Não se trata de uma conspiração política, mas sim de uma metodologia de
aplicação de medidas direcionadas para lidar com o nosso judiado meio ambiente.
Com o cenário atual de intensa urbanização, trazer a natureza de volta para as cidades,
torna-se, portanto, um desafio para o campo do planejamento e para a gestão de
nossas cidades. As mudanças climáticas são uma realidade apontada por
especialistas há décadas. O Sexto Relatório de Avaliação do Painel
Intergovernamental sobre Mudança do Clima (2023) apontou o aquecimento global
irreversível, e o cenário se agrava mundialmente com as ações antrópicas. As
consequências se manifestam em desastres no meio rural (queimadas, secas,
alagamentos) e no urbano (deslizamentos de encostas, enchentes, ampliação dos
fenômenos das ilhas de calor, epidemias etc.), sobretudo entre as populações
mais vulneráveis. A urbanização brasileira tem causado perdas de patrimônio
ambiental e cultural, com descaracterização das paisagens, segregação
socioespacial e dispersão urbana, entre outros fenômenos.
Os eventos extremos tendem a aumentar a curto prazo, com perdas e danos
em cascata para a subsistência, saúde, valores culturais, segurança alimentar e
da água, tanto em áreas costeiras como em regiões montanhosas. O Relatório
Mundial das Cidades aponta urgência de avanços para a mitigação e reversão do
quadro. Os gestores locais têm um papel fundamental na criação de estratégias ambiental
e climática, de planejamento e governança, articuladas e orientadas para a
justiça ambiental. Faz-se necessário recuperar ambientes rurais e urbanos, bem
como conectá-los de maneira sustentável e socialmente justa, aspectos esses
tratados pela Trama Verde e Azul.
O conceito se baseia na preservação vegetal (verde) e no uso da água de
áreas hídricas (azul) de forma entrelaçada, harmônica e articulada. Além disso,
orienta o planejamento territorial do município e microrregional, de forma a
possibilitar a articulação entre uso e ocupação do solo com a conservação
ambiental, vinculando-os a aspectos socioculturais). Sua implementação requer o
fortalecimento de instrumentos de planejamento e a compreensão e sensibilização
da urgência climática, por parte dos gestores e da população em geral. A Trama
traz como pontos positivos a remoção de poluentes do ar através de árvores,
paredes verdes e telhados verdes; a redução dos níveis de ruído através de
paredes verdes; a redução das emissões de carbono, através dos telhados verdes;
a redução do dióxido de carbono com o uso da agricultura urbana e a redução da
pegada ecológica.
A Trama Verde e Azul surgiu como uma política de recuperação de áreas
degradadas pela mineração, na França, e inspirou experiências brasileiras, como
a da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), que busca preservar áreas
verdes e hídricas, de forma a promover benefícios para a saúde pública,
qualidade do ar e da água, reduzindo os efeitos das mudanças climáticas. Na
RMBH, criou-se um incentivo econômico para estimular o setor imobiliário a
construir aplicando algumas técnicas da Trama nas edificações, como caixas de
captação de água pluvial, telhados verdes e jardins drenantes. Busca-se
melhorar a permeabilização do solo e a redução das ilhas de calor, bem como
mitigar as consequências das inundações.
A Trama Verde e Azul deveria cobrir o planeta Terra. Se bem implementada,
é um aliado importante para enfrentar o que já está entre nós, que já sentimos
na pele e no bolso. Pode ser aplicada aqui mesmo nas nossas cidades, nos nossos
municípios e microrregiões. No entanto, ela é dependente da quebra dos
paradigmas da ignorância e da negligência dos governantes, do predomínio das
abordagens tradicionais à governança, da aplicação de legislação e de ações das
formas corretas e de forma democrática. Caso contrário, se não levada a sério,
será mais um rótulo teórico.
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