domingo, 16 de dezembro de 2018

SEGREGAÇÃO URBANA


Artigo publicado no jornal Folha da Mata, Viçosa, em 14/12/2018.

Neste artigo, apresento um dos processos que começou a caracterizar mais fortemente as nossas cidades nessas três últimas décadas. Trata-se do fenômeno da segregação urbana. É um fator que denuncia as desigualdades sociais e espaciais nas cidades, marcado pelas separações de atividades econômicas, culturais e dos locais de moradias. Esse fenômeno prejudica seriamente as relações e as articulações que movem a vida urbana.

Na segregação urbana, as classes de mais alta renda costumam ocupar uma região específica da cidade, geralmente onde existem mais atrativos naturais ou onde encontram facilidade de deslocamentos, concentrando-se aí também os investimentos e as benesses urbanas. Essas classes têm mais influência sobre o Estado (Poderes Executivos e Legislativo) que as demais, e conseguem mais melhorias, ampliando assim os contrastes de qualidade de vida. Os mais ricos conseguem viver em lugares com infraestrutura melhor, mais próximos aos serviços de que necessitam (shopping centers, restaurantes, hospitais). Os grupos de maior status econômico, educacional e cultural acabam por construir barreiras ao convívio e às trocas em condições minimamente igualitárias. Os mais pobres só conseguem morar em áreas de pouco ou de nenhum interesse, longe dos seus locais de trabalho, com carência de serviços públicos. Nesse caso, podemos chamar a segregação de involuntária. Nessas regiões da cidade, o emprego é escasso ou precarizado, e sua população tende a ser estigmatizada, chegando até ocorrer práticas discriminatórias no mercado de trabalho.

A concentração de comércios, de serviços e de empregos junto às classes de mais alta renda trazem conveniência e economia de tempo, mas só para essas. Por outro lado, as classes de baixa renda são as mais penalizadas pelas grandes distâncias a serem percorridas para ir ao trabalho, à escola e ao lazer. Para piorar essa situação, a prioridade nos investimentos relacionados à mobilidade e à acessibilidade urbanas tem sido o automóvel particular e o conjunto de infraestruturas que este demanda, em detrimento dos meios coletivos de transporte coletivo e de uso de bicicletas, modais mais frequentemente utilizados pelas populações de baixa renda. Enquanto as rodovias e as ampliações do sistema viário recebem vastos recursos; os sistemas de ônibus e de ciclovias avançam muito lentamente. Dessa forma, a cidade penaliza mais quem já é penalizado.

No entanto, independentemente das condições econômicas, os condomínios fechados de alta e de baixa rendas multiplicam-se, criando ilhas isoladas, guetos murados cercados de ruas inseguras.  A segregação ocorre também de outras maneiras, como a autossegregação.  É a reunião de grupos socialmente homogêneos, cujo melhor exemplo é o dos loteamentos e dos condomínios fechados, com suas entradas restritas, muros e fortes sistemas de segurança. Outra forma de segregação é a gentrificação. É a ocupação pelas classes médias em bairros da classe trabalhadora, levando à valorização dos imóveis e à expulsão dos habitantes originais. Esse processo pode também ser realizado pelo Estado, como em programas de renovação urbana, como aconteceu no Pelourinho, em Salvador e na Praia Grande, em São Luiz (Maranhão), cujas áreas residenciais antigas foram transformadas em áreas comerciais e de lazer voltadas para o turismo.

Para quem quiser saber mais, esse texto foi escrito baseado em vários autores e pesquisadores sobre a formação do espaço urbano, como Flávio Villaça, Jupira Mendonça, Roberto Lobato Correa, Jean Lojkine, Teresa Pires Caldeira e Ermínia Maricato.


Foto:
https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/geografia/segregacao-urbana.htm

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