Artigo publicado no jornal Tribuna Livre em 11/09/2013
O modelo de urbanização da grande maioria das nossas
cidades se esgotou. As tensões criadas por ele estão sendo motivo de
manifestações em muitas cidades brasileiras. A mobilidade urbana se tornou uma dos
temas essenciais. Falar de mobilidade urbana não é só tratar dos meios de
transporte. O tema suscita uma questão precedente e ainda mais ampla: o
planejamento urbano que é inexistente, rarefeito ou
feito de formas insustentáveis.
O crescimento extraordinário da frota de veículos particulares,
patrocinado pelo governo, por meio de isenção de impostos e à custa de perdas
de recursos para os municípios, trouxe às cidades a ampliação dos problemas
relacionados ao trânsito, como a multiplicação de engarrafamentos e índices
crescentes de acidentes. O crescimento desorganizado das cidades trouxe a maior
segregação social. Tal crescimento foi moldado antes pelas facilidades criadas
pelos automóveis. Recentemente, como conseqüência de irresponsabilidade na
gestão urbana, pelo espraiamento, com significativa contribuição da implantação
dos programas de habitação de interesse social em locais afastados, de terra
barata, sem estrutura urbana, isolando a população, somado à permanência dos
vazios especulativos nas áreas com infraestrutura.
O transporte foi solucionado prioritariamente por meio do
financiamento do automóvel particular, pelo arriscado uso de bicicletas ou pela
única forma viável, a de caminhar. Os serviços de transporte coletivo não
acompanharam a demanda. São caros, não pontuais, com poucos horários, dificultam o acesso das pessoas de menor renda
às áreas dotadas de espaços de educação, lazer, cultura, compras, consultórios,
enfim, impedindo parte da população de
viver a cidade quando e como necessitarem ou quiserem.
Há muitas formas de enfrentar essa imobilidade urbana. No
planejamento urbano, basilar, há diversas
maneiras. Devem-se aplicar os instrumentos do Estatuto da Cidade no sentido de
exigir o uso ou a ocupação (edificação, parcelamento ou utilização
compulsórios) dos vazios urbanos e aplicar o IPTU progressivo no tempo. É
possível orientar o crescimento urbano limitando a proliferação de loteamentos
e estimulando maior adensamento populacional, por exemplo, ao longo das vias
arteriais em condições adequadas. Outra forma é desconcentrar a cidade,
incentivando a instalação estratégica, em outros bairros, de agências bancárias,
supermercados, prédios institucionais ou públicos geradores de fluxo. Dentre as
propostas do Plano Diretor de São Paulo há a exigência de inclusão de lojas nos
pavimentos térreos dos prédios residenciais e a redução para apenas uma vaga em garagem para cada apartamento
próximo às estações de metrô. Cabe acrescentar à lista a ampliação das áreas
verdes, itens raros em bairros não
centrais.
Na linha de frente dos problemas urbanos estão, entre
outros, os causadas pelos automóveis particulares. O planejamento atual tende
fortemente a desestimular seu uso, no entanto é preciso melhorar muito a
qualidade dos transportes coletivos e oferecer condições para o uso de outros
modais. Para facilitar a mobilidade é
importante construir ciclovias ou ciclofaixas, utilizando inclusive, os leitos
dos cursos d’água, das linhas férreas ou aquedutos. A redução da oferta de
vagas de estacionamento nas áreas centrais desestimula o uso do transporte
individual.
Há potenciais para melhoria das condições de mobilidade
nas nossas cidades, mas não há muito tempo antes que eles se esgotem. Há
soluções técnicas eficientes que precisam ganhar lugar junto às decisões
políticas dos administradores municipais.
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