ASSUSTADOR MUNDO NOVO
Artigo publicado no jornal Folha da Mata, em 05/07/2019
As próximas décadas deste século XXI vão exigir muitas mudanças, mais gigantescas que as dos séculos passados. Tecnologia, clima, economia, política, religião, população, tudo vai ser diferente nas vindouras oito décadas. Uma projeção da mudança demográfica nos foi apresentada por um estudo da ONU - World Population Prospects 2019 – amplamente divulgado na mídia, por sua grande importância. As projeções dos estudos mostram que o Brasil terá uma população com cerca de 25 milhões a menos que em 2019. Seremos o 12º país em população (181 milhões de habitantes).
Os países mais populosos que o Brasil serão: Índia (1,45 bilhões), China (1,06 bilhões), Nigéria (733 milhões), EUA (414 milhões), Paquistão (402 milhões), República Democrática do Congo (362 milhões), Etiópia (321 milhões), Indonésia (295 milhões), Tanzânia (286 milhões), Egito (225 milhões) e Angola (186 milhões). Nota-se que seis países são do continente africano, e esses terão um crescimento populacional muito acelerado. Quatro deles são subsaarianos. Angola, por exemplo, terá sua população multiplicada por 11. Quatro países são asiáticos. Apenas China e EUA são atualmente países desenvolvidos; só que os EUA ganharão 100 milhões de habitantes e a China perderá cerca de 400 milhões.
A maioria da população será muçulmana. Muitos países perderão população e terão uma grande proporção de idosos. Os países que ganharão muita população precisarão alimentar e criar empregos para centenas de milhões de pessoas. Precisarão saber criar escolas, prover atendimento de saúde e cuidar do saneamento básico. As maiores cidades do mundo estarão na Ásia e na África. Calculo que o mundo terá mais gente vivendo, ou sobrevivendo, em cidades do que a população mundial, em meados de 2019, estimada em 7,70 bilhões. As 21 primeiras cidades com maior população, segundo projeções, serão de países hoje pobres ou em desenvolvimento. Nova Iorque, a primeira representante de um país desenvolvido, aparece em 22° lugar. As dez maiores cidades terão população acima de 50 milhões cada uma. As três maiores do mundo deverão ser Lagos (Nigéria, 88 milhões!), Kinshassa (Congo, 83 milhões!), Dar El Salaam (Tanzânia, 73 milhões!). Se mantiverem os padrões atuais, mais de 90% da população das maiores cidades será favelada. Será possível gerir minimamente tais megalópoles?
No Brasil, teremos de aprender a decrescer; enquanto países hoje com baixo grau de desenvolvimento socioeconômico terão desafios hercúleos para sustentar suas populações. São problemas de amplitudes quase inimagináveis. O mundo será outro, com soluções ainda a serem inventadas. Haverá algum tipo de solução em políticas de planejamento familiar? Ampliar-se-ão os movimentos migratórios? A tecnologia a ser criada terá capacidade de produção de energia, comunicação, habitação e transporte? Haverá capacidade de alimentar tanta gente? Terão os sistemas políticos habilidade para lidar com as ameaças das ideologias radicais? Seremos capazes de lidar com a fome, com o desabastecimento de água, com as doenças ligadas à falta de saneamento básico? Haverá trabalho para tanta gente? Como será o grau de violência? O mundo terá conflitos armados mais sangrentos que os de hoje? Será possível lidar com o crescimento das cidades? Como resolver as questões de mobilidade urbana? Teremos nossos grandes problemas num Brasil menos populoso e idoso. No entanto, o mundo novo que se apresenta será assustador, pessimistamente mais desigual e injusto do que hoje, realisticamente nada admirável, a não ser que a enorme criatividade humana e a suscetível ética consigam dar conta de tamanhos desafios.
Imagem:
http://www.gobetago.com.br/2016/08/11/superpopulacao-mito-ou-verdade-entenda-as-consequencias-deste-fenomeno/
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