26 janeiro 2025

TRAMA VERDE E AZUL

Artigo publicado no jornal Folha da Mata, Viçosa-MG, em 23/01/2025.
Co-autoria de Nádia Camacho


Mapa com a Trama Verde e Azul, parte do Plano Diretor de Itatiaiuçu, MG

Não se trata de uma conspiração política, mas sim de uma metodologia de aplicação de medidas direcionadas para lidar com o nosso judiado meio ambiente. Com o cenário atual de intensa urbanização, trazer a natureza de volta para as cidades, torna-se, portanto, um desafio para o campo do planejamento e para a gestão de nossas cidades. As mudanças climáticas são uma realidade apontada por especialistas há décadas. O Sexto Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (2023) apontou o aquecimento global irreversível, e o cenário se agrava mundialmente com as ações antrópicas. As consequências se manifestam em desastres no meio rural (queimadas, secas, alagamentos) e no urbano (deslizamentos de encostas, enchentes, ampliação dos fenômenos das ilhas de calor, epidemias etc.), sobretudo entre as populações mais vulneráveis. A urbanização brasileira tem causado perdas de patrimônio ambiental e cultural, com descaracterização das paisagens, segregação socioespacial e dispersão urbana, entre outros fenômenos.

Os eventos extremos tendem a aumentar a curto prazo, com perdas e danos em cascata para a subsistência, saúde, valores culturais, segurança alimentar e da água, tanto em áreas costeiras como em regiões montanhosas. O Relatório Mundial das Cidades aponta urgência de avanços para a mitigação e reversão do quadro. Os gestores locais têm um papel fundamental na criação de estratégias ambiental e climática, de planejamento e governança, articuladas e orientadas para a justiça ambiental. Faz-se necessário recuperar ambientes rurais e urbanos, bem como conectá-los de maneira sustentável e socialmente justa, aspectos esses tratados pela Trama Verde e Azul.

O conceito se baseia na preservação vegetal (verde) e no uso da água de áreas hídricas (azul) de forma entrelaçada, harmônica e articulada. Além disso, orienta o planejamento territorial do município e microrregional, de forma a possibilitar a articulação entre uso e ocupação do solo com a conservação ambiental, vinculando-os a aspectos socioculturais). Sua implementação requer o fortalecimento de instrumentos de planejamento e a compreensão e sensibilização da urgência climática, por parte dos gestores e da população em geral. A Trama traz como pontos positivos a remoção de poluentes do ar através de árvores, paredes verdes e telhados verdes; a redução dos níveis de ruído através de paredes verdes; a redução das emissões de carbono, através dos telhados verdes; a redução do dióxido de carbono com o uso da agricultura urbana e a redução da pegada ecológica.

A Trama Verde e Azul surgiu como uma política de recuperação de áreas degradadas pela mineração, na França, e inspirou experiências brasileiras, como a da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), que busca preservar áreas verdes e hídricas, de forma a promover benefícios para a saúde pública, qualidade do ar e da água, reduzindo os efeitos das mudanças climáticas. Na RMBH, criou-se um incentivo econômico para estimular o setor imobiliário a construir aplicando algumas técnicas da Trama nas edificações, como caixas de captação de água pluvial, telhados verdes e jardins drenantes. Busca-se melhorar a permeabilização do solo e a redução das ilhas de calor, bem como mitigar as consequências das inundações.

A Trama Verde e Azul deveria cobrir o planeta Terra. Se bem implementada, é um aliado importante para enfrentar o que já está entre nós, que já sentimos na pele e no bolso. Pode ser aplicada aqui mesmo nas nossas cidades, nos nossos municípios e microrregiões. No entanto, ela é dependente da quebra dos paradigmas da ignorância e da negligência dos governantes, do predomínio das abordagens tradicionais à governança, da aplicação de legislação e de ações das formas corretas e de forma democrática. Caso contrário, se não levada a sério, será mais um rótulo teórico.


 

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