domingo, 25 de fevereiro de 2024

LIÇÕES DA ESPANHA

Rua de Sevilha

Artigo publicado no jornal Folha da Mata, Viçosa, em 22 de fevereiro de 2024.

Ressalvadas todas as diferenças socioeconômicas entre um país europeu e o nosso, trago, de uma breve viagem à Espanha, a constatação de que estamos muito atrasados em relação à qualidade urbana, quanto à infraestrutura, ao desenho urbano, ao comportamento dos pedestres e à preservação do patrimônio arquitetônico. Embora desenvolvida, a Espanha enfrenta seus problemas (estes comuns aos países europeus), tais como envelhecimento da população e problemas de política pública de subvenção aos produtores rurais das secas, estas cada vez mais frequentes (Barcelona chegou ao ponto de ir buscar água em outras províncias em navios!). Evidentemente minha experiência na Espanha foi curta, restrita em tempo e a apenas cinco cidades (Barcelona, Madrid, Toledo, Ávila, Segóvia e Sevilha), todas elas com forte atração turística, mas foi possível identificar um padrão.  

Primeiramente, a qualidade das vias urbanas mostra calçadas e pisos, ou no mesmo plano, ou com pouca diferença de nível, com uso de placas de pedra e paralelepípedos, bem assentados.  Quando há meio-fio, esses são de pedra bem cortada. Vi postes apenas para sustentar iluminação pública ou semáforos. Nas ruas mais antigas, algumas muito estreitas, a iluminação é feita por luminárias afixadas nas paredes dos edifícios. Nada de fiação suspensa como as das nossas cidades. Nas vias mais largas, tachões metálicos ou blocos de pedra separam ciclofaixas, de faixas de pedestres e de automóveis. Em Sevilha, o bonde moderno entra nessa mistura. As praças, muitas, pequeninas ou parques imensos são muito bem cuidados, com mobiliário adequado, jardins arborizados. Aponto com destaque a beleza das milhares de laranjeiras carregadas de frutas de Sevilha.  Há, nas ruas, mesas de bares sem prejudicar o fluxo de pedestres, assim como fontes, jardineiras, quiosques, parquinhos frequentados.  O destaque de praças é a das Setas de Sevilha, uma estrutura gigantesca em madeira em forma de cogumelos, símbolo de Sevilha, que atravessa uma rua e emoldura com contraste as edificações amigas no seu entorno. Possui amplas escadarias onde centenas de pessoas sentam simplesmente para contemplação. O enorme parque do Retiro, em Madrid, é cheio de atrações e monumentos, e sem problema nenhum, tem amplos caminhos apenas ensaibrados. A Plaza de Espanha, em Sevilha, é uma das maiores obras-primas que os seres humanos foram capazes de produzir.

Rua de Sevilha, pedestres automóveis, ciclistas e VLT, tudo em convívio.

Não me lembro de ter visto paredes pichadas nem placas publicitárias ou de identificação que não sejam discretas. As ruas são identificadas nas esquinas, com sinalização horizontal bem conservada. Em geral, são muito limpas, com exceções em algumas partes antigas de Sevilha, mas isso pode ser os sinais de um fim de semana movimentado.  A sinalização podotátil é presente. Grades, guarda-corpos e corrimãos são comuns e em ótimo estado.  O ponto negativo mais visível são muitas e muitas bingas de cigarro de um hábito que muitos cidadãos de outros países ainda   mantêm; a formidável exceção cabe aos brasileiros. O comportamento dos pedestres é silencioso, respeitam as faixas a eles definidas; os motoristas, com raras exceções, são pacientes e respeitam-se as faixas de pedestres.

Por fim, há aspectos a destacar. A qualidade dos materiais empregados garante durabilidade, ou seja, a correta aplicação de recursos públicos, como deve ser feita. É notória a busca dos espanhóis em deixar as cidades mais acessíveis, mais modernas, sem desrespeito ao acervo arquitetônico.  As pessoas gostam de ambientes agradáveis bem conservados, nos quais possam ver e encontrar outras pessoas. É possível a convivência de gente e de veículos no mesmo ambiente. Não descrevi nada novo, apenas o que acontece nas ruas da Espanha. Todos esses aspectos estão, a meu ver, dentro das possibilidades de adequações para nossas cidades. 

Fotos Ítalo Stephan 

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