segunda-feira, 30 de novembro de 2009

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Ruína - Alice Ruiz

Ruína (Alice Ruiz)

a ruína
é uma casa assombrada
por si mesma

suas janelas
dão pra dentro
de outro tempo

olhar por elas
é revê-las
(revelá-las)

quem a imitaria
tão bem
quanto sua sombra

que sombra
é aquela
senão a dela?

que luz a vela
e a leva até ela
que não existe mais?

Conheçam seu lindo trabalho
Alice Ruiz S
http://aliceruiz.com.br/poemas?page=1

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

A síndrome dos galpões

Vivemos, nestes tempos de praticidade e economia, uma onda de construções de péssima qualidade projetual e de resultados muito aquém do mínimo de qualidade. Alguns espertos construtores ou ingênuos empreendedores dão uma solução mágica para quase tudo que abriga alguma atividade humana: o galpão. Esta prática estrutura é geralmente formada de quatro paredes ortogonais, com poucas divisórias internas e um telhado de duas águas, sem laje e em poucas vezes com algum tipo de forro, tudo utilizando materiais construtivos dos mais baratos. Dentro desta descrição de espaço cabem muitas das atividades humanas. É galpão para armazenar, produzir, beneficiar produtos, criar animais, mas também tem servido para morar, estudar, trabalhar, se divertir. No sentido mais utilizado na hora de se pensar em um projeto o uso do termo tem apenas objetivo prático. Em muitos casos, utiliza-se a “solução” galpão apenas para diminuir os custos de projeto e da obra, de considerar apenas o volume interno que ele propicia, e deixar para dar um jeitinho nos outros detalhes depois. O pobre galpão tal como se quer é uma solução prática, na qual pouco se pensa na qualidade ambiental que seria capaz de oferecer, se projetado devidamente. Depois de pronto, é muito comum dar a ele uma “maquiagem” fazendo-o ficar bonitinho.

O galpão, no imaginário das pessoas, é uma construção barata e simples, prática e funcional; mas tem uma definição com dois sentidos opostos, que pode resultar em resultados bem diferentes. O galpão é a “solução” comum para depósito, galinheiro, indústria ou um ginásio para a prática de esportes. É uma solução normal e aconselhável, mas, atualmente num galpão também coloca-se para funcionar igreja, cinema, hospital, casa, escritório, escola, faculdade, sem considerar inúmeros aspectos relevantes para um adequado funcionamento específico, o que obviamente não pode se resumir a um galpão. O que mais se vê nos “galpões” é um padrão construtivo de baixa qualidade e de sofrível aspecto, que serve apenas para amontoar coisas e pessoas. Em Viçosa, há muitos deles surgindo, principalmente na avenida Marechal Castelo Branco. As construções são tão improvisadas quanto o movimento e o corte de terra executados.

Entretanto, é perfeitamente possível termos galpões bem projetados e que atendem adequadamente a função à qual foi projetada. Há bons projetos arquitetônicos que surgem a partir de um galpão ou que não podem deles prescindir, e a eles são acrescentadas boas soluções arquitetônicas, de climatização, ergonomia e tratamento de sua volumetria. São inúmeros os exemplos de uma boa arquitetura desenvolvida a partir da idéia de um galpão, dos quais pode-se citar: o belo prédio da TV Bandeirantes e o Centro de Convenções da Gameleira, em Belo Horizonte, utilizando criativa e amplamente a forma básica dos galpões, projetados arquiteto Gustavo Penna. No Espírito Santo, Alexandre Feu Rosa projeta e constrói magníficos espaços destinados à indústria de equipamentos eletrônicos.

Esta cultura local em que o galpão é um termo pejorativo, é um mau sinal de que estamos construindo um mundo medíocre, baratinho e supostamente bonitinho. A história da humanidade nos mostra magníficos exemplares de uma arquitetura que, por hora parece cair numa indescritível banalidade e repetição. A arquitetura de qualidade fica muito prejudicada e de acesso muito restrito aos que vivem fora dos centros urbanos mais importantes. O galpão, utilizado da forma aqui descrita, é o símbolo de uma sociedade que ignora a arquitetura que, na maioria das vezes pode e deve ser simples e acessível, que é capaz de ser elegante e que permite praticidade, conforto e qualidade. A arquitetura empobrece e o mercado de trabalho dos seus profissionais fica comprimido. As nossas cidades ficam mais feias e sem identidade. A arquitetura produzida nestes tempos será, no mínimo, desprezada intensamente e, certamente, muito criticada no futuro.

Concertos caninos

Começam invariavelmente em torno da meia noite. Talvez porque a essa hora os seres humanos diminuem suas atividades e cedem espaço para as manifestações dos outros coadjuvantes urbanos. É precedido pelo canto de alguns poucos galos ainda criados nas cidades. Um primeiro cão late umas quatro ou cinco vezes e aguarda. Um segundo responde, algumas dezenas de metros. Mas se segue um breve período de silêncio. O primeiro cão insiste, com mais ênfase. Aí sim outro cão aceita o desafio e responde. Para não ficar para trás um terceiro entra no debate, afinal de contas parece que estão querendo invadir seu território. Aí começa o inferno. Três, cinco, dez, vinte cães expõem, com vontade, todo o seu repertório. Passam minutos, muitos minutos e o barulho avança madrugada adentro.

