15 maio 2014

INACESSIBILIDADE URBANA


Texto  publicado  no jornal Tribuna Livre, Viçosa, 13 maio 2014

Ver: https://www.youtube.com/watch?v=bddjYyF0zhM
Sou um dos professores de projeto arquitetônico do terceiro período do curso de Arquitetura e Urbanismo da UFV. Uma das principais atividades que fazemos com os alunos é um exercício prático em acessibilidade urbana – que é o de conhecer na pele as dificuldades de uma pessoa com necessidade. Não é preciso ser expert no assunto para afirmarmos que esse problema em Viçosa é grave. Já é serio nas áreas centrais, mas a situação é caótica em quase toda a cidade. São visíveis os problemas que se referem às péssimas qualidades das calçadas e vias, da inviabilidade de se utilizarem espaços públicos e de uso público. Mas sentir na pele os problemas, ao menos por uns instantes é um exercício que um futuro arquiteto e urbanista precisa fazer para aprender.
Lembro que um aluno nosso comentou que esteve em uma cidade de Santa Catarina e que nunca tinha visto tantos cadeirantes. O que ele também percebeu foi que é porque a cidade tinha boas condições de acessibilidade. Em Viçosa, vemos pouquíssimas pessoas cadeirantes, não é porque aqui há poucos, mas sim porque aqui é quase impossível sua circulação.
A vivência em acessibilidade, dependendo de cada atividade, exige que os estudantes coloquem pesos nas pernas, vendas nos olhos, imobilizem as pernas e andem de cadeiras de rodas. Eles têm de fazer percursos diferentes dentro do campus e na cidade, com a intenção de viver as dificuldades. A tarefa mais difícil para eles é andar de ônibus com cadeira de roda. Não podem ser carregados por ninguém. Em Viçosa, nas treze viagens realizadas, aconteceu de tudo. Em geral, os motoristas e cobradores foram gentis e sabiam utilizar o elevador de cadeiras do ônibus. Houve alguns casos em que a chave acionadora do elevador não estava no veículo e outros em que ninguém sabia operar o mecanismo.
De cada trajeto constava a exigência de entrar em espaços público (ruas, praças, prédios da prefeitura e da câmara) de uso público (bancos, hotéis, supermercados e escolas), entretanto são poucos os que oferecem as condições mínimas. Com isso, foram verificados inúmeros problemas nas ruas. As calçadas inclinadas no sentido transversal e longitudinal, dois sentidos, a inexistência de piso podotátil. O calçamento em pedras portuguesas não é mais recomendado, pois faz as cadeiras de rodas trepidarem muito e não é adequado para o uso de idosos. Os semáforos não dão tempo suficiente para idosos e cadeirantes atravessarem as ruas. Há problemas sérios em prédios que são utilizados por pessoas com deficiência, como o da Previdência Social, cujo acesso é em rampa muito inclinada terminando em degrau. As lojas são inacessíveis por causa dos degraus. Algumas delas colocaram chegaram a colocar rampas móveis, mas muito inclinadas, portanto, inúteis.
A vivência é um exercício fundamental para a formação do arquiteto e urbanista. É uma experiência que os estudantes adoram fazer. Treze grupos gravaram os roteiros apontando as principais dificuldades e estes estão disponíveis na Internet. Devem-se salientar os muitos momentos de solidariedade dos moradores de Viçosa, que ajudavam a empurrar a cadeira ou como passageiros dos coletivos demonstrando paciência com o cadeirante. Como projetistas do espaço, os nossos estudantes estão sendo treinados a fazer uma arquitetura acessível, pois é prerrogativa de todos os cidadãos, é obrigação dos construtores edificar com acessibilidade e é obrigação do poder público cobrar e fiscalizar para garantir esse direito universal. Fica evidente a urgência de melhorar as condições de acessibilidade em Viçosa. Os problemas são inúmeros, muitos de difícil solução, mas do jeito que está não pode continuar.

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