Uma zona úmida (wetland) em área urbana, que também funciona como parque.
Artigo publicado no jornal Folha da Mata, em 24/04/2020.
Com as mudanças climáticas em evidência, precisamos rever como estamos ocupando nossas cidades. Os meteorologistas deram o alerta de que atmosfera está mais aquecida e essa é a tendência para as próximas décadas. As inundações têm sido mais frequentes, pelo maior número de chuvas volumosas, pelo excesso de impermeabilização do solo, pela canalização dos cursos d´água e pelos movimentos sem controle de terra. No período de estiagem, falta-nos água. Os estragos físicos e as perdas sociais têm sido cada vez maiores. No Brasil, morrem mais de 600 pessoas por ano em decorrência desses acidentes, e o prejuízo ultrapassa os R$600 milhões de reais. Simplificando, a cada ano, nossas cidades causam enchentes e secas. No mundo inteiro, cientistas e arquitetos, cientes das mudanças climáticas, têm se empenhado em busca de soluções. Uma dessas é o que chamamos de cidades-esponja.
As cidades-esponja se caracterizam por criar e por oferecer meios de absorver o máximo a água da chuva e por permitir que ela siga seu fluxo natural. O conceito é dar tempo para a água ser absorvida. Possuem um sistema adequado capaz de coletar, de armazenar e de tratar das águas pluviais. Isso é feito ao criar zonas úmidas, tornar solos permeáveis e recuperar margens de rios. O conceito de cidades-esponja já foi implantado na Alemanha e, mais destacadamente, na China, onde estão construindo 16 cidades-esponja e estão adaptando essas soluções em outras 250 cidades. A intenção é criar cidades com menos asfalto, com menos concreto, com mais lagos, com mais parques e com mais vegetação. Isso pode ser feito de várias maneiras.
Uma dessas maneiras é a cobertura verde, ou seja, em vez de telhados, jardins com vegetação, hortas e até pomares. Outra é a coleta de águas pluviais, o que começa a ser uma prática comum. Em muitas cidades já existem vários prédios que, em suas fachadas, possuem jardins verticais. Há também as fazendas urbanas que se multiplicam nas cidades desenvolvidas.
As wetlands, ou zonas úmidas, são as áreas com transbordamento de rios, os quais atuam como amortecedores naturais de água da chuva (como pântanos e brejos). Áreas naturais úmidas são de grande importância para anfíbios e para espécies de libélulas, sem contar que são um terreno fértil para muitas espécies de aves. As zonas úmidas são criadas para proteger parte do escoamento da precipitação e para diminuir a taxa que as águas escoam. Há também as quadras esportivas que podem funcionar, quando necessário, como piscinões, os quais retardam o escoamento de grandes precipitações. Praças-piscina e parques alagáveis têm o mesmo princípio. Outra solução e a de usar pavimentos permeáveis nas vias e nas calçadas. Qualquer área urbana, por mínima que seja, pode funcionar como um jardim-de-chuva, em solo natural, para que a água seja absorvida.
Embora essas práticas ainda pareçam distantes das nossas cidades, elas deverão ser incorporadas ao planejamento urbano, à requalificação de áreas urbanas e suburbanas. Algumas são soluções de simples execução e com baixo custo; outras deverão ser inclusas na legislação urbanística. As mudanças climáticas estão aí, por isso é necessário começarmos a colocar as ideias em prática, para trazer mais segurança, para salvar vidas e para impedir enormes prejuízos materiais.
Foto: https://www.ramsar.org/news/mainstreaming-wetland-conservation-and-wise-use-into-national-policy
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