domingo, 30 de janeiro de 2011

Sete pecados


A ocasião da formatura de uma universidade é um marco importante. Sela uma fase e força o inicio auspicioso de outras. É um período de celebração justa por muitos motivos: sacrifícios por parte dos pais e dos filhos (separação, saudades, preocupação com o dinheiro, insegurança e dificuldades de adaptação) superação (amadurecimento, muitos estudos, adaptação), e alargamento das oportunidades de realização profissional. Festejar isso é mais que justo e muito esperado pelos estudantes, amigos e familiares. No entanto, há, nessa época uma exacerbação das coisas. Por um lado, há a colação de grau, o desejo de compartilhar a felicidade. Há um juramento ético que parece ser deixado de lado imediatamente após as cerimônias formais. Em um país tão católico e ainda marcado pelo contraste social, onde tão pouca gente alcança um título de nível superior, tem havido exageros. A atual forma é excludente. Dá até para dizer que os sete pecados capitais estão presentes e consolidados no processo da formatura, desde seu início e com seu ápice no grande baile. 

A  preguiça, que é negligência ou falta de vontade para o trabalho ou atividades importantes, ocorre quando, mesmo com obrigações como os trabalhos finais do curso, há o compromisso de arrecadar muito dinheiro em rifas, de promover as festas. Há a luxúria, que é o apego e valorização extrema aos prazeres carnais, à sensualidade e sexualidade; desrespeito aos costumes; lascívia. Está presente a gula, que é comer somente por prazer, em quantidade superior àquela necessária para o corpo humano. Há, nos bailes, um excesso de comidas e um enorme desperdício que duvido que ocorra em outros locais de um país e de um planeta altamente socialmente injustiçado. Segue a  avareza que é o apego ao dinheiro de forma exagerada, desejo de adquirir bens materiais e de acumular riquezas. Há uma competição fútil na comparação de quem faz o vestido mais bonito e mais caro. O quinto pecado é a ira que é a raiva contra alguém, vontade de vingança. Comparam-se penteados, maquiagens, joias, acessórios e marcas de uísque.. O sexto é a soberba, que é a manifestação de orgulho e arrogância. Comparam-se os sucessos dos que conseguiram um emprego dos sonhos ou uma vaga nos melhores mestrados, ou quem ganhou um carro ou uma viagem ao exterior. Por último, vem a  vaidade, que é a preocupação excessiva com o aspecto físico para conquistar a admiração dos outros. Todos querem participar da "melhor formatura de todos os tempos", marcados pela maior quantidade de gente, pela melhor banda, por arranjos florais mais sofisticados, pelas melhores fotografias, pela melhor marca de cerveja, pela maior diversidade do cardápio, com a maior quantidade de camarão, sorvetes, coquetéis ou de energéticos. Há, já desde o início, exclusão e discriminação sociais.Quantos estudantes ficam de fora de um baile pelo custo absurdo que muitos pais não podem arcar?


A conclusão de um curso universitário é, paradoxalmente, muito mais que isso. A importância da colocação no mercado de trabalho de pessoas qualificadas (com recursos públicos), mas com a ética como norteador essencial, é verdadeiramente, o que importa.


Aproveitando a oportunidade, gostaria de salientar que está na hora de passar a fazer uma celebração para cada centro de ciências. Isso seria bom para a cidade e permitiria fazer festas menos lotadas, mais democráticas e menos escandalosamente imponentes.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Viçosa?!

É nesta época do ano que temos de ouvir, e concordar, com os comentários dos muitos visitantes, parentes e amigos dos formandos, sobre o descaso com a cidade. Nos dias que passam aqui vivenciam as más condições das calçadas, das praças públicas, da pavimentação das ruas, que são de responsabilidade da administração municipal. Há também muitos prédios de qualidade arquitetônica ruim.  A comparação com o Campus da UFV é imediata.


Ficamos constrangidos, mas temos de concordar que a cidade precisa de atenção e muitas pequenas obras e cuidados. Infelizmente, a maioria que sai daqui leva uma impressão muito negativa sobre a cidade. A sorte é que os formandos levam uma carga emocional tão positiva que os liga para sempre à esta mal tratada cidade.
Vamos fazer alguma coisa?

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

O Buraco no Muro - Sensacional!

Vale a pena ver o vídeo:
http://www.youtube.com/watch?v=Xx8vCy9eloE 

Estação Cultural em Viçosa - uma ideia


Só para provocar.
É uma ideia para requalificar a Estação Cultural Hervê Cordovil, no centro de Viçosa.
A ideia consiste no fechamento em vidro da plataforma criaria um ambiente protegido para uma galeria (por exemplo); a remoção da atual edificação anexa  com a substituição por um volume simples, com a parede oeste com um mural, serviria para abrigar um espaço para a divulgação dos negócios  e eventos da cidade (diretório); a utilização da linha para o VLT e a construção de passeios, ciclovia e jardins daria uma dimensão humana e atual ao local; o auditório seria recuperado e a Biblioteca poderia permanecer, enquanto não há outro local. Um pátio entre as duas edificações funcionaria como anfiteatro para leituras e manifestações artísticas.
Sem vagas de automóveis.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

E aí, como fica?

