domingo, 4 de setembro de 2016

VIOLÊNCIA ONIPRESENTE

Artigo publicado no jornal Nova Tribuna, Viçosa-MG, em 31/08/2016

Algum tempo atrás, o que era para ser uma ótima comemoração de aniversário terminou de uma forma muito desagradável. Estávamos em um restaurante, cerca de 12 pessoas, com papos animados, até que, por volta da meia noite, quando voltei do banheiro, parei distraidamente,  ao lado de alguém de pé e só após alguns instantes percebi que era um rapaz, com capacete, luvas e casaco pretos, apontando um revolver para o grupo. Muito agitado, o rapaz disse que queria dinheiro. Pegou também alguns celulares e bolsas, mandou que fôssemos para os banheiros e, enquanto nos deslocávamos obedientemente, saiu correndo de encontro a uma outra pessoa que o aguardava numa motocicleta, que rapidamente desapareceu. Felizmente a noite terminou sem nenhum ferido, mas com muitos sustos. A ficha custou a cair, mas o que senti é uma mistura de sentimento de fragilidade, indignação, tristeza, impotência e desamparo. Ao sentir na pele a violência, pela primeira vez em mais de vinte e três anos em Viçosa, pude sentir o que tantos sentem, e o que mais doeu foi saber que, em muitos casos, as situações chegam a tragédias, com traumas para toda a vida. Já achava muito desagradável acompanhar o crescimento do número de páginas policiais nos jornais locais. Encontrar nosso nome em uma das muitas matérias não foi nada bom.

Desta experiência ruim tirei algumas lições, sem me ousar considerar dono da verdade. O mundo é desigual e a violência existe, mesmo que creiamos viver dentro de uma bolha inexpugnável, de achar que nunca seremos alvo de alguma ocorrência. Mas essa bolha é frágil e sujeita ao que acontece no mundo exterior. Num descuido, num azar e acontecem coisas ruins. Não acho que bandido bom é bandido morto, chavão que acompanha alguns casos assim. Os rapazes pareciam estar tão nervosos quanto a gente e certamente fizeram tal coisa mais como uma consequência do desequilíbrio socioeconômico que nossa sociedade provoca. Ao contrário do que mais um chavão que ouvi, não acho que isto aconteceu porque "a população está desarmada", pois acredito que se tivesse alguém armado que esboçasse alguma tentativa de reação, assim como se alguém tivesse tentado alguma atitude de confronto em nossa mesa, ou por parte dos que trabalhavam no restaurante, aí sim poderia ter acontecido uma tragédia. Como todo mundo reagiu corretamente - ou seja, seguimos o que os caras mandaram - tudo acabou rápido e relativamente bem (fora o medo que passamos).

Felizmente nada de grave ocorreu para nós, foi uma sorte que muitas pessoas não têm. A vida segue, estamos vulneráveis a todo instante. Há muitas chances de estarmos nos lugares errados, nas horas erradas. A violência desde sempre acompanha nossa civilização, em maior ou menor grau, e as formas de diminuí-la e enfrentá-la vêm desafiando a teóricos, autoridades e aqueles que trabalham com os seus efeitos cotidianamente. Enfim, vivemos uma situação delicada, indesejada, quase inevitável, que muitos vivem todos os dias, nas ruas, nas casas, nos seus locais de trabalho, em qualquer lugar. Até quando isso vai durar, ninguém sabe.

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