Artigo publicado no jornal Folha da Mata, Viçosa-MG, em 13/03/2025
Minas Gerais, o próprio nome já deixa claro onde estamos. Desde o século XVII, o homem branco vem cavando, furando, desmanchando nossas montanhas, assoreando nossos rios e sugando nossas águas. A voracidade dessas ações não para de decrescer. Multiplicaram-se as represas de resíduos de mineração. Algumas dessas barragens já romperam e desencadearam tragédias com sérias consequências ambientais (Miraí, Nova Lima, Bento Rodrigues, Brumadinho). Várias outras barragens (cerca de 45) colocam populações inteiras em estado de alerta. Em geral, tiram do nosso solo ricos minerais, machucam o meio ambiente, mas não nos devolvem desenvolvimento. Quando anunciam que vão minerar em algum município, criam enormes expectativas para os moradores, como a valorização das terras para desapropriação nas áreas a serem mineradas, os empregos a serem criados e a riqueza que vão promover. Mas não é isso que acontece; a realidade pode ser muito diferente. Em troca da atividade, vem uma participação submissa dos territórios, a degradação ambiental, danos à saúde coletiva (como câncer, tuberculose, asma, entre outros) e os riscos à sustentabilidade socioambiental, com desflorestamento, redução da qualidade dos solos etc.
Uma prova disso é que, Jeceaba, sede de uma multinacional gigante, tem a 12ª maior PIB per capita do país, mas isso não se reflete na qualidade de vida do município, e muito menos nos municípios vizinhos. Apenas 34,8% dos domicílios de Jeceaba estão conectados à rede de esgoto e 71% à rede de abastecimento de água. Em Itamarati de Minas, pertinho de Cataguases, a mineração de bauxita gerou euforia; os moradores ampliaram restaurantes e equiparam oficinas para atender ao processo de mineração. Sonharam com o desenvolvimento batendo à porta. Em poucos anos, a empresa abandonou a mina, frustrou a população, deixou de herança sonhos destruídos e uma barragem de contenção de rejeitos com alto risco de rompimento. Os Índices de Desenvolvimento Humano (IDH-2022) desses dois municípios (0,661 e 0,688, respectivamente) são muito inferiores ao de Minas Gerais (0,731) e ao do Brasil (0,760).
Vejamos o que aconteceu na vizinha Teixeiras. O início da exploração de uma jazida de magnetita, na comunidade de São Pedro, na divisa com Pedra do Anta, acendeu todo tipo de expectativa de progresso para a região. A mineradora chegou ao local vendendo ilusões, o que acabou gerando mal-estar entre os moradores, já que alguns compraram a ideia e não admitiam que os demais pudessem atrapalhar o empreendimento. Os agricultores da região abandonaram a agricultura e muitos deles alugaram suas terras por valores irrisórios para as mineradoras, ou foram obrigados a cedê-las por força de liminares. Em poucos anos, a mineradora teve suas atividades suspensas e trouxe frustração para os dois municípios. Em julho de 2023, duas das quatro áreas de exploração foram embargadas pela Supram-ZM (Superintendência Regional de Meio Ambiente da Zona da Mata), em razão de crimes ambientais, como desmatamento ilegal de mata nativa, exploração de área sem licenciamento ambiental e deposição de rejeitos sem licenciamento. Deixaram para trás propriedades sem acesso à água, encostas erodidas e processos judiciais de indenização por falta de fiscalização por parte do Estado.
A mineração em Minas Gerais traz lucros imensos para as grandes empresas multinacionais, mas trata o seu território sem maiores cuidados e às vezes parece encarar a população como meros obstáculos fáceis de lidar ou remover. A mineração é importante, é necessária, mas não traz a riqueza que tanto apregoa; traz dependência dos valores por tonelada que o mercado mundial dita. A mineração vende nossas riquezas a baixo custo, suga nossa água apenas para misturá-la com pó de minério e levá-la por minerodutos até os portos, deixa barragens eternamente ameaçadoras, leva vidas, desmancha montanhas e sonhos, e polui nosso ar. Triste legado. Minas merece mais!
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