quinta-feira, 4 de junho de 2009

O exemplo de Seul

Quando vemos o que foi feito em Seul, capital da Coréia do Sul, há cerca de quatro anos, podemos acreditar que às vezes a capacidade do ser humano ultrapassa a de apenas destruir o ambiente ou de construir monstruosidades de concreto e asfalto. A demolição de um gigantesco viaduto resgatou o leito de um rio e propiciou a criação de um dos mais belos parques lineares urbanos do mundo, frequentável durante o dia e à noite.

Seul, com mais de dez milhões de habitantes, é uma das maiores cidades do mundo. Destaca-se nessa metrópole uma radical e revolucionária obra de revitalização urbana. Construída por cima de um rio poluído, uma antiga via expressa elevada com seis pistas, onde transitavam mais de 160 mil carros por dia, promoveu a deterioração de uma grande área urbana. O Prefeito Lee Myung Bak liderou o projeto para demolir a autopista e recuperar o ribeirão, criando um parque linear com 400 hectares, de 5.800 metros de comprimento por cerca de 80 metros de largura. Abriu-se passagem novamente ao leito natural do ribeirão com suas águas devidamente tratadas e purificadas. Após uma transformação surpreendente, foi entregue à população um espaço de alta qualidade, um bucólico parque urbano que trouxe para sua vizinhança uma série de atrativos como locais de trabalho, lojas, restaurantes e cafés. À noite, a população tem um parque intensamente iluminado e seguro, e pode passear por calçadas, ao lado de anfiteatros, jardins, cascatas e esculturas. Pode-se atravessar o ribeirão por pontes ao nível das ruas laterais ou por caminhos de pedras quase ao nível da água corrente. Muitas pessoas sentam-se às margens para contemplar as águas límpidas.

O prefeito, eleito em 2002, enfrentou forte oposição dos residentes e das pessoas preocupadas com os custos. Mesmo assim, em 2003, iniciou a demolição do elevado e a limpeza do ribeirão Cheonggyecheon. Esse ambicioso projeto ecológico custou cerca de U$350 milhões para reabrir o curso d’água, 44 anos depois de encoberto pelo concreto do desenvolvimento urbano caótico e insustentável, voltado para o automóvel. O carro particular cedeu lugar para o transporte coletivo (que teve projetos de melhoria implementados) e para as pessoas que agora convivem com um cenário inteiramente amistoso e saudável. Os efeitos ambientais da obra foram notáveis, pois um rio possui efeito climatizador natural: aumenta a ventilação e abaixa a temperatura. Descobriu-se que a temperatura nas proximidades do parque caiu em média 3,6 graus Celsius.

O projeto de revitalização urbana em Seul é um exemplo das inúmeras possibilidades do que tecnologia e vontade política são capazes de gerar benefícios para a população e o ambiente. Não custa nada fazer mais um exercício de utopia para Viçosa, que tem seu ribeirão sujo e suas margens invadidas. Viçosa não tem milhões de dólares, mas também não tem autopistas, nem milhões de habitantes. Para termos um parque linear ao longo do São Bartolomeu não é preciso demolir elevados, apenas a mesmice.

Nenhum comentário:

Postar um comentário