domingo, 21 de fevereiro de 2016

INDIFERENÇAS

INDIFERENÇAS

Texto publicado no jornal Tribuna Livre, em Viçosa, em 18/02/2016

Sou professor universitário há 23 anos. Tempo suficiente para viver e perceber muitas mudanças. Tempo suficiente para permanecer com alguns comportamentos em relação às pessoas, mas sem a mesma convicção de antes. Falo isso porque insisti num hábito adquirido desde a formatura da primeira turma, há 19 anos, que era o de ir cumprimentar os ex-alunos do curso nos gramados da UFV, logo após a colação de grau, após a tradicional e bonita queima de fogos. Isso aconteceu sempre que estive em Viçosa, e independentemente do fato de ser um dos homenageados.

Fato constatável é que as coisas mudaram. Fui atrás dos alunos e recebido por uma pequena minoria com carinho, mas, para a maioria senti que minha presença ali não fazia muita diferença. Gostava desses momentos para conhecer os parentes dos alunos. Não fui apresentado a nenhum. Não fui com expetativa de receber convite para o coquetel, mas ouvi uns alunos perguntando aos outros se iriam. Os alunos se juntavam para tirar fotos e raramente me incluíram nelas. Isso coroa uma trajetória em que começou com coquetéis oferecidos a todos os professores, numa fase em que os homenageados também ofereciam coquetéis e ganhavam convites, com seus acompanhantes, para os bailes, além de encontrarem mesas a eles destinados. Aos poucos os lugares foram desaparecendo e os convites destinados apenas aos homenageados e agora nem isso mais.

A espetaculosidade das festas foi alcançando níveis e custos altíssimos, ao mesmo tempo o grau de exclusão dos menos abastados os deixou de fora. As comemorações atingiram um grau de luxo, desperdício e esnobação que não deveriam, há muitos anos, ter o respaldo da UFV.

As cerimônias de formatura são momentos tão especiais, repletos de sentimento, mas se reduziram apenas a prazeres, e que prazeres, materiais e de grupos cada vez mais restritos. Alunos têm deixado a UFV sem sequer um agradecimento aos seus professores. Nem aqueles cartõezinhos com as fotos individuais aparecem mais. Para mim, além de falta de reconhecimento, é falta de educação.

Há outro lado tão triste como o criado pelos alunos. Antes, vários professores iam ao encontro dos ex-alunos, num último momento de convivência. Desta vez fui o único professor do curso a ir cumprimentá-los. Um mau sintoma também. Os tempos são outros, mas as boas maneiras, a tolerância, o respeito e a gentileza nunca deveriam sucumbir. Tentarei manter, não sei por quanto tempo, um costume que não quero abandonar, mas que a indiferença incomoda muito, ah, incomoda!

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