Artigo publicado no jornal Folha da Mata, Viçosa-MG, em 28 de agosto de 2025
Rica, exuberante, culta, poderosa, colorida, preta, parda, linda, feia, colonial, eclética, turística, pobre, violenta e receptiva: Salvador, Bahia. Primeira capital do Brasil (até 1753). Fundada em 29 de março de 1549, por Tomé de Sousa, possui 2,5 milhões de habitantes em uma região metropolitana de 3,6 milhões (9ª do Brasil). É a 3ª em proporção de favelizados (34,9%) e a capital com maior percentual de população negra e parda (83%).
Terra do Pelourinho (Patrimônio Mundial da Unesco), do Elevador Lacerda, da Igreja do Nosso Senhor do Bonfim; das ações sociais da Irmã Dulce (primeira santa brasileira) e de seu santuário; do Farol da Barra e do Mercado Modelo. Terra do Olodum; do Ilê-Aiyê (primeiro bloco afro do Brasil, que preserva costumes sociais e culturais da mãe África), do Carnaval, do acarajé, da quiabada; da moqueca; do xinxim de galinha; do vatapá; da cocada e da castanha de caju; do dendê, das frutas saborosas e das fitinhas. Terra por onde desfilam muitas pessoas com roupas típicas e coloridas. Quarta cidade mais visitada por turistas no Brasil (depois do Rio de Janeiro, São Paulo e Foz do Iguaçu), Salvador encanta com seus conjuntos arquitetônicos, urbanísticos e paisagísticos, suas igrejas e centenas de bens tombados. É uma mistura de etnias afrodescendentes (bantos, iorubás, nagôs, hauçás e jejes), vindas principalmente do porto de Benin e de Angola. É o centro da cultura afro-brasileira. Terra de Caymmi, Gilberto Gil, Raul Seixas, Gal Costa, Simone, Lázaro Ramos, Wagner Moura, Daniela Mercury e Carlinhos Brown. Fonte de inspiração para Gregório de Matos, Castro Alves, Milton Santos, Caetano Veloso, Banda Mel, João Gilberto, Toquinho e Vinícius de Moraes.
Cidade de morros, escarpas e vales profundos, como se fosse uma colcha de retalhos. Cidade de contrastes socioespaciais, com favelas enormes e prédios luxuosíssimos. Lagoas, praias, ladeiras, encostas íngremes e aterros do mar conformam a paisagem urbana. É uma capital qualificada como terciária, pouco industrializada, cuja renda da terra urbana constitui um dos principais ativos no processo de acumulação, seguida pelo setor de serviços. Cidade boa para visitar, nem tão boa para morar. Salvador apresenta altos índices de pobreza, desnutrição e de desemprego, com várias áreas de vulnerabilidade social e de risco. É vulnerável às chuvas, que causam deslizamentos e enchentes. Embora tenha um clima ameno e mar de águas mornas, suas praias são poluídas; quem quiser buscar águas limpas deve rumar para o litoral norte. A malha urbana se funde com municípios vizinhos (como Camaçari, Candeias, Itaparica e Lauro de Freitas), expandindo-se de forma espontânea e descontrolada, em bairros populares desprovidos de infraestrutura urbana adequada.
Salvador é Bahia, Salvador é Brasil. Uma síntese poderosa dos problemas urbanos que colocam os brasileiros em lados opostos da economia, do direito à cidade, à moradia digna, ao saneamento básico e à mobilidade urbana. É também uma síntese das nossas cidades: com lugares belos e outros nem tanto, com infraestrutura de primeira qualidade para uns poucos e a negação desse direito para a maioria. Ao mesmo tempo, a capital baiana mostra a quem a conhece a força e o encanto de uma cidade única no mundo. Por tudo isso, brasileiro, vá conhecer nossa Salvador!

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