21 junho 2015

UM BAIRRO SE (DE)FORMA

Texto publicado no jornal Tribuna Livre, Viçosa-MG,de 17/06/2015


As cidades crescem como um fenômeno normal. Surgem novas ruas, novos bairros. O problema é que, se esse crescimento não for monitorado, não planejado com o aval técnico da prefeitura, surgem novos problemas. Como essas crescem à base de um urbanismo sorrateiro, politiqueiro, desconexo, desinteressado com o resto da cidade, faz-se um péssimo urbanismo.

Em Viçosa, a Avenida Antônio Lopes Lelis, no bairro Santo Antônio, é uma via de grande potencial, no entanto, está ameaçada de se tornar uma via igual a qualquer outra, com péssima qualidade. A falta de visão, os erros e ilegalidades urbanísticas e ambientais permitidos, acumulados das administrações anteriores estão formando um bairro problemático, jogando fora a oportunidade de termos um dos melhores bairros da cidade. O que era uma via secundária, que começou com clube, salão de festas e escola, ganha interesse dos empreendedores e consistência de uma via arterial, embora sem que nenhum cuidado seja tomado. Foi permitido um uso do solo com edificações multifamiliares de até sete pavimentos em vias que só deveriam ter quatro.

 A avenida é uma via importante de parte de um bairro – o mais populoso de Viçosa -  que está surgindo com muitos problemas, com vias que nela desembocam mais longas que a legislação de parcelamento do solo permitem.  São vias sem saída, isso as tornam perigosas e acarretarão dificuldades  para a passagem de transporte coletivo, de viaturas policiais e prolongarão o trajeto dos caminhões coletores de lixo. Essas ruas receberão centenas de apartamentos que significam centenas de automóveis para saturar uma via que tem difíceis conexões com o resto da cidade. As ligações com as outras vias são estreitas e insuficientes e carecem urgentemente de soluções muito melhores que as de hoje. Inúmeros lotes foram criados; as áreas verdes e institucionais deixadas para a cidade são imprestáveis para servirem como praças e para receberem prédios públicos. As novas construções ignoram o alinhamento com a avenida. Proprietários de terrenos valiosíssimos ainda não construíram as calçadas.

Ainda é possível estudar outras vias de ligação. Ainda é possível exigir dos loteadores as áreas institucionais obrigatórias por lei, em terrenos que possam ser construídos, não em barrancos como os loteadores deixam. O IPLAM deve garantir que as soluções de acessos e de estacionamentos sejam adequadas, para evitar mais uma via caótica, pois como o bairro se valoriza, novos empreendimentos de porte tenderão a se instalar no local.

Perde-se a oportunidade de ter um bom bairro. É uma chance escapando pelas mãos, sucumbindo à especulação imobiliária e à falta de ação. Rogo ao prefeito e ao IPLAM que avaliem, enquanto é tempo, as possibilidades de manter uma avenida larga; de resolver as ligações viárias com a cidade de uma maneira decente; de  exigir dos proprietários desde já a construção de calçadas - e que elas sejam largas e acessíveis - e construções que sigam o alinhamento das ruas. É importante que haja uma praça pública, a única de um bairro maior que muitas cidades. Caso a administração se omita desta oportunidade, teremos mais um futuro bairro tão ruim em qualidade de vida como a esmagadora maioria dos bairros de Viçosa. Uma pena!

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