26 maio 2019

TERCEIRO PLANETA

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Artigo publicado no jornal Folha da Mata, Viçosa, em 23/05/2019.

Há uns meses, comprei um CD do compositor grego Vangelis, chamado Rosetta. Uma lindeza de álbum. O tema do álbum trata da expedição da sonda Rosetta, que orbitou e pousou no cometa 67P / Churyumov-Gerasimenko. Lançada em março de 2004, alcançou seu alvo dez anos depois. A sonda recebeu este nome em homenagem à Pedra de Roseta, que após sua descoberta em 1799 auxiliou no entendimento dos hieróglifos egípcios. Após seu lançamento, a espaçonave orbitou o Sol cinco vezes, realizou dois sobrevoos de asteroides e um sobrevoo de Marte, enviando dados e imagens. Em setembro de 2008 sobrevoou o asteroide Steins e em julho de 2010 o asteroide Lutetia. Depois de passar 31 meses em estado de "hibernação", numa órbita a caminho de seu encontro final, ela foi religada em janeiro de 2014, enviando de volta seu primeiro sinal após mais de dois anos e meio. Deixou dados que demandam muitos anos de estudos.

Fiz essa introdução para ressaltar o estupendo desenvolvimento científico a que chegamos. Se algum alienígena encontrasse essa sonda, imaginaria que seria uma artefato de uma civilização com alto desenvolvimento tecnológico, mesmo que talvez muito primitivo para ele. Será que imaginaria que tal conhecimento teria sido apenas uma parte usada para termos uma civilização avançada? Por outro lado, seria capaz de imaginar que esta mesma civilização pode se autodestruir, várias vezes, com o arsenal nuclear que possui? Que coloca toda sua permanência em risco, ameaçando se auto exterminar e acabar com milhares de espécies, para manter seu desenvolvimento insustentável?  Que chega ao ponto de 8 indivíduos possuírem mais recursos que metade da sua espécie? Que um sétimo da população não consegue suprir minimamente suas necessidades de alimento e que outro sétimo as consome além do que precisa? Que grupos guerreiam em nome de seu criador supremo que consideram ser o único? Que não consegue juntar seus líderes para resolver os desequilíbrios e alcançar a paz?

Talvez já conheçam tal planeta, e o estudam há milhares de anos terráqueos, mas tenham como princípio a não interferência, apenas o monitoramento científico. Talvez deixem as coisas acontecerem, talvez possam intervir em algum momento crítico. Se não for assim, talvez tais extraterrestres descubram que tal objeto tenha vindo do terceiro planeta de uma estrela branca e tenham a curiosidade de o conhecer. Vão encontrar um planeta artificialmente alterado em mais de cinquenta por cento de sua superfície. Vão identificar quarteis e hospitais; tanques e telescópios; presídios e universidades. Vão encontrar reservatórios de águas contaminadas; gigantescos depósitos de lixo; florestas e enormes plantações e áreas erodidas. Acharão gigantescas áreas contaminadas por elementos químicos e radiativos. Observarão enormes aglomerações de abrigos humanos empilhados, a maior parte feitos de materiais simples e vários com enormes edificações de aço e vidro que arranham os céus.  Verão templos e cidades destruídas, humanos tirando vidas de outros, criando e abatendo grande quantidade de animais para consumo; veículos colidindo, abrigos sendo soterrados e desaparecendo sob águas.

Os alienígenas não entenderão como podemos ser tão desenvolvidos tecnologicamente e tão atrasados enquanto seres racionais. A raça humana constrói satélites, computadores, aceleradores de partículas, tomógrafos e robôs. Mapeia o DNA humano e clona animais. Tem uma cultura riquíssima. Possui todas as condições técnicas para acabar com a fome, as guerras, o desperdício; e para adotar energias não poluentes. Mas o quê, como explicar a um E.T. que não o faz, pelos motivos egoístas do poder?

Imagem:
https://www.facebook.com/planetaterra2018/


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