13 fevereiro 2022

RACISMO AMBIENTAL

Artigo publicado no jornal Folha da Mata, Viçosa-MG, em 10/2/2022.

O Instituto Pólis é uma organização da sociedade civil de atuação nacional, fundada em 1987. Essa organização noticiou, recentemente, sobre as mortes ocorridas em São Paulo, em função das últimas chuvas. Inspiro-me na notícia para comentar o fato, estendendo-o para tragédias parecidas (Bahia, Minas Gerais, Tocantins), que a cada ano, acometem outros lugares em todo o país, em situações semelhantes. Como informa o Pólis, “Essas mortes se repetem todos os anos em tragédias anunciadas que poderiam ser previstas e evitadas, mas que são esquecidas antes mesmo de soluções eficazes serem adotadas. ” Na notícia, consta que o presidente da república culpou as pessoas por morarem em lugares perigosos, marginalizados, sem infraestrutura, a realidade é que famílias inteiras têm sido arruinadas por não terem possibilidade de morar em locais seguros. Podemos perguntar o que esse presidente tem feito para impedir tais ocupações. Essa pergunta pode ser estendida aos presidentes anteriores, assim como aos governadores e prefeitos de agora ou de mandatos encerrados.

A ausência do Estado e de políticas públicas de planejamento urbano e de habitação social adequadas nas nossas cidades obriga as pessoas de menor renda a viverem expostas ao risco em encostas íngremes ou nas margens de cursos d’água que não poderiam ser ocupados devido à sua instabilidade e ao impacto ambiental que causam. Segundo o Pólis, aquilo que chamam de fatalidade, na realidade, pode ser chamado de “racismo ambiental”. Diz a notícia: “Isso significa que pessoas marcadas racialmente são, também, as que mais morrem em consequência da crise climática. A chuva não é a responsável por situações como as que presenciamos”. Essa e as próximas gerações terão de conviver cada vez mais com eventos climáticos extremos, como o excesso de chuvas. Vivemos em contínuo agravamento da situação devido à “toada exploratória dos recursos”, que ocorre com a conivência de todas as esferas do poder público, e “que atinge desproporcionalmente os que menos contribuem para isso e os que menos têm recursos financeiros ou tecnológicos para se adaptar às mudanças climáticas e às catástrofes ambientais”.

Portanto, a crise climática não é democrática, ela afeta desigualmente as classes sociais, os grupos sociais mais afetados (população pobre, negra, moradora de áreas precárias). Ainda segundo o Pólis, “essa convergência de desigualdades pode ser denominada como racismo ambiental. ”  O Pólis identifica alguns termos que fazem parte desse conceito, como o “racismo climático” (interseção entre injustiça racial e injustiça ambiental), partindo do princípio de que as comunidades mais impactadas pelos efeitos da crise climática são, também, as que menos a provocam. Há o grupo de refugiados climáticos, formado pelas “pessoas que serão obrigadas a deixar o país em que vivem para fugir da miséria proporcionada por terras que serão devastadas pela crise climática”. Outro termo é o “apartheid climático”, em que, no “futuro, os territórios menos impactados pela crise climática serão os mais cobiçados”.  Por fim, identifica a “gentrificação climática”, que é o acirramento de “uma realidade repleta de escassez, conflitos e catástrofes ambientais, pessoas ricas terão acesso privilegiado aos melhores territórios, resultando na expulsão dos moradores antigos”. Isso tudo pode ocorrer aqui mesmo no Brasil.

Caso mantenhamos no poder presidente, governadores, senadores, deputados, prefeitos e vereadores conservadores (no pior sentido), que vêm ignorando o que a ciência diz sobre o planejamento urbano e ambiental, as questões aqui pinceladas continuarão a ocorrer ainda com mais intensidade, com mais gente de baixa renda desabrigada ou morta.


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