sábado, 4 de junho de 2022

INDIGNAÇÂO X BANALIZAÇÃO

Aqui fujo dos meus temas principais dos meus artigos. Mas não posso deixar de mostrar minha repulsa com os fatos que ocorrem no mundo. Tempos duríssimos esses de agora. Somos sacudidos o tempo todo com notícias de barbárie. Mas ficamos sem reação, anestesiados, letárgicos, omissos. Há tantos males nos afligindo que parece normal termos mais de cento e vinte mortes por Covid todo dia. Não parece mais nos comoverem as notícias diárias de extermínio, menos difundidas, das pessoas de pele menos branca, no Iêmen (alguém sabe onde fica o Iêmen?), no Iraque, no Afeganistão, em Mianmar (já ouviu falar?), no Haiti e Etiópia. São mais de 84 milhões de refugiados no mundo. Depois de quase três meses da estúpida invasão do criminoso de guerra Putin na Ucrânia (alguém viu o presidente do Brasil se posicionar contra isso?), as manchetes começam a rarear depois de uma ampla cobertura.  

A qualquer momento vem dos EUA novos massacres em escolas, shoppings ou igrejas (onde já há um ranking dos crimes com mais mortes), num país com 120 armas para cada 100 habitantes. Aqui em terras tupiniquins, as destrambelhadas operações policiais ganham manchetes no mundo todo. Indignado, vejo especialmente uma população carioca inteira acossada, atônita, entre bandidos, traficantes, milicianos e policiais corruptos. Assistimos ao presidente, ente uma e outra motociata, inspirada em Mussolini, elogiar operações policiais com mais de duas dezenas de mortos. Vemos gente apoiando policiais assassinando com requintes de barbárie por motivos fúteis; indígenas sendo violentadas e exterminados por garimpeiros. 

Além do negacionismo crônico, depois de meses de escândalos revelados numa longa CPI (sujeira escondida pelo Aras e pelos bandidos no Congresso Nacional), muito silêncio e pouco resultado. Chegaremos aos 700.000 mortos pela pandemia; acomodados, ignoramos o drama até que fiquemos doentes ou percamos entes queridos, silêncio. Depois das tragédias ambientais em Teresópolis, Angra dos Reis, Niterói, Petrópolis, Jaboatão dos Guararapes, em outras tantas cidades, silêncio, enquanto nada muda. Depois de denúncias sobre laranjas, rachadinhas, compras de mansões, desdém. Silêncio. Depois de saber que o governo investiu R$0,00 em habitação popular nos dois últimos anos, silêncio. Passaram boiadas no meio ambiente (incêndios e desmatamentos criminosos no Pantanal e na Amazônia), no patrimônio histórico (caso Véio ...), na saúde (caso Covaxin), na educação (Corrução da Bíblia, corte de verbas para pesquisa), nas relações internacionais (rusgas com os EUA de Biden, com França, com a China, visita a Putin às vésperas da invasão), silêncio.

Pouco nos importamos depois de assistir a tantos políticos trocarem de partido como trocam de roupa, de se esconderem em legendas criadas no atacado, nem sabemos mais suas reais “cores” políticas, se é que têm.  A promiscuidade é vergonhosa. Muda-se tudo para ficar tudo na mesma. Resolve-se tudo, com troca-troca nos comandos da Polícia Feral, nos ministérios, na Petrobrás e, mais silêncio, pois temos de torcer para nossos times. Na política rasteira, mente-se descaradamente, prostitui-se com verbas bilionárias dos fundos eleitorais, dos gabinetes paralelos, do orçamento secreto.

Não, não posso deixar de demonstrar minha indignação com o que tomo conhecimento.  A qualquer momento virão novas notícias horríveis que terão atenção por alguns dias, até serem abafadas pelas próximas desgraças. E assim vamos colecionando, entorpecidos e mais empobrecidos, mais mortos e tragédias, e vamos levando, vida besta que segue.


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