27 março 2022

AOS NOSSOS FILHOS

Aos nossos filhos

Perdoem a cara amarrada
Perdoem a falta de abraço
Perdoem a falta de espaço
Os dias eram assim

Perdoem por tantos perigos
Perdoem a falta de abrigo
Perdoem a falta de amigos
Os dias eram assim

Perdoem a falta de folhas
Perdoem a falta de ar
Perdoem a falta de escolha
Os dias eram assim

E quando passarem a limpo
E quando cortarem os laços
E quando soltarem os cintos
Façam a festa por mim

E quando lavarem a mágoa
E quando lavarem a alma
E quando lavarem a água
Lavem os olhos por mim

Quando brotarem as flores
Quando crescerem as matas
Quando colherem os frutos
Digam o gosto pra mim
Digam o gosto pra mim

(Ivan Guimarães Lins / Vitor Martins)

26 março 2022

Estratégia perigosa

 

Rua Padre Serafim, Centro, Viçosa, MG. Lote vazio ao lado de um imóvel aparentemente deixado para virar ruína. Muro caído, escada desabando. 

Vista da Rua Padre Serafim - escada pendurada e janelas abertas, embora o imóvel esteja abandonado. Ítalo Stephan, março de 2022.

13 março 2022

AMONTOADO DE CASEBRES



 Nova Viçosa, Viçosa-MG. Fotos Ítalo Stephan, março 2022.

Nova Viçosa é um bairro cinquentão que nem pode ser chamado de bairro. Juntamente com Posses, é um "bairro" do tamanho de uma pequena cidade, escondido do resto da cidade, de difícil acesso, na encosta de um morro e no fundo de um vale. 

Seus moradores sofrem dramas diários já dentro de casas, muitas mais buracos que casas. As famílias se amontoam em quartos insalubres. Sofrem de enormes dificuldades financeiras. Sofrem com o risco o medo de serem soterrados por barrancos e pelos frágeis barracos.  Sofrem com o calor e com goteiras de seus telhados mal feitos. Mobilidade e acessibilidade são direitos que passam longe.

Há picadas que chamam de ruas, há algumas de terra e entulhos, umas de pedra fincada esburacadas, umas de blocos soltos, uma ou outra via asfaltada. Todas sem drenagem. Muitas dessas vias ameaçam desabar na próxima temporada de chuvas. 

Falta tudo em Nova Viçosa, a começar pelo Estado. Falta assistência técnica em qualidade e quantidade. Mas não faltam piadinhas preconceituosas sobre seus moradores, que não têm os direitos de cidadãos. Mas seus mais de 6.000 eleitores  serão lembrados novamente em 2022, 2024, 2026...

12 março 2022

NEGACIONISMO URBANO

Artigo publicado no jornal Folha da mata, Viçosa, 24 março 2022.

Vivemos num país com tantas calamidades, tão fáceis de ver e tão difíceis de justificar. Mais uma vez uma tragédia, agora em Petrópolis, nos castiga com dezenas de mortos e desaparecidos. A tragédia é tamanha que, num mesmo dia, ainda morrem de Covid oito vezes mais pessoas do que em Petrópolis e quase o mesmo número em acidentes de trânsito. Mas, pela forma tão visível e concentrada com que ocorrem, essas tragédias ambientais se tornam as principais manchetes e assuntos, até que novas tomem seus lugares na mídia e nos assuntos do cotidiano.

O que chama atenção é que, depois de cada flagelo, a imprensa mostra os especialistas no assunto para explicarem as causas dos acidentes e o que deveria ter sido feito para evitar. A cada drama isso acontece. A cada chacina, epidemia, deslizamento, enchente, acidente, lá estão os experts mostrando as causas, apontando as soluções. Soluções quase todas muito conhecidas, exaustivamente presentes na agenda da ciência, nas cartilhas das políticas públicas, nas leis, nos artigos científicos, nos jornais e nos planos de governo dos nossos políticos.

