Estrago causado pelo derretimento do permafrost na Sibéria, Rússia
Artigo publicado no jornal Folha da Mata, em 07/02/2019
Para aqueles que não acreditam na capacidade humana de modificar o planeta e de colocar a sobrevivência da nossa espécie em risco, basta ficar atento aos vários estudos levantados por organismos mundiais. Não adianta chamar charlatões sem nenhuma experiência para refugar as evidências das transformações. As oscilações climáticas são comuns na história do planeta, só que essas também são alteradas pelas ações do Homo Sapiens, com resultados muito consistentes nas inúmeras pesquisas que acompanham o processo de intervenção humana no ambiente. Tais pesquisas envolvem cientistas do mundo todo e obtêm dados da água (poluição, aumento do nível do mar, exploração da água potável, esgotamento dos lençóis freáticos); da terra (desmatamentos, mineração, processo de urbanização, derretimento do
permafrost – conhecido como gelo permanente do Ártico); do ar (níveis de partículas tóxicas e incrementadoras do efeito estufa) e, por que não, do fogo (incêndios florestais).
Há exemplos muito conhecidos de intervenções desastrosas com consequências a longo prazo, como foi Bhopal (vazamento em fábrica de pesticidas, 1984), Chernobyl (Rússia, vazamento de material radioativo, 1986), Fukushima (vazamento de material radioativo, 2011), e o rompimento de barragens de lama de rejeitos (Mariana, 2015 e Brumadinho, 2019). Centenas de milhares morreram ou ainda vão morrer por causas deles. Há inúmeros outros exemplos como Sukinda (contaminação por cromo de uma população de mais de 2,6 milhões, Índia); Ranipet (contaminação por cromo como subproduto dos curtumes, na Índia); Dzerzhunsk, a cidade mais poluída do mundo (contaminação por envenenamento de produção de armas químicas, Rússia) ou Raina, na República Dominicana (contaminação por chumbo), Paracatu, em Minas Gerais (contaminação de lençol freático em função da exploração de ouro). Grandes empresas como a Coca-Cola e a Nestlé açambarcam as águas subterrâneas, esgotando fontes em várias partes do mundo. A técnica de fraturamento hidráulico usa quantidades absurdas de água com alta pressão para liberar gás das rochas, contaminando quimicamente os lençóis freáticos de grandes áreas, com arsênico e benzeno, dentre outros elementos. Vários países já proibiram o uso dessa técnica.
Os oceanos seguem com a elevação do seu nível e temperatura, e estão contaminados por lixo, principalmente, por plástico, e com inúmeras áreas mortas. As suas águas sobem 4,5 mm ao ano (1,5 mm em função do degelo e 3 mm em função do aquecimento e do derretimento do
permafrost). Parece pouco, mas o somatório e a tendência são suficientes para assustar países inteiros como Bangladesh, que tem altitude média de 4 metros acima do nível do mar. Metade da população humana vive no litoral. Outro efeito é o aumento da acidez das águas, que altera a fauna e a flora dos mares, comprometendo especialmente os recifes, berçários e abrigos de inúmeras espécies.
Estamos sim alterando nosso ambiente com tendências que alguns cientistas já as consideram irreversíveis. Como afirma Saskia Sassen, em seu livro “Expulsões” (Paz e Terra, 2014), os esforços de muitos governos para combater as mudanças climáticas não serão suficientes. Dezenas de instituições e personalidades sérias (como o cientista Richard Dawkins) alertam. Não podemos continuar com a irresponsabilidade de acreditar que não temos nada a ver com essas evidentes transformações. Não podemos aceitar mais tragédias. Não podemos afrouxar com o trato ao ambiente. Pregar o contrário é mais que ignorância ou charlatanice, é um desserviço à humanidade, é criminoso.