Texto Publicado no jornal Nova Tribuna, nº 2, Viçosa, MG em 17/08/2016.
Segundo a Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência, acessibilidade é um atributo essencial do ambiente que garante a melhoria da qualidade de vida das pessoas. A acessibilidade deve estar presente no meio físico, nos meios de transporte, assim como em instalações de uso público (escolas, postos de saúde, agências bancárias, supermercados etc.) e nos sistemas e tecnologias da informação e comunicação.
Caminhar numa cidade é, basicamente, fazer um percurso por calçadas, travessias de vias para ir de um ponto ao outro. Parece simples. Pode ser simples, muito fácil para uma pessoa adulta, saudável, com o domínio razoável de seus movimentos. Ser uma pessoa saudável é apenas fazer parte de um grupo dentro de uma gama enorme de condições completamente diferentes. Uma pessoa saudável consegue caminhar longos trechos planos ou inclinados, ver e passar por degraus, buracos, rampas, escadarias, cancelas, contornar postes; consegue subir e descer de um ônibus ou andar de bicicleta, sem maiores dificuldades. Mas e quando as condições são outras? Experimente andar na rua de muletas com uma perna engessada, ou empurrando um carrinho de bebê ou um carrinho de feira. As dificuldades são grandes para uma criança, uma pessoa de baixa estatura ou uma idosa; agravam-se mais ainda ou se tornam intransponíveis quando uma pessoa é cadeirante ou deficiente de visão.
Se quisermos complicar ainda mais, consideremos a situação quando é necessário usar um transporte coletivo, desde sair de casa, deslocar-se até um ponto de ônibus, subir no ônibus, estar seguro dentro do ônibus, descer em um ponto e se deslocar até o local desejado. Isso já é complicado quando na cidade há transporte coletivo, imagine nas milhares de cidades que não o possuem. Muitas pessoas acabam por estar compulsoriamente aprisionadas dentro de suas casas. Só saem quando estritamente necessário: ir à escola, a uma consulta médica, fazer um exame clínico, ir a uma agência bancária. Em Viçosa, ir à agência do INSS ou à delegacia para tirar documentos são exemplos dessa dificuldade. Exige-se uma logística complicada, cara e que depende de outras pessoas. São raros os prédios públicos acessíveis, não há sinalização podotátil, as entradas e as escadas não atendem às normas, os balcões não são adequados, os banheiros são inacessíveis, as rampas adequadas são raras, os elevadores ou as plataformas elevatórias só agora começam a ser instalados.
As nossas cidades são excludentes para pessoas com deficiência. Na maioria, as condições de acessibilidade são péssimas. Numa rua qualquer, o simples ato de percorrê-la pode ser impossível. Começa-se pelas dimensões exíguas das calçadas e pelo uso de materiais inadequados, como pisos escorregadios, irregulares, desnivelados e inclinados. Nas travessias, as rampas são tão malfeitas que seria melhor que não existissem. Muitos moradores resolvem seus acessos às garagens particulares com rampas tomando as calçadas e até mesmo parte das ruas.
É fundamental começar a corrigir as condições das calçadas, travessias, pontos de ônibus e acessos aos prédios de uso público. Isso pode levar tempo, mas é preciso primeiramente planejar e depois executar. As cidades desenvolvidas do mundo resolveram essa questão. As nossas precisam começar a caminhar na direção da inclusão.
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