Texto escrito há alguns anos, mas legal de reler.
Há alguns anos, quando eu morava em São Luiz, no paupérrimo estado do Maranhão (situação que ainda continua, graças ao Coronel Sir Ney), num dos períodos pré-eleitorais, um candidato ao governo do estado espalhou outdoors nas avenidas com sua foto e os dizeres “Fulano de Tal, 90% honesto”. Essa lembrança faz questionar sobre as questões éticas que passam a ter uma a certa “flexibilidade” ou “relatividade”, nesses períodos que antecedem a escolha daqueles que deveriam ter a competência para legislar ou governar.
Qual é o percentual da nossa honestidade ou da desonestidade? Isso não pode fazer sentido. Os critérios de escolha dos nossos candidatos politiqueiros passam a ser, sutilmente ou não, relacionados ao que podemos ganhar direta ou indiretamente? Isso pode ocorrer de várias formas. Uma delas é grave: começa muito cedo. Por exemplo, um grupo de estudantes do terceiro ano do ensino médio de uma escola em Viçosa pode escolher como seu “homenageado” um político que doa uma grande quantia em dinheiro, para garantir uma mais pomposa festa de formatura (com mais coisas importantes como camarão fritinho, energéticos, cascata de chocolate e badulaques). Há quem queira completar o absurdo escolhendo um outro homenageado que a turma considera “espiritual”. Para a maioria dos estudantes, ou dos pais dos estudantes, isso é uma coisa normal. Mas não é.
Temos de escolher os candidatos honestos e com propostas claras e viáveis. Deixemos os supostos benefícios particulares de lado, bem como as efusivas manifestações de simpatia tão frequentes nessa fase. Escolhamos os candidatos pela sua ética e capacidade, não porque assistimos aos jogos de futebol com eles, porque foram profissionais da saúde atenciosos, porque vendem alimentos gostosos. Não decidamos por aqueles que conseguirão um cargo para um filho, porque são bonitos, porque tocam músicas de que gostamos, pelas excentricidades ou por causa dos seus nomes engraçadinhos. Não podemos eleger candidatos apenas para dar nomes às ruas ou distribuir honrarias. Tem de ser por muito mais.
Um colega meu, quando candidato a vereador,obteve várias ofertas de ajuda para angariar votos, é claro, em troca de uns agrados ou favorezinhos. Como sei que não aceitaria esse tipo de colaboração, deixou de arrebanhar muitos votos.
É incrível também como surge tanto asfalto nessas semanas que antecedem as eleições. O período eleitoral em que estamos é um daqueles em que afloram as mesquinharias e interesses pessoais. É quando prevalece o lado vaidoso, egoísta, oportunista, interesseiro, sujo, imoral, amoral, antiético.
Ficam de lado as nobres, embora essenciais, verdadeiras atribuições dos legisladores e executivos que influenciarão nas nossas vidas e gastarão dinheiro público com nosso apoio. Nossos políticos representam a nossa sociedade. Se ela continuar corrupta, ou corruptível, teremos refletidas nas casas legislativas e prefeituras o que somos. Até quando teremos uma sociedade assim? Temos em nossa cidade problemas sérios a serem enfrentados como o desafio do crescimento urbano, as ameaças ao meio ambiente, a segregação social, a mobilidade urbana, a acessibilidade, a falta de oportunidades de empregos etc. Precisamos de honestidade 100%, juntamente com competência na Câmara e na Prefeitura Municipal.
A propósito, o “Fulano de Tal” não ganhou a eleição, pois perdeu para um adversário menos sincero.