Texto publicado no jornal Tribuna Livre, Viçosa, 13 maio 2014
Ver: https://www.youtube.com/watch?v=bddjYyF0zhM
Sou
um dos professores de projeto arquitetônico do terceiro período do
curso de Arquitetura e Urbanismo da UFV. Uma das principais
atividades que fazemos com os alunos é um exercício prático em
acessibilidade urbana – que é o de conhecer na pele as
dificuldades de uma pessoa com necessidade. Não é preciso ser
expert no assunto para afirmarmos que esse problema em Viçosa é
grave. Já é serio nas áreas centrais, mas a situação é caótica
em quase toda a cidade. São visíveis os problemas que se referem às
péssimas qualidades das calçadas e vias, da inviabilidade de se
utilizarem espaços públicos e de uso público. Mas sentir na pele
os problemas, ao menos por uns instantes é um exercício que um
futuro arquiteto e urbanista precisa fazer para aprender.
Lembro
que um aluno nosso comentou que esteve em uma cidade de Santa
Catarina e que nunca tinha visto tantos cadeirantes. O que ele também
percebeu foi que é porque a cidade tinha boas condições de
acessibilidade. Em Viçosa, vemos pouquíssimas pessoas cadeirantes,
não é porque aqui há poucos, mas sim porque aqui é quase
impossível sua circulação.
A
vivência em acessibilidade, dependendo de cada atividade, exige que
os estudantes coloquem pesos nas pernas, vendas nos olhos, imobilizem
as pernas e andem de cadeiras de rodas. Eles têm de fazer percursos
diferentes dentro do campus e na cidade, com a intenção de viver as
dificuldades. A tarefa mais difícil para eles é andar de ônibus
com cadeira de roda. Não podem ser carregados por ninguém. Em
Viçosa, nas treze viagens realizadas, aconteceu de tudo. Em geral,
os motoristas e cobradores foram gentis e sabiam utilizar o elevador
de cadeiras do ônibus. Houve alguns casos em que a chave acionadora
do elevador não estava no veículo e outros em que ninguém sabia
operar o mecanismo.
De
cada trajeto constava a exigência de entrar em espaços público
(ruas, praças, prédios da prefeitura e da câmara) de uso público
(bancos, hotéis, supermercados e escolas), entretanto são poucos os
que oferecem as condições mínimas. Com isso, foram verificados
inúmeros problemas nas ruas. As calçadas inclinadas no sentido
transversal e longitudinal, dois sentidos, a inexistência de piso
podotátil. O calçamento em pedras portuguesas não é mais
recomendado, pois faz as cadeiras de rodas trepidarem muito e não é
adequado para o uso de idosos. Os semáforos não dão tempo
suficiente para idosos e cadeirantes atravessarem as ruas. Há
problemas sérios em prédios que são utilizados por pessoas com
deficiência, como o da Previdência Social, cujo acesso é em rampa
muito inclinada terminando em degrau. As lojas são inacessíveis por
causa dos degraus. Algumas delas colocaram chegaram a colocar rampas
móveis, mas muito inclinadas, portanto, inúteis.
A
vivência é um exercício fundamental para a formação do arquiteto
e urbanista. É uma experiência que os estudantes adoram fazer.
Treze grupos gravaram os roteiros apontando as principais
dificuldades e estes estão disponíveis na Internet. Devem-se
salientar os muitos momentos de solidariedade dos moradores de
Viçosa, que ajudavam a empurrar a cadeira ou como passageiros dos
coletivos demonstrando paciência com o cadeirante. Como projetistas
do espaço, os nossos estudantes estão sendo treinados a fazer uma
arquitetura acessível, pois é prerrogativa de todos os cidadãos, é
obrigação dos construtores edificar com acessibilidade e é
obrigação do poder público cobrar e fiscalizar para garantir esse
direito universal. Fica evidente a urgência de melhorar as condições
de acessibilidade em Viçosa. Os problemas são inúmeros, muitos de
difícil solução, mas do jeito que está não pode continuar.
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