quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Carta de apoio: O Balaústre é nosso!


Eis uma carta de apoio ao nosso movimento para preservar o "Balaústre":

Na qualidade de arquiteta e mais ainda de viçosense me sinto impelida a escrevê-lo. A expectativa da perda do balaústre me trouxe muitas lembranças e um bocado de tristeza. Ao balaústre estão conectadas muitas das minhas memórias afetivas de uma Viçosa que a cada nova visita constato que se esvai, às expensas do esforço de pessoas comprometidas. Alguns parecem perguntar qual o sentido da permanência de objetos de concreto pré-fabricados aparentemente comuns? Seriam eles o tributo ao mau-gosto, símbolos de uma cidade que não quer se modernizar? Como urbanistas, poderíamos afirmar que o balaústre é parte indissociável do crescimento urbano de Viçosa do século XX, do momento de chegada da linha férrea, com a qual tem relação intrínseca. É impossível pensar a linha do trem e antiga estação ferroviária sem o balaústre (e os trabalhos da Escola de Arquitetura e Urbanismo da UFV mostram isso com acuidade). É parte integrante da arquitetura dos belos casarões da avenida, aos quais confere destaque e valor, construídos pela elite que embelezava sua cidade. Do ponto de vista urbano é a ligação entre os bairros residenciais de classe alta (expandidos velozmente após os anos 60 e 70) com o centro comercial. É a nossa via monumental, diante da escala e proporção da cidade, do Hospital "Velho" com a bela Avenida Santa Rita. Integra a história urbana e arquitetônica de Viçosa, construída por gerações anteriores, mas vivenciadas por todos nós.


Portanto, de objetos aparentemente comuns, tornaram-se especiais, únicos.Mas, como cidadã, poderia responder que o balaústre das minhas lembranças de infância e adolescência tem inúmeros sentidos que gostaria imensamente de poder no futuro compartilhar ao vivo (e não por fotos desbotadas) com a geração vindoura. O balaústre dos casarões ecléticos, o balaústre a ser transposto, o balaústre de onde avistava o trem, o balaústre de onde se via quem passava na rua dos bancos, o balaústre que ritmava o percurso de carro, o balaústre onde se descansava, o balaústre de Viçosa. O balaústre é de Viçosa. É por essa razão não pode ser simplesmente apagado da paisagem urbana da cidade, pois sobre ele temos o direito à memória. Dele nos apropriamos cotidianamente com o passar dos anos e ele passou a fazer parte das nossas histórias, além de ser parte da história de Viçosa. É pelo direito à memória e em favor do direito das construções históricas que de manterem que existe secular campo disciplinar de preservação, regulamentado por cartas, decretos e leis. O Brasil tem tido, desde 1937, atuação exemplar neste campo, quer seja pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, quer seja pelos órgãos estaduais de preservação (em Minas Gerais o IEPHA, graças ao qual temos protegida por lei a Casa de Arthur Bernardes e seu entorno), quer seja pelo Ministério Público (aliado indispensável na causa do patrimônio cultural), quer seja pela fundamental ação dos conselhos locais de patrimônio e das universidades (que nos fornecem o conhecimento fundamental para o progresso).  Fico, portanto, na esperança de que o Conselho Municipal de Cultura e Patrimônio Cultural e Ambiental de Viçosa seja respeitado em suas decisões.

Flávia Brito
Arquiteta do Iphan-SP, doutoranda na FAU-USP

2 comentários:

  1. Aguinaldo por que voce não criticou o Raimundo quando era prefeito e aabou com viçosa. Será por ue voc fez parte da Administração dele.

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  2. Vc está muito desinformado. Primeiro porque este blog não é o meu. Segundo porque vc nunca deve ter lido o meu,como mais de 100mil pessoas já o fizeram, pois se tivesse lido não pagaria um mico deste "assinando" que é desinformado.
    Terceiro, as críticas, sugestões, ideias e opiniões que damos, não só eu mas os demais urbanista, independem de quem está transitoriamente no poder. Muitas delas são de décadas. Sugiro que vc se informe melhor para poder contribuir para o debate de nossa cidade. Aliás muita gente que chega ao poder acha que não aconteceu nada antes dele. História serve para isto.E por fim anonimato é covardia.
    Aguinaldo Pacheco

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