domingo, 24 de maio de 2009

Brasília - capital desumana

Ah, bela e inóspita capital nacional! Brasília, ícone dos preceitos do modernismo, cidade cheia de áreas verdes e vazios urbanos, não possui calçadas nem ciclovias. Só os brasilienzes gostam dela, onde tudo tem que ser feito via automóvel, onde o metrô passa por onde não tem gente. A cidade projetada para os automóveis já não suporta carregá-los nas suas avenidas de seis pistas. Há engarrafamentos por todo lado, até mesmo para a distante cidade dormitório goiana de Luziânia. A cidade que abriga belas obras do Niemeyer já abriga barracas e prédios pichados. A capital Patrimônio Mundial da Humanidade, que possui as superquadras deixou esquecer esta idéia brilhante e reproduz nas suas distantes cidades satélites o que há de pior: ruas sem pavimentação e sem saneamento, servindo à sub habitações ilegais.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Eu quero minha rua

As cidades são constituídas de prédios, lotes vazios, cursos de água, calçadas, ruas, áreas verdes, pontes e praças. Até de linhas férreas. Os prédios têm proprietários privados e públicos. As áreas verdes são destinadas à preservação de vegetação. Com a exceção de alguns condomínios horizontais, as demais partes são destinadas ao uso público, ou seja, ruas e pontes são territórios dos veículos, as calçadas e praças são espaços para o usufruto e a livre circulação dos pedestres, pessoas de todas as idades, inclusive as com algum tipo de limitação física. Viçosa possui ampla legislação destinada a definir as regras de uso dos espaços públicos, como passeios, praças e o uso para comércio ambulante, como a Lei de Parcelamento do Solo, o Código de Obras e o Código de Posturas. Há, no entanto, uma longa e crônica prática de transgressões às leis e desrespeito para com a sociedade. Como dizem alguns autores, “a propriedade de todos não pertence a ninguém, e aquele que for temerário o bastante para esperar a sua vez de usá-la vai descobrir que ela já foi tomada por outro”. Em suma, “tudo que está aberto para todos é desastrosamente vulnerável à esperteza” (Matt Ridley. As origens da virtude. São Paulo: Record, 2000).

Na nossa mal, muito mal, cuidada cidade, são inúmeros os impeditivos da mobilidade das pessoas. Os espaços destinados aos pedestres em Viçosa não são generosos, muito menos amistosos. Ao longo do tempo têm sido reduzidos, invadidos e ocupados por atividades e soluções privadas. Rampas de garagens interrompem as calçadas. Muitos terrenos, mesmo em bairros de gente rica, sequer possuem passeios. O que era para ser contínuo virou, em quase toda a cidade, uma sequência intransitável de degraus e buracos, onde jamais passam carrinhos de bebês ou cadeirantes. Sofrem os idosos que têm de caminhar nas ruas, em sua maioria, cobertas por pedra fincada, disputando espaço com automóveis, bicicletas e as atrevidas motos. Cadeirantes ou usuários de muletas ou andadores são praticamente impedidos de sair de casa. As calçadas são, em geral, estreitas e repletas de obstáculos: os inevitáveis postes, pontos de lotação, bancas de jornais, cestas de lixo e telefones públicos. Além de sujas, estão ficando engorduradas. A situação se agrava com a ocupação irregular por anúncios, entulhos de construção, mato, caixas de isopor, barracas, terra, tapumes soltos e lixo. Tem até geladeiras velhas! Há poucos exemplos de calçadas transitáveis em Viçosa.

