontecendo com seus bolsos. Esticaram a cidade rica para cá, inventavam uma cidade que nem era cidade para os pobres prá lá. Puxaram a cidade para cima, construíram shoppings, postos de gasolina, prédios comerciais. Mandaram e desmandaram e foram muito felizes por gerações.

Por fim, onde um dia fora a próspera Politicagenópolis, nada mais havia de pé décadas depois, pois os rios tomaram seus leitos de volta, os morros desabaram, as frágeis construções se desmancharam, a universidade aos poucos foi sufocada e os que mandavam e desmandavam haviam ido curtir férias no Caribe, muito tempo antes de tudo se acabar. Quem se formou na universidade foi embora, os professores e a própria universidade foram procurar um lugar onde foram melhor aceitos.

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