Eventualmente ocorre na cidade um evento no qual a população é convidada a discutir o futuro. Isso pode acontecer em uma reunião pública para tratar do orçamento participativo, do plano de saneamento básico, da passagem de um minerioduto na área rural, do plano diretor ou de um evento sobre desenvolvimento socioeconômico da microrregião, como o organizado há poucos dias. São todos acontecimentos bem organizados, meritosos e bem intencionados, cujas consequências poderiam ser marcantes.
Os organizadores desses momentos cívicos trabalham muito com o objetivo de atrair o maior número de pessoas para discutir sobre temas importantes para a sociedade. Dispendem tempo, energia, inteligência e recursos para atrair cidadãos de setores diversos e destes extrair propostas para melhorar a sociedade. Sabem ainda que terão de produzir e cobra; sabem também que lhes serão cobrados os resultados.
Os eventos ocorrem, como regra, com menos pessoas que os organizadores almejaram. Quase sempre alguns setores de pesado impacto na nossa frágil estrutura de urbanização, como o da construção civil e das incorporadoras imobiliárias, não comparecem e desfalcam o que seriam pactos em prol do bem- estar coletivo. Parece que não é assim que a coisa funciona para eles. Não lhes interessam a transparência e o acordo. Os meios de obter seus objetivos e vantagens são comumente outros nada transparentes. Há pessoas que têm sempre outros compromissos mais importantes e reais motivos para não estar presentes, assim como há muitas cujos compromisso mais importantes são apenas ficar em casa, ver novela, futebol ou dormir. Há os que simplesmente desconhecem ou se desinteressam pelo que se passa na cidade.
Para os que insistem em organizar e participar destes fóruns de discussão ainda sobram pilhérias e críticas. Há até aqueles que deturpam essas tentativas rotulando os que se expõem de ligados à ideologias de extrema esquerda, de visionários ou com anacrônicas visões que os rumos deveriam ser tratados apenas pelos nativos. Assim surgem reclamações e sugestões para que aos não nativos não se metam, que seria melhor que fossem embora daqui. Surgem termos como “filosofia de gabinete” ou “ditadura da academia” aplicável, por exemplo, quando pessoas ligadas à UFV se “intrometem mais do que deveriam” nos assuntos da cidade. Os inúmeros problemas e pode-se dizer também inúmeros potenciais são da alçada de todos que aqui vivem, tenham ou não nascido em Viçosa.
Pura tolice, quanta tolice! Não é assim que se mudam as coisas. Há sempre críticas que a UFV não interage como deveria com o município. Há uma certa dose de razão nisso, pois realmente falta construir uma interlocução institucional concreta e visível; falta um fórum para discutir o papel de cada uma dessas entidades no rumo do município. O impacto que a UFV e os milhares de estudantes causam é inegável, mas é a principal razão de ser de Viçosa. Não bastam iniciativas (que são muitas) oriundas de projetos de extensão e pesquisa coordenados por grupos de professores ou de departamentos. O impacto que a UFV gera não é o vilão que muitos consideram, mas sim a oportunidade de construir uma sociedade melhor, só que com a participação de todos os setores que convivem em Viçosa.
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