Calçadas e praças vêm sendo loteadas e se tornam privilégios inexplicáveis para que um crescente número de comerciantes tome o que é dos cidadãos. Cidadãos que até deixam de lado seus direitos, não reclamam, por medo ou conformismo. Não era para ser assim. Dá para ser diferente. O que nos sobra é um mosaico descontínuo de patamares e passeios irregulares e pisos escorregadios, ou engordurados, quase armadilhas. Não há a menor graça perceber que, na Avenida Santa Rita (que era usada inclusive para caminhadas), na Praça da Matriz, no leito da via férrea e em tantas vias e praças urbanas o processo não parou, e ao que tudo indica, não vai parar. Mesmo na frente das Quatro Pilastras, em área da UFV, estudantes ocupam área pública para vender bebidas alcoólicas. Esses são apenas alguns exemplos de um processo disseminado por toda a área urbana. Se estiver errado - quem sabe esteja - gostaria de ouvir explicações sensatas dos calados responsáveis pela administração dessa cidade. Devíamos pedir explicações aos que se acham no direito de se apropriar do que é nosso. Mas o que falta é ação e defesa do cidadão que apenas quer ir e vir no que é seu de direito, à hora que quiser, mesmo que tiver limitações físicas temporárias ou permanentes.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Recuperação de um rio em Seul, Coréia

Vejam que obra revolucionária em:
http://theurbanearth.wordpress.com/2008/10/21/recuperacao-de-um-rio-em-seul-coreia/
O mundo tem jeito!

O Exemplo de Bogotá

Bogotá, a capital colombiana é uma metrópole com mais de 6,5 milhões de habitantes. Tem sido capa de várias matérias jornalísticas no mundo inteiro, por causa da revolução urbana pela qual tem passado. De uma metrópole violenta e desumana, em quinze anos, passou a exemplo a ser seguido em toda a América Latina.
Áreas deterioradas foram transformadas em parques, bibliotecas belíssimas (com ludoteca, um auditório, salas de projeção, várias salas de internet) foram construídas nas áreas pobres da periferia. Tais espaços valorizaram a dignidade humana e elevaram a auto-estima. A população recebe livros, distribuídos gratuitamente. Implantaram um sistema de ônibus semelhante ao de Curitiba, com ônibus expressos circulando em vias exclusivas, com pagamento antecipado de tarifas e embarque em estações elevadas. Mas acima de tudo isso, houve algumas mudanças muito importantes. Primeiramente, o prefeito, Enrique Peñalosa, conseguiu convencer a população de que os recursos públicos são fundamentais e com isso ampliou a arrecadação. Implantou um amplo programa de regularização .Declarou guerra ao automóvel, começou a tirar o espaço do transporte individual e focou no transporte coletivo e no incentivo ao uso de bicicletas. Acreditava que, na medida em que os mais ricos usarem transporte público, haverá mais pressão política para ele ter uma boa qualidade, que a única maneira para fazer grandes investimentos em transporte público é haver restrições severas ao carro particular. Para o ex-prefeito, os espaços públicos são o melhor meio de se superar as desigualdades sociais. Deixou de construir uma grande autopista elevada e, com os recursos, construiu um parque linear, que chamam de “recreovia”, de 45 km, retirou espaços públicos de estacionamento para a ampliação de calçadas e de ciclovias, investiu em saneamento básico e em melhorias de áreas de lazer. Onde não existia ciclovias, foram construídos 330km delas, integradas com terminais de transportes coletivos. Colocou mais pessoas nas ruas como uma das formas de diminuir a violência.
O prefeito não fez isto tudo de forma tranqüila. Chegou a ter 77% de rejeição, enfrentou um movimento pró-impeachment, que não vingou. Governou de acordo com um plano e uma missão de cidade, não governou sob pressões da elite. Melhorou a qualidade de vida de milhões de pessoas. A criminalidade caiu 78%.
As perguntas que podemos deixar no ar são óbvias. Se, em uma metrópole violenta e de muitas desigualdades foi possível. Em quinze anos, mudar tanto para melhor, porque, numa cidade muito menor e com muito menos problemas como Viçosa, não é possível reverter as más condições de mobilidade e dos espaços e equipamentos públicos? Não é possível que seus cidadãos se convençam de que é preciso ter uma cidade que priorize as pessoas e não os carros? Que é preciso ter mais áreas de lazer e destinadas à cultura? A linha férrea e o Ribeirão São Bartolomeu são dois potenciais inexplorados para ajudar a fazer esta mudança. Nesta cidade pequena, as pressões contrárias às prioridades aos pedestres, ciclistas e ao transporte coletivo seriam muito menores. Basta querer e começar.