Ao trazer o assunto para as nossas cidades, o que há, de fato, é um negacionismo urbano. É só buscar as muitas soluções presentes em cada cidade, no que está escrito na Lei Orgânica (a constituição do município), no plano diretor, no zoneamento, no plano de mobilidade, nos mapas de demarcação das áreas de risco. Inúmeros projetos urbanos foram feitos e não saem do papel. Tudo isso que acontece já está nos pareceres dos técnicos, nos alertas dos especialistas em planejamento urbano, nos alertas dos “ecochatos” e da Defesa Civil, nas instruções técnicas do Corpo de Bombeiros. Todo um aparato legal e todo enorme acervo de base na ciência têm sido ignorados pelos nossos governantes. Esses são os culpados, com a conivência e com a passividade da grande maioria de consumidores, pela negligência, pela sede de poder, pelo poder acima de tudo.  Há décadas permite-se a ocupação das margens dos rios, às vezes a construção por cima desses; aí vêm as enchentes, as mortes, os danos materiais, os altos custos de obras de correção (quase sempre paliativas) e o esquecimento posterior até o próximo acidente. Faz-se também vista grossa para as ocupações em terrenos instáveis, insalubres e com alta declividade; aí vêm os deslizamentos, as mortes, os danos materiais, os altos custos de obras de correção (quase sempre paliativas) e o esquecimento posterior até o próximo acidente.

Eventualmente, entre um episódio e outro, são feitos novos (ou mesmo requentados) estudos que rapidamente são apresentados, noticiados, lidos, elogiados pelo teor científico, pela competência dos especialistas, e depois esquecidos. Há campanhas políticas no meio disso tudo, não se podem perder votos com medidas corretivas, não sobra (embora haja muito) dinheiro para medidas a médio e longo prazos. Há, por outro lado, urgência por parte dos desabrigados que restam, em arrumar um cantinho para morar, mesmo que sob o constante medo. Quase sempre voltam para os mesmos lugares arrasados, ou são abandonados para reconstruir suas vidas onde e como puderem, por conta própria, esquecidos pelo Estado, até as próximas eleições. Portanto, outras tragédias virão, mais frequentes e extremas por causa das mudanças climáticas. Tudo isso sustenta um ciclo exaustivamente repetido, uma fonte interminável de manchetes e comoções passageiras, uma irresponsabilidade crônica, uma improbidade sistêmica dos nossos políticos eleitos, que são posturas criminosas. 

Isso tudo é inaceitável, para mim, basta!


05 março 2022

NOVA VIÇOSA, VIÇOSA-MG






Nova Viçosa, um bairro com população maior do que dezenas de cidades. Criado há uns 50 anos, padece de precariedade de infraestrutura de drenagem, pavimentação, acessibilidade e irregularidade fundiária. 
Fotos Ítalo Stephan, março 2022.
 

03 março 2022

FUNÇÃO SOCIAL INEXISTENTE


Viçosa-MG, área central. Terreno vago onde havia uma casa eclética, demolida para se tornar um lote cheio de mato. Ainda por cima abriram janelas na divisa. 
Perda de patrimônio, perda de função social da propriedade  e abertura irregular. 
Foto Ítalo Stephan, março de 2022.
 

OBRAS NO CAMPUS



Viçosa, MG - O campus da UFV ainda em obras para receber os estudantes. Uma praça em frente ao Ginásio, uma guarita nas 4 Pilastras, uma praça no terreno em frente às 4 Pilastras. 
Fotos Ítalo Stephan, março de 2022.

01 março 2022

PRAÇA INACESSÍVEL

 



Av. P. H. Rolfs, Viçosa-MG. 
Uma praça nada democrática, uma praça feita como compensação por danos ambientais. Uma regra irregular imposta à lei de uso do solo para permitir a construção das duas torres.

Para relembrar:
https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/01.011/2087
https://italostephanarquiteto.blogspot.com/2009/03/quero-minha-praca.html