06 setembro 2015

ASFALTO, NÓS TE AMAMOS


Artigo publicado no Jornal Tribuna Livre, Viçosa-MG, em 3 de setembro de 2015

Por que os prefeitos gostam tanto de asfalto? Por que as pessoas gostam tanto de asfalto? Em meio à crise hídrica nacional e às práticas cada vez mais necessárias e urgentes de sustentabilidade, ainda persiste entre nós a mentalidade míope de que o asfalto deve ser aplicado indiscriminadamente nas cidades.

Em Viçosa, o prefeito anuncia o asfaltamento em bairros de classe média, com a substituição de blocos sextavados por asfalto. Os moradores, em maioria, adoram e cobram da prefeitura esta solução. No entanto, a prefeitura vai promover a retirada de uma solução mais adequada, por ser mais permeável, que o asfalto. O problema não é bloco de concreto. Os blocos são menos quentes que o asfalto e permitem consertos nas redes de água, esgotos e pluviais sem maiores problemas. Os remendos no asfalto sempre são problemáticos, os em blocos são de fácil recomposição. A nova pavimentação vai impermeabilizar ainda mais o solo, o que incidirá na descarga mais rápida das águas pluviais para os acanhados e sofridos córregos, além de diminuir a absorção da água até os lençóis freáticos.

Um dos principais defeitos da pavimentação surge quando sua base é mal executada. Uma base mal feita também terá o assentamento dos blocos com problemas ou um asfalto com problemas. A rodagem nos blocos, ao invés de degradá-los, com a ação dos raios ultravioleta e com a umidade, se torna cada vez mais rígida. O asfalto se deteriora com esses agentes e precisa ser retirado com frequência. Os blocos de concreto ficam intactos. Além disso, é o único tipo de pavimento que não pode ser encarado como um gasto e sim como ativo fixo, uma vez que não se deteriora com o uso. Os blocos podem ser facilmente moldados e aplicados.

A intenção de retirar os blocos existentes para aplicá-los nos bairros mais humildes é curiosa, pois se não servem para os bairros ricos, por que servem aos mais pobres? Por que não corrigir os defeitos e cuidar de tantas outras prioridades básicas existentes em tantos bairros com péssima infraestrutura? O asfalto dá muita visibilidade política. O asfalto reinveste recursos públicos em bairros privilegiados.
O asfalto trará inicialmente um conforto maior para os motoristas e passageiros dos veículos, mas favorecerá mais velocidade para os automóveis e exigirá a construção de quebra-molas no futuro. O asfalto trará mais calor para os moradores e levará mais fuligem para as casas. A mudança provocará mais acidentes de trânsito e mais enxurradas.  Que vantagens são essas?

É muito grave quando se aplica asfalto em vias que não têm um sistema de drenagem, ou este é insuficiente. Isso vem sendo feito em nossa cidade, mesmo à revelia da lei. Levar os blocos para pavimentar vias nos bairros mais pobres sem implantar antes o sistema de drenagem também é inaceitável. Asfalto usado indiscriminadamente é tolice. Asfalto é desejo de eleitor e é voto, mas é uma relação política ultrapassada. Asfalto é insustentabilidade ambiental. Asfalto é contramão na história.

Repetindo a pergunta: Por que os prefeitos gostam tanto de asfalto? Porque as pessoas gostam muito de asfalto!

Nenhum comentário:

Postar um comentário