domingo, 14 de fevereiro de 2016

DA QUALIDADE DO TRANSPORTE COLETIVO

DA QUALIDADE DO TRANSPORTE COLETIVO

Texto publicado no jornal Tribuna Livre, em Viçosa-MG, em 12 de fevereiro de 2016

Há poucas cidades no Brasil em que a qualidade do transporte coletivo é satisfatória. A grande maioria padece de um sistema onde prevalece a intenção do lucro dos concessionários num serviço mal prestado, caro, inseguro, ineficiente. Um serviço que não prima pela pontualidade e pelo respeito aos usuários.

O trânsito na cidade já se tornou uma das maiores dores de cabeça para a população brasileira. Diariamente é comum ver imagens de congestionamentos nas ruas, devido ao excessivo acúmulo de veículos.  Especialistas chamam isso de crise da mobilidade urbana e afirmam que acontece quando o poder público não oferece meios democráticos e eficientes para que as pessoas se desloquem. Isso também provoca estresse, perda de tempo, acidentes e o aumento da poluição. Esse problema vem se agravando nas últimas décadas em consequência da concentração de pessoas nos centros urbanos de qualquer porte, do aumento do poder de consumo das famílias, mas, principalmente da falta de planejamento urbano e do incentivo ao uso do transporte individual.

A fama do transporte coletivo não é boa. Muitas vezes as empresas de transporte coletivo são relacionadas ao financiamento de campanhas eleitorais. É comum encontrar uma frota velha atendendo cidades menores ou às linhas nas áreas rurais. Em muitas cidades, a qualidade da frota é muito ruim. Os trajetos são elaborados, não em função do atendimento ao público, mas em função de otimização dos gastos e maximização dos lucros. O negócio é focado em colocar mais gente dentro dos ônibus. Os pontos de ônibus em geral são desprotegidos do tempo e não atendem às condições mínimas de acessibilidade. Os cobradores e motoristas sequer sabem operar os elevadores para cadeirantes.

Os ônibus que circulam em nossas ruas são carrocerias montadas em chassis de caminhões. Para subir ou descer de um ônibus exige-se esforços físicos que boa parte dos seus usuários encontra dificuldades. Os ônibus arrancam e freiam, balançam exigindo muito esforço e equilíbrio dos passageiros de qualquer idade. Normalmente os ônibus não atendem adequadamente à demanda nas horas de pico; ficam lotados e o deslocamento dentro dos corredores estreitos é um  tormento e muitas vezes gera constrangimentos. Em geral, em função do estresse e da cobrança dos empresários quanto ao apertado cumprimento dos tempos de viagem, os motoristas não primam pela educação.

Em países mais desenvolvidos, os ônibus são fabricados de forma que o acesso dos usuários seja confortável. Os ônibus são novos e pontuais. Abaixam até o nível da calçada para que os passageiros entrem facilmente. Em cidades mais desenvolvidas, os pontos de ônibus são acessíveis, confortáveis, protegidos do tempo.  Além disso possuem informações de horários e itinerários. Já há em várias cidades aplicativos para celulares que informam quando os ônibus passarão. Uma cidade desenvolvida tem de garantir o direito de circular, de viver a cidade. A mobilidade deve ser uma política urbana levada a sério, com competência para diminuir as injustiças sociais nas cidades e em seus territórios municipais. Deve-se dar um basta à ultrapassada prioridade aos automóveis particulares. Sem a priorização e a qualificação de sistemas de transporte de massa pelos gestores locais não haverá mobilidade urbana verdadeira.

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