O perigoso barranco da Av. Marechal Castelo Branco está lá, aguardando a quantidade certa de chuva para causar problemas. Cadê as autoridades para resolver essa situação que põe em risco pessoas? Já não temos tido lições suficientes?

sábado, 22 de janeiro de 2011

Construir no construído


Um dos maiores desafios da arquitetura é construir algo novo junto à uma edificação preexistente, ainda mais quando esta possui qualidades de um patrimônio histórico.
O Hotel Rubim, em Viçosa, é um prédio de interesse histórico e de uma boa arquitetura eclética. Não é tombado pelo município. Está nas áreas de proteção do entorno da Casa Arthur Bernardes, da Estação cultural e do Balaústre, bens tombados.
Recentemente foi apresentado ao Conselho Municipal de Cultura e Patrimônio Cultural de Viçosa um projeto arquitetônico que consta da manutenção do prédio e da construção de uma torre na parte do terreno hoje vazio. De bom o projeto mantém a edificação. De negativo, uma torre de doze pavimentos será incrustada nos fundos, sem estabelecer relaçao com o prédio .
Arquitetos mundialmente famosos como Norman Foster (foto acima - Hearst Magazine Building em Nova Iorque) e Paulo Mendes da Rocha (foto abaixo - Museu Nacional de Belas artes, no Rio de Janeiro) fizeram projetos com essas características em prédios históricos.


O que foi discutido no Conselho não foi a rejeição do projeto, pois o prédio não é tombado e não há argumentos econômicos suficientes para impedir que fosse feita a edificação. Como está na área de proteção da Casa Arthur Bernardes (tombado também pelo Estado/IEPHA-MG) pediu-se uma análise do órgão. Coube ao Conselho  tentar diminuir o impacto e de mudar um projeto que apenas aproveitava o quintal para um projeto que integre as duas edificações e valorize o belo prédio do Hotel.


Em uma oportunidade recente, tentou-se buscar um parceiro para preservar o hotel e incluir uma edificação baixa no quintal, integrada com o prédio (croquis acima). Não houve sucesso.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Estação em péssimas condições

Estação Cultural Hervê Cordovil, Viçosa-MG. Foto Ítalo Stephan, 2011

A nossa "Estação Cultural Hervê Cordovil" está em péssimas condições.  O telhado mostra partes  visíveis cedendo por causa da madeira podre. O telhado lateral sofre com peças amassadas e enferrujadas. O auditório carece de melhorias. O prédio ao lado é uma vergonha e deveria ser demolido ou totalmente modificado. O local é dormitório de sem-tetos e funciona como banheiro. O entorno é apenas estacionamento e local de lavadores de automóveis.
Está na hora de dar uma arrumada decente na área: limpar, recuperar o prédio, remover as barracas que não beneficiam a coletividade, fazer uma praça, organizar o estacionamento, retirando a maioria dele.
O local precisa ser requalificado. Tem 3 agencias bancárias na área e não custava arrumar umas parcerias para dar ao local o tratamento que ele merece.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

E a casa caiu...


Vai embora mais uma construção  térrea na Avenida Santa Rita. Caiu, ou "foi caída"? Vai ser penalizada por isto?  
O terreno não parece ter mais de 35m de profundidade até o córrego da Conceição. Vai ter mais alguma "compensação ambiental" para pagar para agredir o meio ambiente? 
Vem aí mais uma torre insossa.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Carta de apoio: O Balaústre é nosso!


Eis uma carta de apoio ao nosso movimento para preservar o "Balaústre":

Na qualidade de arquiteta e mais ainda de viçosense me sinto impelida a escrevê-lo. A expectativa da perda do balaústre me trouxe muitas lembranças e um bocado de tristeza. Ao balaústre estão conectadas muitas das minhas memórias afetivas de uma Viçosa que a cada nova visita constato que se esvai, às expensas do esforço de pessoas comprometidas. Alguns parecem perguntar qual o sentido da permanência de objetos de concreto pré-fabricados aparentemente comuns? Seriam eles o tributo ao mau-gosto, símbolos de uma cidade que não quer se modernizar? Como urbanistas, poderíamos afirmar que o balaústre é parte indissociável do crescimento urbano de Viçosa do século XX, do momento de chegada da linha férrea, com a qual tem relação intrínseca. É impossível pensar a linha do trem e antiga estação ferroviária sem o balaústre (e os trabalhos da Escola de Arquitetura e Urbanismo da UFV mostram isso com acuidade). É parte integrante da arquitetura dos belos casarões da avenida, aos quais confere destaque e valor, construídos pela elite que embelezava sua cidade. Do ponto de vista urbano é a ligação entre os bairros residenciais de classe alta (expandidos velozmente após os anos 60 e 70) com o centro comercial. É a nossa via monumental, diante da escala e proporção da cidade, do Hospital "Velho" com a bela Avenida Santa Rita. Integra a história urbana e arquitetônica de Viçosa, construída por gerações anteriores, mas vivenciadas por todos nós.


