segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Tá difícil

Foto: Diego Nigro/JC Imagem

Texto enviado ao jornal Tribuna Livre, de Viçosa-MG, em 24/12/2015

Queria mandar um texto com algo interessante para este jornal antes de terminar este ano interminável, mas confesso que não consegui escolher um assunto específico, pois me sinto, assim como (acho que outros brasileiros também sentem) soterrado de tanta sujeira e tanta lama. Sinto-me sufocado, imobilizado, impotente; nem sequer espero que isso passe tão cedo.

Neste  2015 algumas bolhas estouraram. Fomos soterrados por uma crise econômica somada a uma crise política nojenta, à bilionária sangria da corrupção e a uma série de problemas ambientais, como o desmatamento e, destacadamente, o agravamento de uma crise hídrica inédita. Caímos na realidade depois de as montadoras despejarem por vários anos milhões de automóveis nas nossas ruas, embora queiram desesperadamente despejar mais ainda. A bolha imobiliária também estourou depois de nos iludir com um crescimento insustentável, de saturar de imóveis nas nossas cidades e deixar grande parte deles vazia.

Desabaram sobre nós os escombros de dois pilares que representavam a economia brasileira: a Petrobrás e a Vale. Acompanhamos um crime ambiental sem precedentes que deverá culminar em precedentes impunidades. Em dezembro de 2016, a mídia nos lembrará que as vítimas que sobreviveram ao mar de lama continuam desamparadas, vivendo em condições precárias, à espera do cumprimento de promessas não cumpridas pelo governo e pela Samarco.

Amizades foram enfraquecidas quando colocadas em lados opostos das preferências partidárias. Assistimos a espetáculos circenses de péssimo gosto nas casas legislativas, ficamos nauseados com comissões de ética. Mesmo sem ter visto nada igual antes, não posso colocar nem a mão no fogo ao acompanhar as investigações da Polícia Federal.
Quinze anos dentro do século XXI ainda temos um país altamente urbanizado que praticamente não trata seus esgotos; raciona suas esparsas fontes de água; mata seus moradores de epidemias; segrega seus moradores; vicia e assassina seus jovens; contamina suas gestantes; imobiliza os seus idosos e adia indefinidamente os sonhos de realização profissional. Três décadas depois ainda há os que desejam um golpe militar.

Dos desdobramentos da crise política ninguém conseguirá adivinhar o que vai acontecer, mas provavelmente resultarão em mais decepções e poucas mudanças essenciais. Nunca poderemos subestimar a capacidade de sobrevivência desses ratos e camaleões travestidos em políticos (que me perdoem os ratos e os camaleões), e nós aqui nos sentindo otários, idiotas, enganados, não sabendo da missa a metade.

Há esperança? Sim, como sou um ingênuo, quero crer que há. Mas não creio que mudanças virão das próximas eleições. Há, no entanto, jovens técnicos chegando aos postos de decisão que não toleram o que antes era tolerado, como ocorre no poder judiciário, especialmente junto ao Ministério Público. Isso nos deixa vislumbrar uma luzinha num túnel gigantesco e labiríntico de lama pútrida e contaminada, de esgotos, troncos, egos inflados, corrupção, tramas, esquemas, manobras políticas, panfletos, entulhos, lixo, carcaças de veículos, balas de fuzis, corpos de jovens assassinados, sangue, seringas, vírus e bactérias.

Apesar dessa caótica situação, não devemos  desistir de tentar fazer um 2016 feliz!

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