04 agosto 2012

Os candidatos e as cidades

Publicado no jornal Tribuna Livre de Viçosa, em 15 de agosto de 2012

Chega mais uma vez o período eleitoral. Candidatos a prefeito e vereadores exploram todos os meios com o objetivo de nos alcançar e conquistar votos. Há absurdos como as campanhas milionárias nas cem cidades mais pobres do país, onde haverá desperdícios de dinheiro suficiente para a construção de 40 creches, 50 postos de saúde da família (PSF) e para solução de saneamento básico para dezenas de milhares de pessoas. Para alguns de nós, os motivos da escolha do nosso valioso voto serão simples, baseados em alguma relação de conhecimento ou de amizade com o candidato, um pouco de simpatia. Para outros, o motivo será amparado em promessas de escusas de trocas de favores futuros.  Para uns, a escolha se dará pelas relações partidárias; para outros, pelo carisma ou pela extravagância. Entretanto, o melhor motivo deveria ser a escolha pela competência e pelo comprometimento verdadeiro dos candidatos com políticas públicas, dentre elas pela política de desenvolvimento urbano e meio ambiente.

A maioria das cidades continuará a crescer, como acontece há décadas, de forma descontrolada, sem regras claras, atendendo às demandas do setor da construção civil e sem a fiscalização eficaz. O meio ambiente continuará a ser castigado pelo desrespeito às margens dos cursos d’água e nos topos de morros; pelo esgoto sem tratamento; pelas águas pluviais sem a adequada coleta; pela disposição final sem tratamento do lixo. Os proprietários de terras continuarão fazer em seus pedaços de terra o que bem entendem, ignorando que o seu direito termina onde começa o do outro. As demandas diárias, imediatistas, continuarão a empurrar a elaboração de projetos e planos para depois, consequentemente para jamais serem realizados. A população continuará a se envolver timidamente, cobrando, quando muito, apenas pelo que lhe interessa. Tudo isso permanecerá no dia a dia com a conivência dos que possuem cargos políticos.

Tem sido assim, mas não há mais tempo a ser perdido. A situação das nossas cidades já se agravou há muitos anos e tende a piorar, se medidas importantes forem mais uma vez postergadas. Vemos isso no crescimento incontido das periferias; no exagerado número de terrenos vazios dentro de bairros valorizados; na construção de conjuntos de habitação social em locais cujo critério de escolha foi apenas o baixo custo da terra.  Não há solução adequada para priorizar o transporte coletivo, para garantir passeios com acessibilidade a todos, para facilitar a circulação de bicicletas. Continua-se a construir com irregularidades, seja por ocupar mais que a rua comporta, pelo desrespeito aos afastamentos, pela construção acima dos passeios, pela construção de rampas para garagens em espaço público (calçada e rua), seja pela impermeabilização total dos terrenos. Temos cidades com legislação urbanística obsoleta, ou mesmo sem legislação. Ter lei poucas vezes significa ter sua aplicação.  A ausência de uma estrutura de planejamento urbano e de fiscalização das obras são nossos eternos problemas.  Em nossas cidades há obras desnecessárias e superfaturadas enquanto há obras importantes iniciadas, inconclusas, ou as que nunca saíram de promessas.

Tudo isso tem a ver com quem decidirá quais serão os próximos governantes e legisladores das nossas cidades. Nossos candidatos têm de mostrar sua posição e conhecimento a respeito dos problemas urbanos, pois caberá a eles a responsabilidade de agir, de começar a mudar o preocupante destino das nossas cidades. Estes pleiteantes, sim, poderão justificar e merecer nossas escolhas.

Comentário de amigos:

É, mas a maioria dos prefeitos querem o capeta, mas não querem um urbanista. A explicação é simples: com ele a cidade deixa de ser mercadoria de barganha, para ser uma construção coletiva. E isso é tudo que eles não querem. É triste, mas é a verdade....

Por isso, e outras, as cidades precisam contratar entre seus funcionários urbanistas com visão dos caminhos pelos quais as cidades deverá rumar!

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