Bolas.Desenho em grafite, 1976.
Temas de discussão: Arquitetura e Urbanismo. Planejamento Urbano. Patrimônio Histórico. Futuro das cidades. Pequenas e médias cidades. Architecture and Urban Planning. Heritage. The future of the cities.
25 junho 2009
22 junho 2009
Morar em apartamento
Morar em apartamentos é o que a grande parcela da população das cidades maiores faz, pois é mais acessível aos bolsos e oferece maior segurança. Entretanto esse modo de vida é um destino cheio de contratempos para muita gente. A convivência entre moradores e com os defeitos nas construções exige paciência. Significa enfrentar problemas quase todo o tempo, mas é principalmente durante a noite, que eles se ampliam, quando o sono é perturbado ou só chega com um exercício de abstração, o que nem sempre é eficaz.
Consegue-se fazer com que os apartamentos fiquem cada vez menores. Os tetos cada vez mais próximos ao chão, as janelas cada vez menores. Salas se conjugam às cozinhas, já conjugadas às áreas de serviço. No mesmo ambiente devem conviver sofá e geladeira, fogão, varal de roupas, sons da TV misturados com o exaustor e da máquina de lavar. Agora com os aparelhos de TV com telas planas, vai dar para estreitar as salas em mais uns trinta centímetros. Nos quartos só cabem os móveis em escala reduzida nas propagandas das imobiliárias, ou aqueles lançamentos de seis portas da mesma largura dos que há alguns anos eram de duas. Banheiros praticamente exigem que entremos de frente e saiamos de ré (ou vice-versa). Para cozinhar é melhor comer fora ou comprar comida pronta. Frituras em casa, nem pensar. Lavar roupas é complicado, mais ainda secá-las. Estacionar em vagas de garagem são desafios cotidianos, com marcas nos pilares e nas latarias dos carros.
Sistemas construtivos convencionais e ineficientes, aliados à economia para obter maiores lucros, juntamente com os hábitos individuais incompatíveis com a vida em sociedade são os maiores vilões. Lajes finas facilitam a propagação dos sons dos passos com aqueles malditos saltos acima de nossas cabeças. Em alguns prédios, chegou-se à tentativa de proibição de andar de salto em casa. Paredes estreitas ou feitas com materiais pouco isolantes facilitam a propagação das vozes e tosses dos vizinhos, além dos infernais secadores de cabelos. Os ruídos dos golpes das descargas de bacias sanitárias chegam de várias direções. Em alguns prédios, ouvem-se os ruídos de chuveiros elétricos, elevadores e o funcionamento dos portões de garagem com aqueles sinalizadores irritantes.
Morar em prédios de apartamentos tem outras armadilhas. Quando se compra não se fala que as janelas são abertas para o oeste e aí seremos encharcados para sempre pelo sol da tarde, ou para o sul, de onde só baterá um solzinho pouquíssimos dias no ano. São-nos apresentadas belas perspectivas como se o prédio fosse o único na cidade e se o futuro prédio fosse construído no meio de áreas verdes maravilhosas. Oferecem-nos uma bela vista, até que no estreito lote vizinho outro prédio toma a sua visão e abre dezenas de janelas bem à sua frente e deixa muito mais gente bem pertinho. Quase dá para apertar as mãos. Dá também para ouvir festas, gritos, conversas, roncos, carinhos e brigas, latidos, assistir aos jogos de futebol, alimentar os hábitos dos voyeurs e sentir cheiro de pipoca, bifes e peixe frito. Perdem-se o a vista e a insolação, o sossego e o humor.
A sociedade moderna cada vez mais aglomera as pessoas e força a convivência. Deve haver maior tolerância no convívio, mas a educação e o respeito deverão sempre prevalecer para o bem de todos os moradores, uma vez que essa tendência não vai parar. O que pode e deve ser melhorado é um conjunto de práticas que passa pelo bom planejamento urbano, como a adoção de afastamentos (recuos frontais e laterais) mais adequados para os prédios e limitação da densidade populacional. A arquitetura deve ser utilizada de forma a garantir adequadas ventilação e insolação, a otimizar espaços sem exigir sacrifícios ergonômicos (considerando que as pessoas não estão diminuindo de tamanho, muito pelo contrário: estão mais altas e mais gordas) e a utilizar materiais isolantes (acústicos e térmicos) mais econômicos e eficazes.
04 junho 2009
O exemplo de Seul
Quando vemos o que foi feito em Seul, capital da Coréia do Sul, há cerca de quatro anos, podemos acreditar que às vezes a capacidade do ser humano ultrapassa a de apenas destruir o ambiente ou de construir monstruosidades de concreto e asfalto. A demolição de um gigantesco viaduto resgatou o leito de um rio e propiciou a criação de um dos mais belos parques lineares urbanos do mundo, frequentável durante o dia e à noite.
Seul, com mais de dez milhões de habitantes, é uma das maiores cidades do mundo. Destaca-se nessa metrópole uma radical e revolucionária obra de revitalização urbana. Construída por cima de um rio poluído, uma antiga via expressa elevada com seis pistas, onde transitavam mais de 160 mil carros por dia, promoveu a deterioração de uma grande área urbana. O Prefeito Lee Myung Bak liderou o projeto para demolir a autopista e recuperar o ribeirão, criando um parque linear com 400 hectares, de 5.800 metros de comprimento por cerca de 80 metros de largura. Abriu-se passagem novamente ao leito natural do ribeirão com suas águas devidamente tratadas e purificadas. Após uma transformação surpreendente, foi entregue à população um espaço de alta qualidade, um bucólico parque urbano que trouxe para sua vizinhança uma série de atrativos como locais de trabalho, lojas, restaurantes e cafés. À noite, a população tem um parque intensamente iluminado e seguro, e pode passear por calçadas, ao lado de anfiteatros, jardins, cascatas e esculturas. Pode-se atravessar o ribeirão por pontes ao nível das ruas laterais ou por caminhos de pedras quase ao nível da água corrente. Muitas pessoas sentam-se às margens para contemplar as águas límpidas.
