domingo, 19 de maio de 2013

A Cidade do Futuro - I

Artigo publicado no jornal Tribuna Livre, de Viçosa-MG, em 03 de julho de 2010


Biblioteca-parque em Medellin, Colômbia. Um laboratório cultural contra a violência.

O futuro já chegou para muitas cidades no mundo. Hong Kong foi eleita recentemente como a melhor do mundo para se viver, em termos de oportunidade de trabalho e de mobilidade. É também a cidade com o maior número de arranha-céus – são mais de 7.600! A cidade chinesa possui proporcionalmente dez vezes menos automóveis que a capital de São Paulo. O prefeito proibiu a cidade de crescer para os lados.  O sistema de transportes coletivos funciona. A prefeitura estimulou o hábito de andar a pé e isso deu certo.  Em Vancouver, no Canadá, uma outra cidade com altíssima qualidade de vida, cerca de 40% da população dispensa carro e vai ao trabalho caminhando. É assim no primeiro mundo. Dá para ser assim aqui.

A cidade do futuro precisa parar de crescer indefinidamente para os lados. Deve ser mais compacta. O custo de manutenção de uma cidade de malha urbana compacta e de alta densidade populacional é muito menor que o daquelas que se esticam sem parar. Crescer verticalmente não é problema, desde que seja bem planejado. É necessário ter transporte coletivo com diversas modalidades.

O transporte público, seja ônibus, bonde, VLT, trem, metrô ou  barca deve ser abundante, barato, limpo, confortável e seguro. É preciso eliminar vagas de estacionamento, alargar calçadas e construir calçadões e ciclovias. Isso já ocorre nas cidades e contribui com boa qualidade de vida.

A cidade precisa preencher seus imprestáveis vazios urbanos. É intolerável admitir terrenos vazios no meio da malha urbana, que estejam apenas aguardando valorização. Cumprir a função social da propriedade é um princípio fundamental e há instrumentos urbanísticos para combater a especulação, perfeitamente aplicáveis como o IPTU progressivo no tempo e a criação de Zonas de Especial Interesse (com regras especiais) para habitação de baixa renda de qualidade e  dignidade. Os prefeitos conhecem essas práticas, mas falta coragem política de aplicá-las.

A cidade deverá oferecer bibliotecas em todos os bairros e ter centros culturais com cinemas, teatros, oficinas de arte em todas as suas regiões, para alcançar a todos os seus moradores. Precisa oferecer doze metros quadrados de área verde por habitante, uma meta muito longe ainda de ser alcançada por aqui (só ocorre em Curitiba). A cidade precisa respeitar seus cursos d’água, conviver harmoniosamente com eles e, aos poucos devolver os seus leitos revitalizados. A solução dos parques lineares é muito difundida nos países desenvolvidos (veja o Rio Cheong Gye Cheon em Seul). Um parque linear, além de proteger as várzeas e evitar o assoreamento, representa a oferta de opções de recreação, lazer e equipamentos de ginástica. A água deverá ser tratada como bem esgotável. A chuva deve ser armazenada, a água reutilizada. As coberturas e paredes dos prédios produzirão alimentos energia.


Rio Cheonggyecheon em Seul

Tudo isso já acontece em algum lugar do mundo. Quão longe estamos do futuro? Nossas cidades sequer atendem às necessidades básicas de saneamento, pois tratam apenas parte dos esgotos; mal conseguem drenar as águas pluviais e dar um fim adequado ao lixo. Os conjuntos habitacionais de baixa renda são vergonhosos arremedos de cidades. Um dia, devemos crer, poderemos ter nossas cidades com os atributos citados ou ficaremos atolados num passado interminável? Quem pode alcançar esses benefícios? Quem pode mudar tudo isso? A resposta é a mais óbvia de todas. Todos a temos de cor e salteado. Basta que sejamos nós os agentes da mudança.

http://josegenao.wordpress.com/2006/12/01/un-laboratorio-cultural-contra-la-violencia/http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/cidade/projeto-restauracao-cheonggyecheon-seul-parques-lineares-552633.shtml


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