01 maio 2021

ARQUITETURA DE MÁ QUALIDADE

Rua do Recife - uma das mais bonitas do Brasil.

A profissão de arquiteto e urbanista é formada por uma combinação de arte, técnica e humanismo. Orienta valores respaldados por um código de ética profissional, como a defesa do interesse público, a busca pela sustentabilidade socioambiental e a boa qualidade das cidades, das edificações e sua inserção harmoniosa na vizinhança. 

O arquiteto e urbanista deve defender o direito universal à arquitetura e ao urbanismo, às políticas urbanas e ao desenvolvimento urbano. Deve primar pela promoção da justiça e inclusão social nas cidades, pelo amplo e irrestrito direito à moradia, à mobilidade, ao ambiente sadio, à memória arquitetônica e urbanística e à identidade cultural.

Nos serviços que prestar e nos projetos que desenvolver, deve adotar soluções que garantam a boa qualidade da construção, o bem-estar e a segurança dos seus usuários. Deve envidar esforços para assegurar o correto atendimento das necessidades humanas referentes à funcionalidade, à economicidade, à durabilidade, ao conforto, à higiene e à acessibilidade dos ambientes construídos. Quando chamado a opinar sobre algum projeto, precisa levar em conta todos os aspectos aqui mencionados.  

No entanto, há nas cidades muitas soluções dadas por arquitetos e urbanistas, que ignoram vários princípios. Infelizmente as questões econômicas têm sido consideradas como prioritárias, em detrimento da qualidade de vida. Percebo, nas cidades, a predominância da má qualidade das habitações, quando construídas para fins de investimentos, quando só os lucros importam.   Quem tem recursos para investir, em geral não se importa se os ambientes futuros serão mal iluminados, mal ventilados, mal dimensionados. Não se importa se foi necessário driblar as leis urbanísticas locais ou ignorar as normas técnicas. Infelizmente, há uma contribuição do arquiteto e urbanista nesta produção, às vezes ativa, às vezes passiva.

É fácil verificar isso nas plantas baixas e perspectivas bonitinhas apresentadas em material publicitário.  É fácil constatar isso nas ruas emparedadas em sua extensão por construções que tiram a luz e a ventilação das ruas, que avançam por sobre as calçadas, deixam para as ruas o provimento de vagas de estacionamento e de acesso às garagens, com obstáculos que inviabilizam a acessibilidade. A qualidade da cidade não interessa, não importa. Importa se conseguem fazer casas tri geminadas ou dezenas de apartamentos em um lote de doze metros de testada, prédios de dez pavimentos em ruas com cinco metros de largura. Não importa se as construções abrem janelas para escadas, ou para os vizinhos; se criam poços mínimos de ventilação que serão cobertos futuramente, ou se cimentam as áreas que deveriam permanecer permeáveis. 

Quem investe em imóveis com essa má arquitetura apenas para ter lucro assume uma postura amoral, não se importa com quem vai sofrer as consequências. Não se importa se economizou no projeto (ou se alterou), nas ferragens, se a construção tem lajes com 6 cm de espessura, se os pilares têm 8 cm de largura, se o banheiro tem menos de um metro de largura, se um quarto tem menos de 8 metros quadrados, se a ventilação da sala será pela janela da cozinha. Quem visa o lucro não pensa se moraria no que projeta, constrói ou investe. Talvez nem pense nisso, mas deveria.

O arquiteto e urbanista não devia fazer parte dessa produção, mas faz, às vezes por falta de opção. Quase sempre é explorado pelos construtores, pois é um profissional pouco valorizado e mal pago. Potencial para sua atuação existe e é gigantesco, mas enquanto predominar a ganância pelo lucro, as cidades acumularão erros e problemas.


Imagem:https://catracalivre.com.br/viagem-livre/rua-do-recife-e-eleita-a-3a-mais-bonita-do-mundo/


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