Artigo publicado no jornal Folha da Mata, Viçosa, em 31/01/2019.
A socióloga holandesa Saskia Sassen, escreveu um livro muito importante, chamado “Expulsões – Brutalidade e complexidade na economia global” (Ed. Paz e Terra, 1ª ed., 2016). Trago aqui algumas de suas principais colocações, as quais mostram como o mundo está mudando. Uma grande parte da humanidade possui um papel secundário ou até mesmo sem importância na sociedade contemporânea. Há vários processos em andamento na economia global, como a reorganização radical do capitalismo, feitos com brutalidade. A tese de Sassen é a de que há uma constituição de “formações predatórias” (elites) facilitadas por um sistema financeiro que produz uma concentração extrema de riqueza. Para a autora, não há mais um sistema interessado em produzir um setor de média renda, como antes havia.
Nos forçados regimes de reestruturação do papel do governo, iniciados na década de 1980, os governos tinham de tornar seus braços executivos obedientes às organizações internacionais, como o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial ou a Organização Mundial do Comércio (OMC). Esses programas pressionaram o pagamento das dívidas, mas os países que se sujeitaram às garras desses organismos não obtiveram sucesso na melhoria do crescimento econômico, nem na criação de governos democráticos fortes. O efeito foi o endividamento ainda mais pesado dos Estados, a falência sob regimes corruptos, fracos e insensíveis ao bem-estar dos seus habitantes. Bons líderes que tentaram resistir aos interesses das finanças poucas vezes persistiram. O setor privado passou a enfrentar falências das empresas locais, após a maciça entrada de empresas estrangeiras.
As condições atuais permitem a hipermobilidade do capital em escala global possibilitado pelas tecnologias da comunicação. Geram as invenções do ramo financeiro que dão liquidez aos capitais que não eram líquidos, favorecem a desregulamentação do mercado e o corte de gastos públicos. Corporações e governos adquirem enormes quantidades de terras em outros países com o objetivo de plantar palmeiras para a produção de biocombustível ou para retirar minerais. Esse crescimento de propriedades estrangeiras está alterando as economias locais e reduzindo as autoridades soberanas dos Estados sobre seus territórios. As consequências globais são o empobrecimento em expansão; a concentração de renda como nunca houve; o fim de projetos de vida, de meios de sobrevivência e de um pertencimento à sociedade.
Ao fim da segunda década do século XXI, não há mais a velha dinâmica keynesiana, a qual defende a tese de que o Estado é um agente ativo contra a recessão e a alta no desemprego, de forma a valorizar as pessoas como trabalhadoras e como consumidores. Nós, da espécie mais inteligente de todas, chegamos a uma realidade de um incrível aumento de imigrações forçadas, de exclusões hipotecárias, do número de pessoas encarceradas e do número de suicídios. Numa sociedade em que presídios são negócios lucrativos, o que conta é o número de “leitos” ocupados nos presídios; a produtividade do setor agrícola às custas de danos ao meio ambiente e os bilhões de dólares adquiridos por uns poucos. Essas expulsões abriram espaços para as redes criminosas e para o tráfico de pessoas. Não importam o aumento do número de desempregados, nem o aumento da pobreza extrema. Não mais importam as expulsões da fauna, da flora ou das cidades inteiras.
Foto: https://tribunademinas.com.br/noticias/cidade/30-01-2019/bombeiro-de-jf-conta-sobre-trabalho-desgastante-em-brumadinho.html
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