Artigo publicado no jornal Folha da Mata, Viçosa-MG, 14 ago. 2025
Em coautoria com Luísa Heringer de Oliveira
O ser humano estabelece relações intergeracionais nos diversos ambientes em que transita ao longo de sua existência. Imediatamente após nascer, começamos a nos relacionar com outras pessoas que apoiam nossa existência. Ao longo da vida, formamos inúmeros vínculos com outras pessoas. Pensamos, por exemplo, em nossos pais, nos professores e em outros adultos, parentes ou não, com os quais convivemos em várias fases de nossa existência. Esse tipo de relação é o que chamamos de contato intergeracional, o qual é altamente necessário. Um aspecto amplamente debatido atualmente é como promover esse tipo de relação, especialmente entre pessoas idosas em nossas cidades.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), um dos grandes desafios do envelhecimento é o isolamento social dos idosos, o qual está associado a diversos fatores, como o declínio da saúde física e mental, moradias inseguras, insalubres ou inacessíveis para pessoas com mobilidade reduzida e ambientes sociais inadequados. A promoção da socialização é, portanto, essencial para a criação de espaços de convívio. Ela contribui para a construção do senso de identidade, que está diretamente relacionado à conexão com o espaço físico e seu entorno. Nesse contexto, a intergeracionalidade afirma-se como uma ferramenta importante para a promoção do envelhecimento saudável nas diversas políticas voltadas ao idoso. Estudos recentes evidenciam os benefícios dos espaços intergeracionais projetados para fomentar a interação entre crianças, jovens e idosos.
Há diversas formas de criar ambientes que possibilitem essa convivência, tais como espaços multiuso, lugares para oficinas de artes, locais de reunião e locais espontâneos de encontro que promovam empatia e fortaleçam o senso de comunidade entre gerações. A Política Nacional do Idoso (PNI) estabelece, como uma de suas diretrizes, a “viabilização de formas alternativas de participação, ocupação e convívio do idoso, que proporcionem sua integração às demais gerações”. A OMS também destaca a interdependência, a solidariedade e o apoio mútuo entre gerações como princípios do envelhecimento ativo, reconhecendo a importância dessas relações e incentivando o aprendizado intergeracional por meio de programas específicos. Além disso, ambientes intergeracionais valorizam a memória e a transmissão de saberes dos idosos para os mais jovens, garantindo a continuidade e a identidade cultural. Esses espaços são oportunidades de preservar relações humanas que, com o tempo, tendem a se enfraquecer, evitando o confinamento dos indivíduos ao convívio exclusivo com sua própria faixa etária. A formulação desses locais deve considerar o combate aos estigmas e preconceitos sobre o envelhecimento, ainda presentes na visão de parte da população mais jovem.
Os ambientes que possibilitam a intergeracionalidade são diversos, uma vez que o conceito envolve contatos entre gerações nos mais variados contextos. Entre eles, podemos citar os centros comunitários e os de convivência, que promovem programas e eventos de integração; além disso, espaços públicos, como praças, parques, centros culturais e templos religiosos, também podem desempenhar esse papel. Portanto, a criação de locais de relacionamento intergeracional deve considerar aspectos que atendam às necessidades específicas das diferentes faixas etárias envolvidas, além de incluir atividades que possam ser realizadas em conjunto, promovendo assim a integração social. Nossas cidades carecem desses espaços, e, por isso, é fundamental que sejam incorporados aos projetos e obras dos gestores públicos municipais.
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