10 dezembro 2016

UM LONGO CAMINHO


Artigo publicado no jornal Nova Tribuna, em 07/12/2016

Durante uma aula de projeto arquitetônico em que desenvolvíamos um trabalho sobre acessibilidade urbana, uma aluna comentou que esteve em uma cidade de Santa Catarina e que achou estranho ver tantos cadeirantes. Ela estava intrigada com o que estava acontecendo e perguntava o que havia de errado com a cidade. Chegamos à conclusão que, se havia tantos cadeirantes nas ruas, era simplesmente porque a cidade era acessível e oferecia condições para que cadeirantes pudessem estar nas ruas. Infelizmente, na maioria das nossas cidades não vemos cadeirantes, pois eles estão aprisionados em suas casas, sem condições de sair, se se deslocar, de participar da cidade. Viçosa é uma dessas.

Viçosa cresceu ao longo dos vales dos riachos e depois subindo morros, com traçado viário formado por vias e passeios estreitos. As condições da topografia acidentada, de terrenos pequenos, somadas à falta de planejamento urbano e de fiscalização, promoveram a construção de ruas íngremes e passeios descontínuos, entremeados por degraus e rampas para automóveis. Mesmo em regiões mais planas esses vícios ocorreram. Em cada construção foi resolvido o seu passeio, o seu acesso para a garagem e para a porta de casa. De acordo com o gosto de cada construtor foi escolhido o tipo de pavimento. Inexplicavelmente prédios recentemente inaugurados e em construção repetem essa prática. Temos um conjunto de calçadas muito precário, e a ele somamos a diversa qualidade dos abrigos e pontos de ônibus. A inacessibilidade aos pontos e abrigos dificulta e até impede a mobilidade. Esse quadro complexo precisa mudar. Será necessária a viabilização de caminhos acessíveis entre as casas e os pontos de ônibus; entre os pontos de ônibus e os prédios públicos e entre os prédios públicos (como escolas, igrejas, postos de saúde, delegacia, prefeitura, agências bancárias etc.). É fundamental tornar as praças acessíveis. Trata-se de garantir o direito de ir e vir a todos.

Há ainda um longo caminho para que nossas cidades se tornem acessíveis. Por aqui, há em andamento um plano de mobilidade com capítulos sobre a acessibilidade. Dele sairão medidas e regras para corrigir as condições das calçadas, travessias e rampas nos espaços públicos, bem como obras e ações de forma a obter recursos junto ao governo. Tem havido discussões sobre a acessibilidade alguma movimentação da sociedade civil organizada em prol da melhoria das condições de acessibilidade. Em Viçosa, temos a felicidade de possuir um Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência. Formado há pouco tempo, o Conselho vai conseguindo alguns sucessos, uns pequenos passos de cada vez, mas é um bom início. Sob sua atuação e em sintonia com o Departamento de Trânsito estão sendo criadas algumas vagas de estacionamento para cadeirantes e construídas passagens elevadas para pedestres. Há uma atuante associação de pessoas com deficiência.   Com essas parcerias, somadas ao Plano de Mobilidade e à participação e colaboração da população, teremos condições de melhorar a qualidade de vida. Assim poderemos ver muito mais cadeirantes, como também os deficientes visuais e idosos nas nossas ruas.

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