10 março 2010

Forma urbana e os meios de transporte


A evolução dos sistemas de transportes sempre transformou as cidades, em sua conformação e crescimento. As cidades, até o início do século XVIII, tinham como meios de circulação os pés humanos e a tração animal, por isso eram compactas. Bem depois vieram os trens e os bondes, que induziram o crescimento das cidades ao longo dos seus trilhos. Na vez dos automóveis, as cidades se esticaram para todas as direções possíveis, gerando bairros pouco adensados, cada vez mais longe das áreas centrais. Mais à frente, vieram os ônibus para alcançar onde os trilhos não chegavam e, nas grandes cidades, os metrôs. De compactas, as formas das cidades se alteraram para a dispersão quase sem fim, primeiramente nas cidades- jardim aos subúrbios, depois com a conurbação (quando as áreas urbanas de cidades vizinhas se juntam) e rurbanização (quando as áreas rurais passam a ser ocupadas por usos não rurais, como os condomínios residenciais).

As cidades atuais, portanto, têm estruturas espaciais complexas, definidas pela topografia, cursos d’água, pela distribuição dos bairros residenciais, pela localização dos empregos e equipamentos urbanos. A forma com que esses componentes são distribuídos muda durante o dia, por causa dos deslocamentos necessários das pessoas para suas atividades (moradia, trabalho, escola, médico, lazer etc.). A falta de política eficiente de transporte coletivo faz com que cada pessoa solucione suas necessidades de mobilidade. O uso das bicicletas é uma boa solução, mas fica desestimulado se a topografia ou grandes distâncias não ajudam, é perigoso se não existir um bom sistema de ciclovias, pois coloca os iclistas em competição desproporcional com os veículos motorizados. Antes, a grande maioria resolvia os problemas de mobilidade, quando tinha condições financeiras, com a aquisição de automóveis. Aos poucos, as motocicletas, pela sua agilidade e baixo custo, também ganharam espaço. Quem perdeu espaço foram os pedestres, com a contínua ocupação dos espaços públicos por comércio ambulante, o avanço das edificações, obstáculos diversos como rampas das garagens e em muitas cidades, com as péssimas condições das caçadas.

Há, portanto, uma crise de mobilidade, e em seu centro estão os automóveis e as motocicletas, causadoras dos congestionamentos, do aumento da poluição, dos acidentes. As cidades pagam muito caro por isso. Enquanto a política federal e a de alguns estados injetam bilhões e isentam impostos para manter o financiamento dos automóveis, para enfrentar uma crise, geram outra, com acidentes, doenças e muita insegurança. Erradamente não há políticas de desoneração e de criação de infra-estrutura adequada para o transporte coletivo. Não há incentivos para o uso de meios não motorizados. Então, como devem crescer as cidades? Podem crescer horizontalmente desde que estejam ocupadas as áreas centrais e os vazios urbanos que não cumprem à função social. Podem crescer verticalmente desde que a infra-estrutura (redes de abastecimento de água, de esgotos, de drenagem e capacidade da estrutura viária) dê suporte. Mas têm também que planejar com políticas que contemplem um bom sistema de transporte coletivo e o uso de meios não motorizados, com a construção de passeios acessíveis e mais largos, ciclo faixas seguras.

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