Temas de discussão: Arquitetura e Urbanismo. Planejamento Urbano. Patrimônio Histórico. Futuro das cidades. Pequenas e médias cidades. Architecture and Urban Planning. Heritage. The future of the cities.
27 fevereiro 2022
URBAN PATTERN: DOHA
26 fevereiro 2022
13 fevereiro 2022
RACISMO AMBIENTAL
O Instituto Pólis
é uma organização da sociedade civil de atuação nacional, fundada em 1987. Essa
organização noticiou, recentemente, sobre as mortes ocorridas em São Paulo, em
função das últimas chuvas. Inspiro-me na notícia para comentar o fato,
estendendo-o para tragédias parecidas (Bahia, Minas Gerais, Tocantins), que a
cada ano, acometem outros lugares em todo o país, em situações semelhantes. Como
informa o Pólis, “Essas mortes se repetem todos os anos em tragédias anunciadas
que poderiam ser previstas e evitadas, mas que são esquecidas antes mesmo de
soluções eficazes serem adotadas. ” Na notícia, consta que o presidente da
república culpou as pessoas por morarem em lugares perigosos, marginalizados,
sem infraestrutura, a realidade é que famílias inteiras têm sido arruinadas por
não terem possibilidade de morar em locais seguros. Podemos perguntar o que
esse presidente tem feito para impedir tais ocupações. Essa pergunta pode ser
estendida aos presidentes anteriores, assim como aos governadores e prefeitos
de agora ou de mandatos encerrados.
A ausência do
Estado e de políticas públicas de planejamento urbano e de habitação social
adequadas nas nossas cidades obriga as pessoas de menor renda a viverem
expostas ao risco em encostas íngremes ou nas margens de cursos d’água que não
poderiam ser ocupados devido à sua instabilidade e ao impacto ambiental que
causam. Segundo o Pólis, aquilo que chamam de fatalidade, na realidade, pode
ser chamado de “racismo ambiental”. Diz a notícia: “Isso significa que pessoas
marcadas racialmente são, também, as que mais morrem em consequência da crise
climática. A chuva não é a responsável por situações como as que presenciamos”.
Essa e as próximas gerações terão de conviver cada vez mais com eventos
climáticos extremos, como o excesso de chuvas. Vivemos em contínuo agravamento
da situação devido à “toada exploratória dos recursos”, que ocorre com a
conivência de todas as esferas do poder público, e “que atinge desproporcionalmente
os que menos contribuem para isso e os que menos têm recursos financeiros ou
tecnológicos para se adaptar às mudanças climáticas e às catástrofes ambientais”.
Portanto, a
crise climática não é democrática, ela afeta desigualmente as classes sociais,
os grupos sociais mais afetados (população pobre, negra, moradora de áreas precárias).
Ainda segundo o Pólis, “essa convergência de desigualdades pode ser denominada
como racismo ambiental. ” O Pólis
identifica alguns termos que fazem parte desse conceito, como o “racismo
climático” (interseção entre injustiça racial e injustiça ambiental), partindo
do princípio de que as comunidades mais impactadas pelos efeitos da crise
climática são, também, as que menos a provocam. Há o grupo de refugiados
climáticos, formado pelas “pessoas que serão obrigadas a deixar o país em que
vivem para fugir da miséria proporcionada por terras que serão devastadas pela
crise climática”. Outro termo é o “apartheid climático”, em que, no “futuro, os
territórios menos impactados pela crise climática serão os mais cobiçados”. Por fim, identifica a “gentrificação
climática”, que é o acirramento de “uma realidade repleta de escassez,
conflitos e catástrofes ambientais, pessoas ricas terão acesso privilegiado aos
melhores territórios, resultando na expulsão dos moradores antigos”. Isso tudo
pode ocorrer aqui mesmo no Brasil.
