07 setembro 2009

Pacientes de banco

Seria chover no molhado falar das vergonhosas filas na grande maioria das agências bancárias das nossas cidades? As filas, além de nunca terem desaparecido, insistem em ficar cada vez maiores, apesar de leis que tentaram definir um tempo máximo de permanência nas filas; dos casos recentes na Bahia de tentar fazer cumprir a lei. Esse símbolo do descaso com o cidadão persiste apesar de todos os incríveis e mirabolantes avanços tecnológicos e informáticos; apesar do enorme movimento absorvido pelos caixas automáticos. Enquanto os lucros bancários chegam a cifras astronômicas e cobram-se tarifas para todos os tipos de serviços, é também imensurável o sofrimento com que cada um chamado “cliente” é obrigado a passar, sempre que precisa de algum atendimento específico que os caixas eletrônicos não resolvem. Um cálculo de quantas horas de trabalho envolvida nessa esperas revelaria um desperdício assombroso e injustificável. Há empresas que precisam de funcionários só para passarem horas e horas nos bancos. Sem contar as horas de lazer perdidas, os gastos com remédios para tirar as dores provocadas pela postura ereta demasiadamente exigida e pelo mal-estar das inevitáveis dores de cabeça.

O que quase sempre vemos nas agências bancárias é uma multidão de pessoas emboladas em intermináveis filas serpenteantes. Com a intenção de facilitar a vida de idosos, grávidas, mães com crianças no colo e portadores de cuidados especiais, algumas agências separam uma seção só para eles, mas as filas são enormes e os poucos assentos a eles/elas destinados não são suficientes. Ainda mais que esta separação não significa mais funcionários, e sim, menos atendentes para as filas dos clientes “normais”. Resultado: muitas pessoas muito tempo em pé, muito tempo mal acomodadas. Rara é a agência bancária que não obriga aos clientes a se amontoarem em salões muito mal ventilados, sem qualquer atrativo que amenize as horas que são obrigados a permanecer nestes ambientes quase desumanos. Nas agências, com sua inadequada arquitetura, exala-se suor, produz-se incômodo barulho e aflora-se facilmente o stress e o mau humor, com absoluta razão para o “cliente”. O desrespeito começa com o número insuficiente de funcionários, que certamente devem sofrer conseqüências pelo inadequado ambiente de trabalho. Provavelmente ganham salários não condizentes e são os primeiros a lidarem com as constantes manifestações de desagrado.

Os bilionários bancos, dentre eles alguns públicos, deveriam reconhecer esta vergonha e tomar providências para sanar os péssimos serviços prestados, e não apenas abrindo agências “vip” para os melhores correntistas (mais ricos que não têm tempo a perder e que podem quando quiserem mudar para outro banco) ou aplicando fortunas na mídia, com propagandas bonitinhas, “inteligentes”, falando de respeito, atenção, um futuro melhor, passando uma imagem de que é bom, que é ótimo ser seu cliente. Na realidade, os milhões de correntistas e usuários que alimentam a maior riqueza deste país são tratados de forma muito aquém do que merecem. Pagam caras tarifas e recebem de volta um tratamento de terceira categoria. É inadequado chamar estes cidadãos de clientes, pois são, no máximo fregueses. Talvez, pensando bem, poderiam muito bem ser chamados de pacientes.

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