07 outubro 2013

Fazendo errado



Texto  publicado no Jornal Tribuna Livre de 03 de outubro de 2013.

A ex-pequenina cidade de Rio Paranaíba tem sofrido transformações significativas nos últimos três anos. Antes, com a economia baseada na produção agrícola, passou a ser uma cidade universitária.  Em um vídeo acessível na rede mundial de computadores, feito a partir de um sobrevôo na cidade, nota-se uma extraordinária expansão da área urbana. São os sinais de um progresso que chega de uma forma avassaladora e muitíssimo preocupante. Isso ocorre a partir da implantação de um campus da Universidade Federal de Viçosa no município. A rápida instalação dos cursos, a chegada de professores, funcionários e estudantes provocou uma revolução sem precedentes. A demanda por moradia, transporte, alimentação, comércio, lazer dentre outras necessidades, vem gerando um crescimento desordenado e não há muito tempo para começar a lidar com a situação antes que se torne irreversível. 


Em três anos a área urbana expandiu 79%, uma taxa inigualável em qualquer lugar do mundo. Surgiram vários novos parcelamentos de terra, ultrapassando dois mil novos lotes.  Essa oferta é suficiente para abrigar cada nova família em uma residência isolada nas próximas duas décadas, no mínimo. Isto enriqueceu alguns empreendedores, mas é parte de uma série de problemas graves que iniciarão a ocorrer em um futuro muito próximo. Erguem-se rapidamente prédios e residências unifamiliares em bairros novos, um sinal de riqueza. Ao mesmo tempo, isto ocorre em um meio em que não há regras para controle do uso e ocupação do solo, ou seja, não há critérios, legislação ou fiscalização das construções. Os novos loteamentos estão sendo implantados sem a preocupação com uma malha viária harmonizada, interligada por vias arteriais para permitir o crescimento urbano e um fluxo adequado do trânsito. Os parcelamentos estão sendo feitos sem que seja construído um adequado sistema de drenagem urbana. Neles inexistem ou são insuficientes as áreas verdes ou áreas destinadas ao município, e as que foram projetadas para tal uso, já foram distribuidas como lotes. A pavimentação é precária, sem há meios-fios e arborização.  Isto acarretará problemas sérios, pois as futuras administrações só terão áreas para construir creches, escolas, postos de saúde, etc., se as adquirirem ao preço de mercado, ou seja, serão terrenos caros. Cada proprietário constrói do seu jeito. Casas são erguidas sem afastamentos e chegam a  ocupar 100% do terreno. Teremos, em breve, casas com iluminação natural prejudicadas, mal ventiladas e com privacidade prejudicada. Os bairros e casas ficarão mais quentes pela falta de vegetação. As enchentes serão mais constantes, pois os pisos impermeabilizados jogarão as águas das chuvas imediatamente para as ruas sem a devida estrutura de drenagem.

Embora esteja em uma área desenvolvida do estado, mas não livre do uso indiscriminado de agrotóxicos, Rio Paranaíba é mais uma cidade sem planejamento urbano. A cidade cresce, incha sem se desenvolver como deveria. É certo que qualidade de vida vai piorar, na medida em que a universidade for crescendo. Sem um setor de planejamento urbano, uma legislação urbanística e fiscalização, a prefeitura vai ficar à mercê dos construtores e especuladores imobiliários, com acontece em outras cidades. A expansão descontrolada custará muito caro aos cofres do município, pois, para locais de ocupação rarefeitas será necessário levar a infraestrutura de água e esgotos, manter a pavimentação, varrer as ruas, buscar lixo, levar transporte coletivo e rondas policiais.

Em 2012, foram iniciados trabalhos para a elaboração do plano diretor, mas não avançou e tal fato deveria ser motivo de grande preocupação. Aparentemente não interessa aos políticos locais, e nem parece interessar à própria UFV. Os danos podem rapidamente se tornar irreparáveis, embora o planejamento territorial seja a maneira mais eficaz e econômica de gerir um município.

Um comentário:

  1. Exatamente como acontece aqui em Florestal MG, onde a CEDAF foi transformada em Campus UFV-Florestal.
    Aqui também não se observa a mínima preocupação da UFV com a cidade.

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