QUERO MINHA PRAÇA
Ítalo Stephan. Arquiteto e professor da UFV
Uma polêmica decisão da justiça determinou que os construtores dos edifícios atualmente conhecidos como “Carandiru” construíssem uma praça pública entre as duas torres. Isso aconteceu há dez anos, mas até hoje a população não recebeu a tal praça. Tal medida seria a compensação pela construção dentro da faixa não edificável do ribeirão São Bartolomeu dos dois prédios que foram indevidamente batizados de condomínio Burle Marx, nome do maior paisagista brasileiro (vide Tribuna Livre de 9/06/200). O povo fez justiça e apelidou tal aberração com um nome mais adequado.
Onde passava um ribeirão, ladeado por uma frágil mata ciliar, hoje estão dois valorizados prédios, construídos com o argumento de que tinha-se a autorização do IBAMA (102/99)., que permitiu apenas a canalização do ribeirão. A população receberia como compensação para tamanho erro apenas uma ridícula nesga de terra, destinada à construção de uma pequena praça pública. As obras dos dois prédios foram feitas sob protestos enquanto rolavam os inquéritos sobre sua regularidade. Na época, discutia-se na cidade o primeiro plano diretor e a Câmara decidia adotar um afastamento de 10 metros do eixo dos cursos d´água, ferindo a legislação federal. A ganância acabou vencendo o bom senso e agredindo definitivamente o meio ambiente. Nos anos seguintes foram construídos vários prédios invadindo o leito do sofrido ribeirão.
Para tal praça restou um fosso enorme, com menos de quinze metros de largura, por cerca 65 metros de comprimento, onde antes passava o ribeirão, que hoje está entubado e erodindo aos poucos o canal por onde foi forçado a passar. Há, de cada lado um paredão de 40 metros de altura. Este horrendo corredor ficou ainda mais estreito com a construção do compartimento de botijões de gás de cada lado. Tal área está a cerca de seis metros abaixo do nível da avenida P.H. Rolfs e tem acesso por uma escada. Não há rampa nem sinal de que está recebendo as obras adequadas para a sua transformação em espaço público.
Por algum tempo havia no local um grande out door escrito “Viçosa merece esse cuidado” (Tribuna Livre de 23 de março de 2001). Está na hora de ter a promessa cumprida. Quero minha praça o mais breve possível. Quero poder freqüentá-la na hora que quiser. Quero uma praça bem iluminada, com jardins (com plantas que sobrevivam à eterna sombra). Ela terá obrigatoriamente rampas acessíveis para que eu, meus amigos, pessoas idosas, com cadeiras de rodas ou carrinhos de bebês possam passear (pelas normas de acessibilidade será necessário mais de 90 metros de rampas). É verdade que o espaço não será muito agradável. Não haverá sol nem vistas bonitas e sim inúmeros olhares e sons provenientes das janelas dos muitos pavimentos dos dois prédios. Não haverá lugar para contemplação. Mas a praça tem de ser entregue, sem mais espera, em condições de uso para todos os moradores de Viçosa.
Mas nem tudo está tão mal assim, pois a praça poderá ser emendada a um futuro parque linear, acompanhando o ribeirão São Bartolomeu em canal aberto, num parque ensolarado com passeios e ciclovias, ajardinado com viçosas plantas. Um bom exemplo de um parque linear foi inaugurado em Ouro Preto, ao longo do córrego da Casa dos Contos. Devemos incentivar a administração municipal que tome as providencias para a construção deste parque e que cobre o mais rapidamente o “cuidado” prometido.
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