Texto publicado no jornal Folha da Mata, Viçosa, em 29/11/2018
Nas três últimas décadas, alguns
fenômenos começaram a marcar fortemente as nossas cidades. Eles são resultados
de como as cidades contemporâneas crescem, de formas desiguais, fragmentadas e
segregadas. São formas com interferência dos agentes mais poderosos: os
proprietários das terras e os detentores dos meios de produção. São fenômenos
que ampliam os custos de gestão urbana, influenciam o aumento dos contrastes
sociais e econômicos ambientais e impactam o meio ambiente. Um desses fenômenos
é a fragmentação urbana.
Essa fragmentação corresponde a
uma mistura de usos do solo desconectados, pouco articulados por um sistema viário
quase sempre precário. Ela tem sido produzida pela ação, às vezes por inação,
do Estado, pela força do mercado imobiliário e pela falta de alternativas da
população mais pobre para encontrar seu local de moradia. Essa fragmentação
transformou a cidade antes mais condensada em diversas partes, nas quais a
continuidade e a legibilidade urbanística são substituídas por territórios
descontínuos. A forma mais expressiva e comum do processo que causa a
fragmentação do espaço urbano é a segregação residencial. Somados a esse
processo, surgem novos centros comerciais e novas áreas industriais. Portanto,
multiplicam-se os condomínios fechados de alta renda em locais atraentes; os
adensados condomínios verticais fechados de baixa renda em terrenos mais
baratos; e os conjuntos de habitações populares de casas idênticas, em locais
mais afastados e pouco atraentes.
Nesse contexto, as cidades se
expandem, transformam terra rural em terra urbana. Uma imagem correspondente é a de um tecido
esgarçado. As negociações relacionadas à conversão da terra rural em terra
urbana são muito convenientes aos proprietários e incorporadores imobiliários,
visto que multiplicam seus lucros. Isso provoca uma extensão progressiva do
perímetro urbano, como forma de expandir o montante de terras a ser loteado. De
um lado, temos a cidade central e inicial, que já está loteada, edificada e
adensada; de outro temos as suas extensões nas bordas, nas franjas urbanas, que
são progressiva, lenta e esparsamente ocupadas, em sua grande maioria, de forma
irregular. Essas compõem as faixas de terra que se estendem das periferias das
cidades até os limites do município, algumas vezes com processos de conurbação.
As malhas urbanas são marcadas pelas descontinuidades territoriais, que se
expandem e geram vazios urbanos, terrenos sem cumprir sua função social. Isso
impacta fortemente o meio ambiente, com os consequentes desmatamentos, os grandes
movimentos de terra, o assoreamento dos cursos de água e o comprometimento da
produção hídrica.
Essa fragmentação aumenta o custo
de gestão, pois os novos moradores passam e exigir melhorias e obras nos
acessos viários, coleta de lixo regular, transporte público mais frequente,
transporte escolar e policiamento, etc., sem que o poder executivo consiga
atender às tantas demandas. Adiciona-se a essas, as cobranças para construção
de escolas e de locais de atendimento de saúde. Os custos de transporte
coletivo e privado aumentam. As cidades ficam caras, violentas, segregadas,
insustentáveis. O que pode ser feito? Para lidar com esta situação é necessário
coibir esse espraiamento, favorecer e até mesmo exigir legalmente o preenchimento
dos vazios urbanos, reforçar o cumprimento rígido da legislação ambiental e
urbanística. No entanto, essas medidas só poderão acontecer se a vontade
política prevalecer.
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