Caso mantenhamos
no poder presidente, governadores, senadores, deputados, prefeitos e vereadores
conservadores (no pior sentido), que vêm ignorando o que a ciência diz sobre o
planejamento urbano e ambiental, as questões aqui pinceladas continuarão a ocorrer
ainda com mais intensidade, com mais gente de baixa renda desabrigada ou morta.
12 fevereiro 2022
CROQUIS AULA DE PROJETO
Croquis feitos para aulas de projeto: princípios para uma arquitetura institucional. Ítalo Stephan, década de 2000.
11 fevereiro 2022
06 fevereiro 2022
TEIMOSIA
Artigo publicado no jornal Folha da Mata, Viçosa-MG, em 2/2/2022.
Estamos vivendo numa época de extremos no clima. Longos períodos de estiagem são seguidos por temporais com graves consequências materiais e humanas. Depois de uma longa estiagem, as chuvas são muito bem-vindas. Só que, com elas, vêm as consequências, muitas vezes, trágicas; marcas do despreparo de alguns e ou da negligência do poder público. Entre tantos problemas, tivemos, ao final de 2021, o da praça Mário del Giúdice, com a drenagem do Córrego da Conceição, no centro da cidade.
Depois de uma chuva forte, daquelas que em épocas de estiagem aguardamos ansiosamente, aparecem vários estragos e sustos. A Defesa Civil é acionada para atender vários locais das cidades. Ocorrem os alagamentos e os deslizamentos, muitas vezes com vítimas fatais. No período chuvoso, a pavimentação de ruas é destruída, o trânsito obstruído, os prejuízos materiais são enormes. Em alguns lugares, casas são destelhadas. Nos locais mais baixos, as águas não encontram o escoamento suficiente e entram nas garagens, lojas e casas.
Há uma série de consequências da urbanização desassistida, ilegal ou negligente. Apesar de termos leis federais, como o Código Florestal, a Lei de Parcelamento do Solo, de 1979, além dos planos diretores e leis de ordenamento do uso do solo dos municípios, os construtores as ignoram. Há décadas, as cidades têm crescido descontroladamente morro acima ou em direção aos cursos de água. Para construir, barrancos são abertos, os leitos dos cursos d’água são assoreados. As construções, quase sempre clandestinas, ocupam as margens e até mesmo adentram nos leitos, suprimindo a matas ciliares. As vias têm sido erroneamente pavimentadas com materiais impermeáveis. Os moradores têm cimentado seus jardins e seus quintais. Quando chove, as águas escoam em maior volume, pois não são absorvidas pelo lençol freático e rapidamente correm em direção às partes mais baixas, onde precisam achar coletores que deveriam ser bem dimensionados e estarem desobstruídos. Construções sobre cursos d’água foram permitidas e não há o cuidado de monitorar as condições das canalizações até que alguma cratera se abre.
Devo lembrar que, em 2014, a Praça Mário del Giúdice foi interditada, com a apresentação de rachaduras nas edificações onde funcionavam um bar e um açougue. Na época, o SAAE encomendou estudos técnicos e sondagens que revelaram que não havia condições para construção. Minha opinião foi a de que a área deveria ser transformada em uma praça. No entanto, em 2017, o Instituto de Planejamento Municipal, alegando que foram atendidas todas as exigências processuais, liberou o alvará, com parecer favorável à reforma do imóvel. Neste, ao contrário da opinião de técnicos, foi permitida a construção.
Naquela parte de Viçosa, por baixo do posto de gasolina, das ruas, da praça, da balaustrada e da farmácia, passa o córrego da Conceição canalizado, que recebe toda a carga de chuvas da microbacia, e que nem sempre dá conta do escoamento, pois junto à água, vem o esgoto, vem terra, vêm sofás e bananeiras. Sabe-se que as condições do solo não são boas e as soluções provisórias. Com a interdição do final de ano e com as obras feitas, tudo parece paliativo até a próximo evento. E assim vai se levando, procrastinando teimosamente a realização de obra adequada.