03 outubro 2011

ESCRAVOS DO AUTOMÓVEL

Publicado no Jornal Tribuna Livre de 6 de outubro.

O trânsito na cidade de Viçosa ainda está muito ruim. Há uma grande  quantidade de sinais, acredito que uns são desnecessários. Há alguns pontos com problemas, que podem ser facilmente resolvidos com sinalização. Um deles é o da saída da rodoviária. Os motoristas fecham a saída e quase ninguém dá passagem. O sinal da Santa Rita dura uns 10 segundos para quem vem do Balaústre. É pouco tempo para muito carro. Não creio serem necessários os sinais da Travessa Belo Lisboa e da Villa Gianetti. Nos finais de semana à noite, fica uma enorme confusão na Rua Padre Serafim. Há problemas de locais de retorno: para quem segue à Avenida Santa Rita em direção ao Colégio de Viçosa ou para quem sobe a Ladeira dos Operários e precisa virar em direção à Rua do Pintinho. Muitos motoristas desrespeitam faixas e os sinais, principalmente fora dos horários de pico e nos finais de semana. Chegamos ao absurdo de, em tempos de combustível caro e um maior cuidado com meio ambiente, passarmos a procurar outros caminhos, não o mais curto, mas os que têm menos semáforos. O pior é que os sinais não são sincronizados, o que aumenta muito o consumo de combustível e irrita o motorista nas longas esperas a cada metro que se avança. Enfim, serão esses os sinais dos tempos?
Os pobres dos pedestres, tachados de mal educados e causadores dos maiores problemas, tiveram suas  vidas tornadas ainda mais difíceis. Foram cercados e precisam andar mais. Há lugares que não há como atravessar, como para quem anda pela Avenida P.H. Rolfs e quer ir para a Praça da Prefeitura. Algumas faixas de pedestres desapareceram.
Os coitados dos ciclistas também não têm vez. Não há um lugar seguro para que eles circulem. Não há ciclovias ou ciclofaixas, apesar de existir a linha do trem, uma excelente opção, negligenciada em seu fantástico potencial também para um futuro VLT. Ciclovias e VLTs são assuntos que inundam revistas, jornais e programas de TV onde urbanistas os defendem para as cidades do mundo. Parece que Viçosa é um mundo à parte e caminha na contramão da sustentabilidade.  Uma cidade onde a preocupação está focada num problema sem solução, pois a cada dia passam a circular mais automóveis e as perigosíssimas motocicletas. Uma cidade onde o transporte coletivo oferece um serviço ruim e muito caro, onde as calçadas são intransitáveis na sua maior parte. 
A escravidão imposta pelo automóvel,  numa cidade que ainda reserva condições de melhorias, é um problema que confirma a afirmação da arquiteta e professora Ermínia Maricato de que as cidades continuam piorando. Temos semáforos, mas os governantes abandonaram o plano diretor, além disso, mudam-se as regras do uso do solo ao sabor dos interesses da elite imobiliária.  Cobramos asfalto, mas não temos um saneamento básico adequado.  Somos inteligentes para exigir melhor pavimentação, mas somos mal educados no trânsito. Somos analfabetos em urbanismo, quando colocamos prioridades materiais particulares e damos as costas ao planejamento urbano participativo, ao direito de cidadania aos mais fracos, como os pedestres, ciclistas e usuários compulsórios do transporte coletivo.

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