domingo, 7 de março de 2010

Cidades Brasileiras: Trânsito cada vez pior

Nos últimos dez anos, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA, o Produto Interno Bruto brasileiro cresceu , em média, 4% ao ano. As taxas de crescimento da venda de automóveis e de motos foram muito maiores. A de automóveis chegou aos 9% no último ano, ou seja, passamos de 24 milhões de automóveis, há dez anos atrás, para mais de 56 milhões atuais. E, com a isenção de alguns impostos, o crescimento não pára. Mais impressionante que isto foi a taxa de crescimento do número de motos, que chegou aos 19%. O pior é que houve, nas cidades brasileiras, uma diminuição do número de passageiros em transportes públicos em relação à década passada. Isso significa uma mudança drástica, para pior, do trânsito urbano. Estamos indo em direção ao padrão asiático de mobilidade, em que os veículos de duas rodas se tornaram a base da matriz do modo de transportes.

Muitos daqueles que antes andam de ônibus, que tiveram sempre suas tarifas aumentadas, passaram a andar nas ligeiras e baratas motocicletas de baixa cilindrada. Ficou muito fácil adquiri-las. Em pouquíssimos anos, o Brasil deverá vender mais motos que automóveis. As motos conseguem se mover com muito mais rapidez e agressividade nos caóticos engarrafamentos que ocorrem nas metrópoles, nas grandes, médias e também nas pequenas cidades brasileiras. O resultado dessas mudanças é que o trânsito ficou muito mais perigoso. A mortalidade disparou: de 700 mortes de usuários de motocicletas em 1996, o número foi multiplicado por dez, dez anos depois. A frota de motocicletas é em torno de 20% do total de veículos, mas já é responsável por mais de 25% dão total de mortes em acidentes de trânsito. O serviço de moto táxi, até poucos anos atrás proibido, foi regulamentado pelo governo federal, e certamente acrescentará mais números para as estatísticas de acidentes graves e fatais. Outro resultado destas mudanças é o aumento da poluição do ar. Estima-se que uma motocicleta emite doze vezes mais monóxido de carbono do que um usuário de transporte coletivo. A poluição sonora também aumenta, com os roncos e aceleradas irritantes dos canos de descarga das motos. Resultado: mais estresse e violência nas cidades.

Hoje, ficou muito fácil adquirir um transporte particular. Dá para comprar motos até em supermercados. Enquanto não há políticas para diminuir os problemas causados pelas mudanças nem para melhorar, em muito, as formas e a eficiência dos transportes públicos e de transportes alternativos, vivemos um quadro de crescente preocupação. Cada um quer resolver seu problema de mobilidade. A grosso modo, temos a proporção de um automóvel para cada três pessoas, ou seja, há, incluindo as motos, quase o mesmo número de rodas do que de pés. Nas metrópoles, como em São Paulo, já há mais rodas que pés. Mesmo nas cidades menores, onde a densidade populacional aumenta em proporções muito maiores que a de aberturas de novas ruas, surgem os engarrafamentos, aumentam os números de acidentes e atropelamentos envolvendo motociclistas e pedestres. Perde-se mais tempo nos automóveis que andando a pé, mas os riscos dos pedestres aumentam. As perspectivas, pelo menos em curto prazo, são muito preocupantes.

2 comentários:

  1. E o governo brasileiro se vangloriando de que vão ser vendidos mais 300 mil veículos só neste mês de março.

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  2. E, na UFV, vc tendo quase que por estacionamentos no corredor dos gabinetes, porque os professores (não todos, claro, mas muitos) se incomodam muitíssimo de andar 50-60 metros para chegar em seu departamento...

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