20 novembro 2009

A síndrome dos galpões

Vivemos, nestes tempos de praticidade e economia, uma onda de construções de péssima qualidade projetual e de resultados muito aquém do mínimo de qualidade. Alguns espertos construtores ou ingênuos empreendedores dão uma solução mágica para quase tudo que abriga alguma atividade humana: o galpão. Esta prática estrutura é geralmente formada de quatro paredes ortogonais, com poucas divisórias internas e um telhado de duas águas, sem laje e em poucas vezes com algum tipo de forro, tudo utilizando materiais construtivos dos mais baratos. Dentro desta descrição de espaço cabem muitas das atividades humanas. É galpão para armazenar, produzir, beneficiar produtos, criar animais, mas também tem servido para morar, estudar, trabalhar, se divertir. No sentido mais utilizado na hora de se pensar em um projeto o uso do termo tem apenas objetivo prático. Em muitos casos, utiliza-se a “solução” galpão apenas para diminuir os custos de projeto e da obra, de considerar apenas o volume interno que ele propicia, e deixar para dar um jeitinho nos outros detalhes depois. O pobre galpão tal como se quer é uma solução prática, na qual pouco se pensa na qualidade ambiental que seria capaz de oferecer, se projetado devidamente. Depois de pronto, é muito comum dar a ele uma “maquiagem” fazendo-o ficar bonitinho.

O galpão, no imaginário das pessoas, é uma construção barata e simples, prática e funcional; mas tem uma definição com dois sentidos opostos, que pode resultar em resultados bem diferentes. O galpão é a “solução” comum para depósito, galinheiro, indústria ou um ginásio para a prática de esportes. É uma solução normal e aconselhável, mas, atualmente num galpão também coloca-se para funcionar igreja, cinema, hospital, casa, escritório, escola, faculdade, sem considerar inúmeros aspectos relevantes para um adequado funcionamento específico, o que obviamente não pode se resumir a um galpão. O que mais se vê nos “galpões” é um padrão construtivo de baixa qualidade e de sofrível aspecto, que serve apenas para amontoar coisas e pessoas. Em Viçosa, há muitos deles surgindo, principalmente na avenida Marechal Castelo Branco. As construções são tão improvisadas quanto o movimento e o corte de terra executados.

Entretanto, é perfeitamente possível termos galpões bem projetados e que atendem adequadamente a função à qual foi projetada. Há bons projetos arquitetônicos que surgem a partir de um galpão ou que não podem deles prescindir, e a eles são acrescentadas boas soluções arquitetônicas, de climatização, ergonomia e tratamento de sua volumetria. São inúmeros os exemplos de uma boa arquitetura desenvolvida a partir da idéia de um galpão, dos quais pode-se citar: o belo prédio da TV Bandeirantes e o Centro de Convenções da Gameleira, em Belo Horizonte, utilizando criativa e amplamente a forma básica dos galpões, projetados arquiteto Gustavo Penna. No Espírito Santo, Alexandre Feu Rosa projeta e constrói magníficos espaços destinados à indústria de equipamentos eletrônicos.

Esta cultura local em que o galpão é um termo pejorativo, é um mau sinal de que estamos construindo um mundo medíocre, baratinho e supostamente bonitinho. A história da humanidade nos mostra magníficos exemplares de uma arquitetura que, por hora parece cair numa indescritível banalidade e repetição. A arquitetura de qualidade fica muito prejudicada e de acesso muito restrito aos que vivem fora dos centros urbanos mais importantes. O galpão, utilizado da forma aqui descrita, é o símbolo de uma sociedade que ignora a arquitetura que, na maioria das vezes pode e deve ser simples e acessível, que é capaz de ser elegante e que permite praticidade, conforto e qualidade. A arquitetura empobrece e o mercado de trabalho dos seus profissionais fica comprimido. As nossas cidades ficam mais feias e sem identidade. A arquitetura produzida nestes tempos será, no mínimo, desprezada intensamente e, certamente, muito criticada no futuro.

2 comentários:

  1. Italo
    obrigado a vc e a todos pela recepção em Viçosa,
    mt boa esta reflexão sobre os galpões,
    abaixo alguns links meus na blogosfera,
    abraços, joao diniz
    http://www.joaodiniz.com.br
    http://www.youtube.com/joaodiniz
    http://www.lastfm.com.br/music/Pterodata
    http://www.myspace.com/204753427
    https://twitter.com/joaodinizarch

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  2. muito bom o artigo Ítalo!
    é muito triste pensar que a arquitetura tem sido ignorada dessa forma...
    abçao

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