03 julho 2016

ANTROMAS


Texto publicado no jornal Tribuna Livre,Viçosa, em 29 de junho de 2016

A civilização que temos foi forjada à base de desmatamentos para a agropecuária e para a construção de cidades; aterros de mangues, represamentos de rios; abertura de enormes crateras com as atividades de mineração. Nossa presença vem contaminando o ar e a água de todo o planeta. O progresso rasgou campos e matas com suas ferrovias e rodovias, isolando as populações de plantas e animais. A ocupação humana obriga as espécies se deslocarem ao mesmo tempo cria obstáculos para a dispersão da biodiversidade pela fragmentação dos biomas. Pessoas, navios, aviões, caminhões e trens transportam voluntária ou involuntariamente seres vivos de um lugar para outro, embaralhando espécies, alterando drasticamente equilíbrios no meio ambiente. Todo esse processo já merece a denominação que os cientistas dão à nossa época: o Antropoceno.

Neste meado da segunda década do século XXI, cientistas da Sociedade Geológica da América avaliam que cerca de 130 milhões de quilômetros quadrados de terra estão sem gelo (mas aumentando a cada dia). Os seres humanos já alteraram mais da metade desta superfície, cerca de 70 milhões de km2, sendo que cerca de 60% ainda estão cobertos por florestas. Os cientistas Ellis e Ramankutty dividem o mundo em “antromas”, não em biomas (tais como atóis, savanas, florestas tropicais), termos mais conhecidos. Para os autores, os antromas foram divididos em 18 tipos, dentre os quais o de terras cultiváveis irrigadas, que ocupam cerca de 2,6 milhões de km2 (o equivalente a 30% do território brasileiro) e o de florestas povoadas (11.6 milhões, o equivalente a 1,37 vezes o território brasileiro). 

As cidades, se agrupadas em uma só, ocupariam cerca de 1,6 milhões de km2, o que equivale a 1,3% da superfície terrestre (sem gelo), ou às áreas somadas dos estados de Minas Gerais, Bahia, São Paulo, Espírito Santo e Rio de Janeiro. Essa cidade teria mais de 3,7 bilhões de habitantes. Infelizmente, ela teria cerca de 1 bilhão são obesos,  e 853 milhões de favelados. Um bilhão e duzentas mil pessoas estariam vivendo sem abastecimento de água regular, sem coleta e tratamento de esgotos. Nessa cidade circulariam um bilhão de automóveis. Um bilhão de pessoas viveriam em áreas expostas diariamente a níveis insalubres de partículas no ar ou de gases venenosos, como anidrido sulfuroso, dióxido de nitrogênio e monóxido de carbono. 

As cidades continuarão a crescer e se expandir territorialmente, pois a população mundial continua a mudar rapidamente para o meio urbano. A cada ano mudam 65 milhões de pessoas para as cidades, o equivalente a 2 Tóquio ou a 3 São Paulo, ou a população de países como o Reino Unido ou a Tailândia. Não tem sido possível abrigar tanta gente assim com um mínimo de qualidade de vida, de casas decentes, com atendimento à saúde e à educação ou com a criação de empregos, considerando que a maioria dessas pessoas é de países subdesenvolvidos. A tendência mais vislumbrada é que a maioria das pessoas ampliará o número e o tamanho de favelas. e As cidades médias estão crescendo mais que as pequenas e grandes. O problema é que elas crescem sem uma política econômica, sem uma politica urbana adequada e são dominadas pela especulação imobiliária. Estamos, portanto, muito longe de uma sociedade mais equilibrada.


Imagem:
http://ladybugbrazil.com/veja-como-nos-ocupamos-a-terra/

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