Enquanto ladram, o barulho é às vezes sobrepujado por um eventual ronco de motocicleta ou um grito de palavrão de um mal-educado cidadão, cujos hormônios também afloram à superfície, como nos cães que captam no ar a presença de fêmeas no cio. Mas nada supera esse concerto insistente, desafinado, insuportável. Os donos dos animais já se acostumaram com os latidos e já não se importam, nem têm ao menos consideração com os vizinhos, que rolam em vão, nas suas camas, tentando dormir e que são vencidos apenas pelo cansaço, que se acumula dia após dia. Os donos dos cães não ligam, não procuram calar seus melhores amigos, deixam como está, se é que percebem tamanha falta de educação.

Na madrugada, depois que tocam os sinos da meia-noite, depois dos galos, os latidos percorrem todos os bairros da cidade. O concerto pára lentamente, quando os galos voltam a cantar com os primeiros clarões do novo dia, quando despertam as famintas maitacas, quando roncam os primeiros motores dos automóveis e coletivos. Aí, definitivamente os despertadores acordam as pessoas, muitas delas querendo espichar o sono, que só chegou depois de copos de água com acúcar, suco de maracujá, remédios para dormir, algodões nos ouvidos, viradas prá cá, viradas prá lá, travesseiros por cima da cabeça, passeios pelos corredores, colchonete na sala, colchonete no corredor, manobras acompanhadas maledicências dedicadas aos caros vizinhos. Os vizinhos, por sua vez, vão trabalhar para ganhar dinheiro para comprar ração para seus adorados animaizinhos de estimação.

O remédio é esperar o fim-de-semana para compensar o sono perdido na marra. Entretanto, não fica no ar espesso de sons apenas os latidos, uivos e ganidos. A companhia é de peso. Ecoam por todo lado os gritos das pessoas empolgadas com as festas animadas com churrascos, que espalham no ar o cheiro de lingüiça barata e carne queimada. As comemorações despejam no ar acordes altíssimos de música country, axé, pagode, funk, hip hop, techno bate-estacas, Mcs, DJs, caribó e forró. Músicas no mais alto volume são acompanhadas por gritos tribais e gritinhos desafinados. Batem-se portas de automóveis, os freios trabalham como nunca. Todo esse grotesco arranjo acaba por abafar os clamores dos mal-educados luluzinhos. Afinal é fim de semana e ninguém é de ferro.

sábado, 7 de novembro de 2009

Esqueceram de mim: o plano diretor de Viçosa encalhado


Encontra-se esquecido na Câmara Municipal o projeto de lei da Revisão do Plano Diretor de Viçosa. Enquanto a casa legislativa se ocupa com discussões sobre o destino do atual prefeito e distribui honrarias e homenagens (nada contra os escohidos), parece faltar coragem para discutir e votar o encalhado e já mutilado Plano Diretor.

Cadê o prefeito que não cobra a discussão do plano?

Onde estão os delegados eleitos que o discutiram e votaram?
Quem mais está cobrando isto da Câmara?
Onde estão os vereadores que nos colocam como grupo da "Ditadura da Academia", quando não dizemos o que eles querem ouvir ?
Onde está a Academia? Os estudantes?
Onde estão as tantas pessoas mestres e doutores que parecem não se importar com o destino da cidade?
Será que só interessa a alguns deles comprar apartamentos em cima dos córregos e ganhar mais um dinheirinho como aluguel a estudantes ?
Onde estão os empresários de visão, aqueles que realmente querem fazer alguma coisa de boa para o futuro da cidade? Será que esta discussão não os interessa?
Onde estão os promotores do meio ambiente, do Patrimônio, do Ministério Público?

Será que tudo está bem? Ou nada disso não nos diz respeito?

Já padecemos no trânsito, nas chuvas, no custo os imóveis, com a feiúra das ruas, com a sujeira, o desmazelo, a falta de fiscalização, das leis casuísticas feitas para favorecer a uns poucos interessados, e mais que tudo, a falta de projetos, de políticas públicas, de planejamento e de uma boa gestão. Qual é a visão de quem comanda este trem desgovernado?

Outros municípios estão programando suas Conferências da Cidade. O que estamos preparando para nós?
Se você não se importa com as pessoas, o inverso também pode ser verdadeiro.

domingo, 1 de novembro de 2009

Procura-se arquitetos

Aqui pode estar sua chance:

www.concursospublicosonline.com/.../Concursos.../Arquitetura/
www.arquitetura.arq.br/empregos
www.g1.globo.com/Noticias/Concursos_​Empregos
www.concursos.com.br
http://concursos.ig.com.br

Paradigma do automóvel


Eu e outros arquitetos, como o Aguinaldo Pacheco e o José Luiz de Freitas, defendemos que o paradigma do automóvel, ou seja, as soluções para o trânsito tendo como ponto de partida o transporte individual, deve ser revisto.
A solução é um conjunto de medidas nas quais a prioridade é o pedestre, a ciclovia, o transporte coletivo, o táxi e, depois de tudo, o automóvel particular.
Cobrir a linha férrea de asfalto é um erro sem tamanho. Criar estacionamentos em terrenos vagos é paliativo.
É claro que a cidade precisa ter mais vias para articular o trânsito, mas é preciso rever o que temos. Não está bom.
Alguns defendem que deve-se transformar ruas em calçadões na área central, além de acabar com vagas de estacionamento ao longo das vias.
É preciso garantir a mobilidade e acessibilidade para que hajam condições para que os pedestres e ciclistas possam caminhar ou pedalar seguros.
Esquecidos ou subutilizados são os amplos corredores da linha férrea e do Ribeirão São Bartolomeu, potenciais suportes para soluções para o trânsito e para a mobilidade.