terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Da fragilidade do ambiente

Artigo publicado no jornal Tribuna Livre de Viçosa-MG, em 26/11/2015

A recente tragédia do rompimento das barragens da Samarco tem sido assunto constante na mídia. Não é a primeira, nem será a última. É preciso que aconteça uma tragédia para aparecerem aqueles que alertaram para as ameaças, mas que foram ignorados. Os alertas não são levados a sério, pois quase e sempre esbarram nos interesses de uma elite, nas forças do poderio econômico.
Numa postagem vi que era hora de repensar a política de mineração.

Não, não é hora, essa hora já deveria ter acontecido há décadas.

Minas Gerais é um estado que tem na sua história a exploração até o esgotamento e parece que vai ser assim até exaurirmos nossas minas e nossas águas. Foi assim com a Vila Rica, tem sido assim com as mineradoras que cavoucam, levam as riquezas, geram sonhos e deixam pesadelos. Foi assim em Itamarati de Minas, onde exploraram a bauxita e deixaram na mão os moradores. A região de Congonhas sofre com a poluição do ar e com as doenças respiratórias, ameaçam o patrimônio histórico e deixam uma cidade com péssima qualidade de vida. Paracatu tem seu lençol freático contaminado pelo mercúrio. Lembrem-se do desastre ambiental em Miraí em 2010 e do desastre ambiental em Itabirito, em 2014.

Que política minerária é essa que temos? Vendemos minério barato para comprarmos aço caro. Pulverizamos minério, misturamos com amido e muita água, o suficiente para a bastecer 1,6 milhões de habitantes todo dia, e a bombeamos por ameaçadores minerodutos para os portos. Deixamos para trás centenas de represas que serão usadas até esgotarem suas capacidades. Os mineiros vivem sob constantes ameaças de rompimento de represas e minerodutos, de envenenamento do seu solo e de suas águas, tudo isso para gerar riquezas, concentrar riquezas. Os mineradores deixam a situação avançar até os limites, que mais cedo ou mais tarde sejam superados em vazamentos de dutos, em rompimentos de barragens. Há séculos os lucros são concentrados e os danos são repartidos com a população.

Um rompimento de uma represa com milhões de toneladas de lama carregada de metais não acontece por causa de imprevistos de acasos ou forças sobrenaturais. A técnica explica tudo, a ganância e o descaso deixam acontecer. Um rompimento de uma represa não é para alguns como se fosse uma descarga num vaso sanitário – deu a descarga os dejetos somem. A maior parte da lama não vai chegar o mar, é pesada, vai sedimentar e pavimentar o leito do rio Doce, mudando-o para sempre. O lamaçal esteriliza as margens, ao passo que já matou seus peixes e animais aquáticos, destruiu a vegetação; impediu o abastecimento de água, a produção de energia a irrigação dos pequenos agricultores; destruiu vilas, casas, comércios, ruas, automóveis, roupas, fotos, brinquedos, moveis, aparelhos eletrodomésticos. Destruiu relações, cimentou sonhos.   Não há dinheiro que pague isso, nem mesmo podemos ter a certeza que haverá dinheiro. As multas milionárias podem nem sequer serem pagas – a história nos conta isso - quem dirá as indenizações às famílias e municípios.  Não haverá solução a curto prazo, apenas pedidos dos irresponsáveis causadores da tragédia que os afetados tenham paciência. Há esperança em organizações e pessoas sérias que farão o possível para diminuir os danos, mas sem dúvida será um processo longo e penoso.

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