Portanto, de objetos aparentemente comuns, tornaram-se especiais, únicos.Mas, como cidadã, poderia responder que o balaústre das minhas lembranças de infância e adolescência tem inúmeros sentidos que gostaria imensamente de poder no futuro compartilhar ao vivo (e não por fotos desbotadas) com a geração vindoura. O balaústre dos casarões ecléticos, o balaústre a ser transposto, o balaústre de onde avistava o trem, o balaústre de onde se via quem passava na rua dos bancos, o balaústre que ritmava o percurso de carro, o balaústre onde se descansava, o balaústre de Viçosa. O balaústre é de Viçosa. É por essa razão não pode ser simplesmente apagado da paisagem urbana da cidade, pois sobre ele temos o direito à memória. Dele nos apropriamos cotidianamente com o passar dos anos e ele passou a fazer parte das nossas histórias, além de ser parte da história de Viçosa. É pelo direito à memória e em favor do direito das construções históricas que de manterem que existe secular campo disciplinar de preservação, regulamentado por cartas, decretos e leis. O Brasil tem tido, desde 1937, atuação exemplar neste campo, quer seja pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, quer seja pelos órgãos estaduais de preservação (em Minas Gerais o IEPHA, graças ao qual temos protegida por lei a Casa de Arthur Bernardes e seu entorno), quer seja pelo Ministério Público (aliado indispensável na causa do patrimônio cultural), quer seja pela fundamental ação dos conselhos locais de patrimônio e das universidades (que nos fornecem o conhecimento fundamental para o progresso).  Fico, portanto, na esperança de que o Conselho Municipal de Cultura e Patrimônio Cultural e Ambiental de Viçosa seja respeitado em suas decisões.

Flávia Brito
Arquiteta do Iphan-SP, doutoranda na FAU-USP

A força das águas

Praia do Forte em Cabo Frio-RJ. Foto Ítalo Stephan, 2011.

Em Cabo Frio, RJ, ainda são visíveis, nesse início de ano, os estragos da grande ressaca de abril de 2010. Sua força destruiu a orla e tudo teve de ser refeito. Muita areia foi removida do lugar. A faixa de areia ficou reduzida em toda a praia. Na duna próxima ao Forte São Mateus não há mais que dois ou três metros de areia.
É um sinal de que há uma evidente exacerbação dos ciclos naturais, com um toque (não sabemos ainda de que proporção) dos mal feitos humanos.
Para diminuir os impactos no futuro, que serão cada vez mais freqüentes e de maior força, é fundamental planejar.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Sujeira em Arraial do Cabo

Praia do Forno, Arraial do Cabo-RJ. Foto Ítalo Stephan, 2011.

Infelizmente, onde o homem chega, deixa suas marcas. Em Arraial do Cabo, RJ, a antes limpíssima praia do Forno foi invadida pelos turistas que lá deixam sacolas de supermercado agarradas aos cactus, garrafas plásticas, latas de alumínio e cadeiras estragadas nos meios dos arbustos.
Na mesma cidade, na Prainha, há vários cascos de tartarugas aprodrecendo.
Em todas as praias impera o mau cheiro de urina e fezes humanas.
Êta raça humana!

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Ano Novo, velhas tragédias


De novo só o estrondoso número de vítimas nos estragos das chuvas nas cidades serranas fluminenses. De velho as mesmas colocações: falta de planejamento urbano, falta de política de habitação, falta saneamento, falta de fiscalização, conivência dos políticos, desrespeito ao leito do rio, imprudência de quem ocupa encostas ou margens de rios.
Alguém falou na TV: "dizemos que nos nossos quintais passa um rio, mas é no quintal do do rio que colocamos nossas casas". Entra ano sai ano, as desgraças acontecem. Os políticos esquecem e a mídia acha outras tragédias para dar ênfase em seus noticiários. Lamentamos muito as tragédias de Petrópolis, Teresópolis, Nova Friburgo, São Luiz do Paraitinga, São Paulo, Belo Horizonte, Recife, Rio de Janeiro, Cataguases, Ilha Grande, Miraí, Santa Catarina, Salvador...
Onde será a próxima? As chuvas e enchentes sempre existiram. Muitas tragédias marcaram o passado mas o que está convergindo são os alertas de especialistas de diversas áreas. Não é possível continuar no mesmo padrão de comportamento. A cada futura tragédia, ela pode ser de conseqüências ainda mais graves. Há uma evidente exacerbação dos ciclos naturais com uma inequívoca contribuição da ação humana.
Nenhuma cidade está imune à força da natureza. Mas aquelas que têm topografia desfavorável, que têm ocupação nas encostas e nas margens de cursos  d'água são essenciais o planejamento, a preparação e o impedimento das ocupações irregulares.
Por um planejamento urbano e por uma gestão municipal  que impeça tantas tragédias!
Já passou da hora!

Foto:
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