domingo, 3 de agosto de 2014

SEM PROJETO, SEM GOVERNO.

Artigo publicado no jornal Tribuna Livre de 30/07/2014, Viçosa

Viçosa está sem governo. Viçosa não tem projeto. Quando é que Viçosa teve governo? Quando é que Viçosa teve projeto? Quando é que Viçosa teve um governo inteiramente dedicado ao município e não apenas aos interesses de uma elite de pequenos grupos de míopes dominantes? Quando é que Viçosa teve algum projeto que realmente trouxesse desenvolvimento para todos os munícipes e não ao enriquecimento de uma elite apenas interessada em seus negócios e na manutenção de seu status quo? A resposta é óbvia.  
Estamos atrasados nos serviços de saúde, educação, saneamento, infraestrutura, habitação social, transportes, desenvolvimento e cultura. Com raras exceções de um ou outro grupo que quer discutir, não há horizontes para uma cidade que se dispersa descontroladamente, que vê o meio ambiente ser impunemente destruído. O abastecimento de água pode estar sendo severamente comprometido. Não é a mera existência de um plano diretor, ou da sua dolorosa e arrastada revisão, ou da existência de um instituto de planejamento que garante algum avanço. Melhor dizendo, os horizontes são preocupantes, são estreitos, injustos para uma maioria, insustentáveis. Tem-se tentado discutir sobre a cidade, mas o ambiente politico miúdo, rasteiro e politiqueiro deixa a maioria das pessoas indignadas, mas sem reagir. Isso é muito pouco para uma cidade que está no limiar entre deixar de ser pequena e se tornar média, que tem a necessidade, já atrasada, de se desenvolver, de ser planejada competentemente para isso.

O ambiente está tenso, reduzido a um imbróglio político, a uma espera de decisão para dizer se um fica ou outro entra. Além desse atraso, muitos moradores não se mostram cidadãos, escondem-se na comodidade, na omissão. Desse grupo de moradores, fazem parte indistintamente pessoas com todos os graus de instrução, trabalhadores, profissionais do direito, da saúde, funcionários da construção civil, professores e administradores da universidade e das faculdades particulares. Falta a todos mais reclamação, mais participação, mais propostas e mais ação. Outro grupo menor, o dos omissos por conveniência, é daqueles que estão se beneficiando enormemente com a riqueza monetária e de patrimônio gerada pelo setor imobiliário. Isso reflete num domínio político atrasado, ultrapassado, cruel, nojento.

Isso é muito pouco, muito ruim para uma cidade como Viçosa. Nossa realidade não deveria condizer com uma cidade universitária, que possui muitos analfabetos; que vive sob os riscos da violência; que não possui atendimento médico minimamente aceitável; que é desigual nas condições de moradia e mobilidade; que não trata seus esgotos, não oferece lazer e cultura de forma democrática, e por aí vai. Temos enormes potenciais e oportunidades não aproveitadas como o conhecimento gerado pelas instituições de nível superior. Estamos numa fase em que cada um cuida de seu umbigo, do seu bolso, do seu projeto de vida. Sem projeto, a cidade, o município, em sua qualidade de vida, vai se deteriorando, à vista de todos, à inanição de muitos, ao enriquecimento de alguns e à revelia de poucos. Viçosa já perdeu muito com a falta de projetos e, como está, vai continuar a perder. É uma lástima.

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