O prefeito, eleito em 2002, enfrentou forte oposição dos residentes e das pessoas preocupadas com os custos. Mesmo assim, em 2003, iniciou a demolição do elevado e a limpeza do ribeirão Cheonggyecheon. Esse ambicioso projeto ecológico custou cerca de U$350 milhões para reabrir o curso d’água, 44 anos depois de encoberto pelo concreto do desenvolvimento urbano caótico e insustentável, voltado para o automóvel. O carro particular cedeu lugar para o transporte coletivo (que teve projetos de melhoria implementados) e para as pessoas que agora convivem com um cenário inteiramente amistoso e saudável. Os efeitos ambientais da obra foram notáveis, pois um rio possui efeito climatizador natural: aumenta a ventilação e abaixa a temperatura. Descobriu-se que a temperatura nas proximidades do parque caiu em média 3,6 graus Celsius.
O projeto de revitalização urbana em Seul é um exemplo das inúmeras possibilidades do que tecnologia e vontade política são capazes de gerar benefícios para a população e o ambiente. Não custa nada fazer mais um exercício de utopia para Viçosa, que tem seu ribeirão sujo e suas margens invadidas. Viçosa não tem milhões de dólares, mas também não tem autopistas, nem milhões de habitantes. Para termos um parque linear ao longo do São Bartolomeu não é preciso demolir elevados, apenas a mesmice.
Seul, com mais de dez milhões de habitantes, é uma das maiores cidades do mundo. Destaca-se nessa metrópole uma radical e revolucionária obra de revitalização urbana. Construída por cima de um rio poluído, uma antiga via expressa elevada com seis pistas, onde transitavam mais de 160 mil carros por dia, promoveu a deterioração de uma grande área urbana. O Prefeito Lee Myung Bak liderou o projeto para demolir a autopista e recuperar o ribeirão, criando um parque linear com 400 hectares, de 5.800 metros de comprimento por cerca de 80 metros de largura. Abriu-se passagem novamente ao leito natural do ribeirão com suas águas devidamente tratadas e purificadas. Após uma transformação surpreendente, foi entregue à população um espaço de alta qualidade, um bucólico parque urbano que trouxe para sua vizinhança uma série de atrativos como locais de trabalho, lojas, restaurantes e cafés. À noite, a população tem um parque intensamente iluminado e seguro, e pode passear por calçadas, ao lado de anfiteatros, jardins, cascatas e esculturas. Pode-se atravessar o ribeirão por pontes ao nível das ruas laterais ou por caminhos de pedras quase ao nível da água corrente. Muitas pessoas sentam-se às margens para contemplar as águas límpidas.
O prefeito, eleito em 2002, enfrentou forte oposição dos residentes e das pessoas preocupadas com os custos. Mesmo assim, em 2003, iniciou a demolição do elevado e a limpeza do ribeirão Cheonggyecheon. Esse ambicioso projeto ecológico custou cerca de U$350 milhões para reabrir o curso d’água, 44 anos depois de encoberto pelo concreto do desenvolvimento urbano caótico e insustentável, voltado para o automóvel. O carro particular cedeu lugar para o transporte coletivo (que teve projetos de melhoria implementados) e para as pessoas que agora convivem com um cenário inteiramente amistoso e saudável. Os efeitos ambientais da obra foram notáveis, pois um rio possui efeito climatizador natural: aumenta a ventilação e abaixa a temperatura. Descobriu-se que a temperatura nas proximidades do parque caiu em média 3,6 graus Celsius.
O projeto de revitalização urbana em Seul é um exemplo das inúmeras possibilidades do que tecnologia e vontade política são capazes de gerar benefícios para a população e o ambiente. Não custa nada fazer mais um exercício de utopia para Viçosa, que tem seu ribeirão sujo e suas margens invadidas. Viçosa não tem milhões de dólares, mas também não tem autopistas, nem milhões de habitantes. Para termos um parque linear ao longo do São Bartolomeu não é preciso demolir elevados, apenas a mesmice.
01 junho 2009
Ética e custo de projeto arquitetônico
A redução dos valores cobrados pelo projeto arquitetônico tem criado uma série de problemas. A competição coloca profissionais em conflito e provoca uma série de constrangimentos, quando temos que explicar ao ex-futuro-cliente porque cobramos a mais que outros. Na prática, o aviltamento dos valores puxa a qualidade da arquitetura para baixo. Há arquitetos e urbanistas cobrando 1/3 do valor de alguns escritórios, que há anos mantem os mesmos e já baixos valores. Projetos são feitos sem detalhamento, sem o necessário amadurecimento e que serão executados sem sem que sejam acompanhados. Há arquitetos e urbanistas que também têm o titulo de engenheiro civil e sequer cobram pelo projeto arquitetônico. Ou seja, o projeto arquitetônico, sai de graça quando faz parte do pacote com o projetos estrutural e complementares. Ganha-se mais com as comissões da discutível reserva técnica, oriunda da indicação de materiais de acabamento. Tudo isso contribui para a desvalorização da profissão, que além dos profissionais antiéticos, disputa seu mercado de trabalho com engenheiros civis, decoradores, agrimensores, designers ou técnicos em edificação. Cada um desses profissionais deveriam atuar dentro de suas atribuições.
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